Discussão para ‘Acordo de Paris sobre plástico’ reúne 175 países na França

TOULOUSE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – Delegados de cerca de 175 países estão reunidos na sede da Unesco, em Paris, desde esta segunda-feira (29) até a próxima sexta (2) para negociarem um acordo multilateral sobre a redução de resíduos plásticos no mundo.

O material é baseado em combustíveis fósseis, tem uma cadeia produtiva que envolve algumas das maiores corporações do mundo e é um dos maiores poluidores do planeta, o que gera um desafio de proporções igualmente superlativas.

Para se ter uma ideia, todos os anos é gerada uma quantidade de lixo plástico cujo peso equivale ao de 35 mil torres Eiffel, ou 350 milhões de toneladas, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Essa quantidade deve triplicar até 2060 se o modelo e ritmo de produção e consumo seguirem como hoje. Além disso, de acordo com o Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Ambiente), o plástico contribui de maneira significativa para as mudanças climáticas na Terra.

É essencial, portanto, a discussão do encontro na capital francesa, o segundo desde que a Assembleia Ambiental da ONU, o mais alto órgão internacional sobre essas questões, criou em 2022 um comitê de negociação intergovernamental encarregado de elaborar um texto legalmente vinculante sobre plástico até 2024 -uma espécie de Acordo de Paris sobre plástico.

A cúpula ocorre no momento em que países como a França e o Brasil debatem a exploração de petróleo e o futuro da indústria petroquímica diante das prospecções de empresas desses setores e das demandas crescentes por mudanças na matriz energética dos países rumo a uma economia mais limpa.

Os diferentes contextos nacionais e seus interesses envolvendo as gigantes desses setores apontam para a delicadeza das negociações que terão lugar na capital francesa nos próximos dias.

“Se não fizermos nada, a geração de resíduos plásticos triplicará até 2060. A poluição plástica é, portanto, uma bomba-relógio e um flagelo que já está presente”, disse o presidente da França, Emmanuel Macron, durante a abertura do encontro internacional.

O líder francês pediu o “fim de um modelo globalizado e insustentável que consiste em produzir plástico na China ou em países da OCDE e depois exportá-lo na forma de resíduos para países em desenvolvimento, que são menos equipados com sistemas de tratamento de resíduos”.

O problema, no entanto, apesar de menos visível, é peso-pesado. Hoje, 430 milhões de metros cúbicos de plástico são produzidos anualmente no mundo, segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento).

Boa parte desse plástico é material de vida curta, que logo se torna lixo. E é cada vez maior a parcela dessa produção destinada a um uso único antes do descarte.

Só que o plástico é de difícil degradação e seus resíduos, sejam grandes ou em micropartículas, não respeitam fronteiras e se espalham por mares, oceanos e atmosfera, contaminando água, alimentos e o próprio ar, independente de quem os produziu e onde.

Como resultado, os mares e oceanos têm sido os mais castigados. E estima-se que, no ritmo atual, até 2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos.

Ainda assim, as repercussões mais diretamente relacionadas à saúde humana têm ganhado terreno na tentativa de sensibilizar pessoas que acreditam não ter nada a ver com peixes, pássaros ou tartarugas que morreram sufocadas ao engolirem escovas de dentes descartadas.

“O objetivo principal [do acordo] deve ser reduzir a produção de novos plásticos e banir o mais rápido possível os produtos mais poluentes, como os plásticos de uso único, e aqueles mais perigosos para a saúde”, explicou Macron.

Segundo ele, enquanto hoje 15% do plástico produzido é reciclado em escala global, “100% dos plásticos colocados no mercado amanhã devem ser totalmente recicláveis”, acabando com a poluição plástica até 2040.

Se esse prazo é exequível e se é suficiente para frear os danos causados pelo material ao ambiente, animais e humanos a tempo, não se sabe.

Relatório do Pnuma, divulgado há 15 dias, propõe mudanças sistêmicas que atacam as causas da poluição plástica. Elas se dariam a partir da redução do uso problemático e desnecessário de plástico e de uma transformação do mercado em direção à chamada economia circular, em que resíduos de uma indústria são reciclados ou reaproveitados nela mesma ou em outras indústrias.

De acordo com o documento, isso pode ser alcançado por meio de três mudanças: a reutilização, a reciclagem, e a reorientação e diversificação de materiais.

A reutilização se opõe à chamada “economia do descarte” para instaurar um uso mais racional do plástico. A reciclagem, já conhecida, precisa se tornar um empreendimento mais lucrativo, segundo o relatório. E a reorientação e diversificação aponta para o uso de materiais sustentáveis alternativos aos plásticos, o que exigirá, de acordo com o Pnuma, “uma mudança na demanda do consumidor, nas estruturas regulatórias e nos custos”.

O relatório foi criticado por ambientalistas que viram no enfoque em reciclagem uma concessão à indústria poluidora.

A diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen, declarou à Reuters, em resposta às críticas, que “estamos falando de redesenho, e quando falamos de redesenho, é tudo o que precisamos fazer para usar menos plástico”. “É aí que tudo começa”, disse ela.

FERNANDA MENA / Folhapress

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