BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A sessão da CPI do MST desta quarta-feira (31) teve discussões entre parlamentares da base aliada do presidente Lula (PT) e da oposição logo nos seus primeiros minutos, críticas do governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), ao movimento sem terra e a determinação para que uma ativista deixasse o plenário após bate-boca.
Antes que Caiado começasse a discursar, as parlamentares do PSOL Sâmia Bomfim (SP) e Talíria Petrone (RJ), além da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), apresentaram uma série de questões de ordem todas foram indeferidas pelo presidente do colegiado, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS).
Em um momento, o deputado Abilio Brunini (PL-MT) se colocou em frente às deputadas do PSOL, que reiteradamente pediram que ele deixasse o local. A enfermeira e ativista Líbia Bellusci interferiu e saiu em defesa das parlamentares.
Zucco, então, a pedido do relator da CPI, Ricardo Salles (PL-SP), pediu que a ativista fosse retirada do plenário o que gerou um bate-boca entre as deputadas, agentes da Polícia Legislativa que estavam no plenário e parlamentares da oposição.
“Tem um monte de gente gritando ali atrás e ninguém faz nada. Um deputado veio para cima de duas deputadas mulheres e vocês não fizeram nada”, disse Sâmia.
Zucco recuou da decisão.
Líbia afirmou à Folha de S.Paulo que defende a reforma agrária e que a considera “fundamental”. Disse ainda que os parlamentares da CPI “tentam calar a voz das mulheres”.
“Não dava para ficar calada quando o tempo inteiro mulheres estão sendo cerceadas de seus direitos. Por que escutam todos os homens e as mulheres não? Isso é machismo, é misoginia.”
Poucos minutos depois, a ativista reagiu a uma fala de Caiado, e Zucco pediu que ela fosse retirada do plenário. Houve novo bate-boca, o deputado Marcon (PT-RS) criticou a atitude de Zucco, e a ativista deixou o local acompanhada dos agentes.
Parlamentares da base aliada criticaram a decisão, dizendo que outras pessoas que estão acompanhando a sessão também reagem a falas e não são retiradas do local.
O convite para que Caiado participasse da sessão partiu de um requerimento do deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) que foi aprovado em sessão da CPI na terça-feira (30). Na justificativa, Gayer afirmou que Caiado fosse convidado para “enriquecer o debate”.
“A presença do governador como convidado na CPI enriquecerá o debate já que no estado de Goiás não conta com nenhuma ocupação do MST”, diz o requerimento.
Caiado é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), ligado à pauta ruralista e foi presidente da UDR (União Democrática Ruralista). Ao longo de sua fala, fez uma série de críticas ao MST, afirmando que é um movimento clandestino, sem transparência e insinuando relação dele com o narcotráfico.
“As invasões foram usadas em muitos estados, primeiro, para ser ali ponto onde nem a polícia podia entrar (…) onde as pessoas que faziam tráfico de droga se resguardavam nesses falsos assentamentos de ocupações que eram feitas para dali levar adiante aquilo que era o tráfico de drogas”, disse.
“Eu não tenho receio de governos de direita nem de governos de direita nem centro. Tenho receio de governos que são ali controlados pelo narcotráfico. Que fique bem claro o que estou dizendo”, afirmou.
Parlamentares como Gleisi e Nilto Tatto (PT-SP) criticaram o governador afirmando que ele fazia ilações e acusações graves e que era preciso apresentar provas sobre isso.
“Alerta de Fake News! Na CPI, governador de Goiás tá extrapolando, acusando MST de crimes, envolvimento com narcotráfico e dizendo que o movimento é clandestino. Mentira!!! TODA atividade do MST é registrada com a prestação de contas devidamente feita aos órgãos públicos. #ToComMST”, escreveu Gleisi nas redes sociais.
Ele também incentivou que sejam aprovados projetos de lei que endurecem a pena para quem invadir terras e que essas pessoas sejam proibidas de serem beneficiadas por políticas sociais do governo.
“Se Deus quiser a gente ainda vai encerrar de vez essa discussão de invasão de terra no Brasil, pelo amor de Deus, não tem mais espaço. Isso aí é o mais retrógrado de tudo o que pode se ter como meta de governo”, disse.
Zucco encerrou a sessão após bate-boca acalorado entre Caiado e o deputado petista Paulão (PT-AL). O petista afirmou que Caiado foi “infeliz” quando “generalizou que o MST é uma organização criminosa” e perguntou sobre pessoas que doaram para a campanha do governador, citando que um deles teria suposta relação com o narcotráfico tema levado ao debate numa pergunta feita pela deputada Sâmia Bomfim mais cedo.
Caiado respondeu pedindo respeito ao petista, afirmando que ele havia “fulanizado” o debate e desviado do foco da CPI “porque não tem argumento”. Caiado também afirmou que Paulão era mentiroso e disse que não é “da laia” do petista.
“Você não tem moral para se dirigir a mim, não entre no CPF da pessoa. Você não me conhece, não sou da sua laia e não participo das suas bandalheiras”, disse.
“Vossa excelência precisa ter mais respeito para comigo. Eu exijo respeito, está bom? Nunca lhe dirigi a vossa excelência de maneira desairosa. Calado que eu estou falando agora. Calado. Calado”, disse.
Deputados levantaram de suas cadeiras e começaram a filmar o bate-boca. Salles, então, sugeriu que Zucco encerrasse a sessão.
VICTORIA AZEVEDO / Folhapress