SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ainda faltavam alguns minutos para o fim da partida, na última segunda-feira (29), quando Pat Riley deixou seu assento no TD Garden. Triunfal, a caminho de sua 19ª final na NBA, sorriu diante dos torcedores do Boston Celtics com a sacramentada vitória do Miami Heat no sétimo e decisivo jogo da Conferência Leste.
O ginásio não é o mesmo em que Riley, como técnico, liderou a mais saborosa conquista do Los Angeles Lakers, campeão no Boston Garden em 1985. Muitas das quadras não são mais as mesmas. O próprio jogo de basquete mudou muito. O que não mudou foi a presença constante do “Poderoso Chefão” na decisão.
O apelido é justificado para aquele que foi de jogador a assistente técnico, de auxiliar a comandante, de treinador a dirigente, sempre com sucesso retumbante. Hoje presidente do Miami, Patrick James Riley, 78, agora faz parte de impressionantes 24,7% das finais da história da liga norte-americana de basquete.
O Denver Nuggets está em sua primeira.
Foram muito distintos os caminhos que levaram os dois times ao confronto derradeiro. Dono da melhor campanha da Conferência Oeste, o Denver Nuggets estabeleceu claro domínio sobre seus adversários. Com desempenho excepcional do pivô e craque Nikola Jokic, 28, despachou sem maiores problemas Minnesota Timberwolves, Phoenix Suns e Los Angeles Lakers.
Já o Miami, sétimo colocado do Leste na fase de classificação, teve de jogar o torneio “play-in”, que define as últimas duas vagas de cada conferência nos “playoffs”. Perdeu o duelo com o Atlanta Hawks. No jogo seguinte, a última chance, estava atrás do Chicago Bulls a pouco mais de três minutos do fim.
Mas venceu e, com o oitavo posto, foi enfrentar o favoritíssimo Milwaukee Bucks, de Giannis Antetokounmpo, melhor campanha da liga. Quando Jimmy Butler acertou um de seus arremessos decisivos no triunfo do Heat por 4 a 1 na série, as câmeras logo buscaram Riley, que sorria, superior, sem gestos bruscos.
Assim tem sido há mais de uma década. O vaidoso Pat -inspiração de Michael Douglas na composição da personagem Gordon Gekko, no filme “Wall Street – Poder e Cobiça”, de 1987- ainda gosta de aparecer, olhar sedutor, cabelo penteado para trás, mas não fala tanto quanto falava. Seu porta-voz é o pupilo Erik Spoelstra, 52, o grande técnico à frente de um finalista no qual poucos apostavam.
Quando Riley resolveu deixar o banco de reservas, em 2008, foi em Spoelstra que apostou. LeBron James, em sua passagem por “South Beach”, chegou a pedir que Erik fosse demitido e Pat voltasse à beira da quadra. Spoelstra ficou e levou LeBron a seus dois primeiros títulos da NBA.
A estabilidade é parte da “Heat Culture”, termo que se adotou para designar o ambiente estabelecido no clube. Campeão como treinador do Miami em 2006, Riley dirigiu Shaquille O’Neal e Dwyane Wade rumo ao troféu. Depois, com a caneta na mão, juntou LeBron e Chris Bosh a Wade para mais duas taças.
Agora, seu grande jogador é Jimmy Butler, 33, um ala que rodou erraticamente pela liga até encontrar-se sob as asas do Poderoso Chefão. Três dos atletas-chaves da equipe não conseguiram entrar na NBA via “draft”, o sistema de recrutamento de calouros que abriga 60 jovens a cada ano.
Mas, de novo, Pat Riley está na final, algo que faz há seis décadas -sete, se incluído seu período como ala-armador universitário de Kentucky.
“Jogadores vêm e vão, grandes jogadores. Quando o LeBron saiu [para retornar ao Cleveland Cavaliers], foi um choque para nós. Não vou nem entrar em certo ou errado, mas foi um choque. De qualquer maneira, nossa cultura se manteve. Você tem anos bons, anos ruins, mas você não muda o jeito de que você faz as coisas”, disse, em 2017.
Entrevistas recentes são basicamente inexistentes. Notório por conflitos com dirigentes quando era um técnico bocudo, Pat tem em Spoelstra um pupilo bem mais comedido. O treinador antes questionado por LeBron James hoje é reconhecido como um dos maiores da história do esporte. E sabe de onde veio.
Por isso, derrotar o Boston Celtics na final do Leste se tornou quase um dever moral. Riley teve batalhas épicas com o time verde em seus tempos de Lakers. Técnico derrotado na decisão de 1984, foi à forra com os triunfos de 1985 e 1987.
“O Pat tem certo sentimento pelo Boston. Então, eu trabalho para que todos tenham certo sentimento em relação ao Boston. É parte do meu trabalho”, sorriu Spoelstra.
Celtics na lona, Riley saiu de seu assento no TD Garden triunfante, terno alinhado. Não precisou dar nenhuma entrevista para que todos soubessem o que sentia com a vitória de um grupo cheio de jogadores modestos sobre seu odiado rival.
“Na maior parte do tempo, ele fica nos bastidores, fora do caminho dos jogadores”, afirmou Dwyane Wade, a The New York Times, já em 2012. “Ele se transformou no chefe que sembre quis ter, o chefe que ele acha que você deve ser: fique nos bastidores, faça seu trabalho”, observou o técnico Jeff Van Gundy, outro de seus pupilos, hoje comentarista da ESPN norte-americana.
Do canto, penteado milimetricamente preciso, o Poderoso Chefão observará mais uma série em que o Miami Heat não é o favorito. E marcará sua presença, pela quase inacreditável 19ª vez, em uma final de NBA.
DENVER NUGGETS X MIAMI HEAT
1º.jun (qui), 21h30 – Nuggets x Heat
4.jun (dom), 21h – Nuggets x Heat
7.jun (qua), 21h30 – Heat x Nuggets
9.jun (sex), 21h30 – Heat x Nuggets
12.jun (seg), 21h30 – Nuggets x Heat*
15.jun (qui), 21h30 – Heat x Nuggets*
18.jun (dom), 21h – Nuggets x Heat*
*se necessário
Transmissão: Band, ESPN, Star+ e NBA League Pass
MARCOS GUEDES / Folhapress