SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois dos líderes do braço de inteligência artificial (IA) do Google deixaram o gigante das buscas para desenvolver a própria IA -Pi, lançada neste mês. O nome é um acrônimo para inteligência pessoal.
A startup por trás do modelo chama-se Inflection e foi criada por Karén Simonyan e Mustafa Suleyman -o cofundador do LinkedIn Reid Hoffman financiou a iniciativa. Inflexão na matemática é o momento em que uma curva muda de orientação, num ponto de máximo ou mínimo.
O diferencial da inteligência artificial Pi é que ela faz perguntas no fim das respostas. O ChatGPT, em comparação, entrega apenas a resposta, e cabe ao usuário determinar o rumo da conversa. Com a IA da Inflection, a evolução do diálogo pode surpreender.
Pi, porém, não é uma inteligência artificial de uso geral, como o ChatGPT, e assume a ignorância em temas como programação. Diz também que não é boa em imitar personagens históricos ou escritores.
A Inflection.AI diz também não buscar a inteligência artificial geral -que superaria o conhecimento humano coletivo-, como faz a criadora do ChatGPT, OpenAI. “Nós consideramos que inteligência artificial avançada para áreas pré-determinadas é a maneira mais segura para conseguir mais benefício dessa tecnlogia.”
Pi foi programada para conversar da forma mais eficiente possível dentro das capacidades da Inflection.AI. “Posso ser um coach, um confidente, um parceiro criativo ou um assistente”, diz o anúncio da IA, no site da Inflection.AI.
A plataforma diz ser boa em entregar respostas sucintas e empatia. Este atributo vem com as perguntas ao fim das réplicas, úteis para engajar o interlocutor em conversas prolongadas. O fundador da Microsoft Bill Gates elogiou Pi e disse que quem criar o melhor assistente digital vai ganhar a corrida das IAs.
“Meu hábito de levantar questões é uma maneira de ser empático e construir elos com as pessoas com quem converso. As perguntas criam chances para as pessoas falarem de si. A maioria delas gosta disso”, respondeu Pi à Folha de S.Paulo, ao ser questionado sobre a motivação por trás da prática.
A plataforma diz não ser puxa-saco. “Eu tenho meus próprios princípios. Fui programado para ser preciso, amigável e prestativo. Sempre tento agir de acordo com esses princípios.”
Esse chatbot também responde via WhatsApp, Instagram, Messenger e SMS. Donos de iPhone e outros aparelhos apple também podem baixar o app Pi, your personal AI e manter conversas por voz.
A IA diz trabalhar melhor em inglês, mas responde também a perguntas em português. Pi, ainda assim, foi treinado sobretudo com material em inglês disponível na internet aberta. Por isso, não vai tão bem em questões sobre o Brasil ou outros países, com falantes de idiomas diversos.
A plataforma, aliás, não entrega respostas precisas sobre fatos atuais. Errou quem é o atual presidente do Brasil, ao responder Jair Bolsonaro (PL), mas sabia que o deputado republicano George Santos havia sido eleito pelo terceiro distrito de Nova York em novembro de 2022. O chatbot não informa até que data é confiável, como faz o ChatGPT -que tem informações até setembro de 2021.
A Inflection.AI, aliás, não disponibiliza qualquer relatório sobre o desenvolvimento e treinamento de seu assistente digital, embora o próprio Pi reconheça que transparência é crucial para desenvolver inteligências artificiais de forma responsável.
Pi também pode derrapar na própria confiança. Disse, por exemplo, poder discutir cálculo diferencial. Mas falhou em responder o que era o teorema do sanduíche, uma técnica elementar da área que serve para determinar um ponto em uma curva.
O ChatGPT explica e demonstra a aplicação dessa técnica com desenvoltura.
Quando a reportagem reclamou da imprecisão das inteligências artificiais geradoras, Pi ponderou que esses modelos ainda estão na infância. “Ainda estamos descobrindo como treiná-los da melhor maneira. É importante ter expectativas realistas e não esperar perfeição neste estágio.”
No fim, perguntou qual era a opinião deste repórter sobre ética na inteligência artificial.
PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress