Indígena é baleado após invasão de fazenda na Bahia

SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – A invasão de uma fazenda no extremo sul da Bahia na última terça-feira (30) terminou com um indígena baleado e com um cacique detido sob acusação de furto de veículo.

A fazenda invadida fica nas proximidades Terra Indígena Barra Velha, região no entorno do Parque Monte Pascoal que fica entre os municípios de Itamaraju, Itabela, Porto Seguro e Prado e que abriga cerca de 10 mil pataxós.

Parte do território está com o processo de demarcação em andamento no governo federal, mas indígenas realizam invasões de fazendas da região para pressionar as autoridades, em uma ação chamada de retomada.

A região é marcada por conflitos agrários. Em janeiro, dois indígenas pataxós foram mortos a tiros quando atravessavam uma estrada de terra rumo a uma das fazendas invadidas. Duas semanas depois, um soldado da Polícia Militar da Bahia, que também atuava como segurança privado, foi preso sob suspeita de ter cometido o crime.

A invasão da Fazenda Bom Jesus de Montinho aconteceu por volta das 4h da madrugada de terça-feira. Segundo os indígenas, apenas o gerente da fazenda estava no local e, neste primeiro momento, não houve nenhum tipo de reação.

Os indígenas permaneceram na fazenda invadida quando, por volta de 18h, foram surpreendidos com chegada de um caminhão e em seis camionetes com homens armados.

Um indígena identificado como Carlos Fernando Aquino dos Santos foi atingido por um disparo de arma de fogo nas costas e caiu dentro de um brejo.

O jovem baleado foi levado para o Hospital Municipal de Itamaraju, onde passou por cirurgia. A direção do hospital informou que o quadro de saúde dele é estável. Outro indígena estava desaparecido e foi encontrado nesta quarta-feira (31) com hematomas.

A Polícia Militar da Bahia disse que foi acionada após a invasão da fazenda e que o proprietário contou que seu veículo havia sido roubado pelo grupo que ocupou as terras.

Os policiais encontraram o veículo na posse de Nilson Berg Fonseca, o cacique Bacurau. Ele foi encaminhado para a Delegacia de Eunápolis, onde foi autuado em flagrante pelos crimes de esbulho possessório e apropriação indébita de veículo, segundo a Polícia Civil.

O cacique foi liberado pela polícia depois de passar por audiência de custódia. Os indígenas refutam a acusação de furto do veículo e dizem que vão manter as ações de retomada.

“Não vamos desistir, estamos em uma luta de 523 anos. Estamos resistindo para existir”, afirma Uruba Pataxó, 40, coordenadora regional do Mupoiba (Movimento Unido dos Povos e Organização Indígenas do estado da Bahia).

O conflito no sul da Bahia aconteceu no mesmo dia em que a Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei do marco temporal, em mais uma vitória da bancada ruralista ante a agenda ambiental do governo do presidente Lula (PT).

A tese do marco, defendida pela FPA (Frente Parlamentar Agropecuária), determina que as terras indígenas devem se restringir à área ocupada pelos povos na data da promulgação da Constituição Federal de 1988.

O extremo sul da Bahia registra conflitos agrários entre fazendeiros e indígenas, que defendem a demarcação do território indígena. No início do ano, o Governo da Bahia criou uma força-tarefa para combater crimes comuns envolvendo povos e comunidades tradicionais.

JOÃO PEDRO PITOMBO / Folhapress

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