Campos Neto critica moeda comum entre Brasil e Argentina

Presidente do Banco Central do Brasil Campos Neto (Marcos Oliveira/Agência Senado)
Presidente do Banco Central do Campos Neto em audiência no Senado | Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse ser contra a criação de uma moeda comum entre Brasil e Argentina, proposta defendida publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) logo nos primeiros dias de seu governo.

Durante evento em São Paulo nesta sexta-feira (2), Campos Neto afirmou discordar da adoção de moedas comuns de um modo geral, citando dois episódios em que se falou em uma divisa única entre os dois países sulamericanos.

“Sou muito contra, mas sou só um banqueiro central”, afirmou ao responder uma pergunta sobre o assunto. “Houve dois episódios com tentativas de se criar uma moeda comum no comércio entre o Brasil e a Argentina, e em ambos os casos eu fui contra”, acrescentou.

Segundo o presidente do BC, uma moeda comum carrega o DNA de dois países. Por isso, as taxas de juros e a inflação seriam uma mistura de ambos.

Os comentários do chefe do BC surgem em um momento em que o presidente Lula tem defendido publicamente que países possam realizar transações utilizando suas próprias moedas, e não necessariamente o dólar.

Uma moeda única para países da América do Sul voltou a tona após o presidente Lula (PT) falar sobre o assunto na cúpula realizada nesta semana em Brasília com presidentes de dez países do continente.

O petista defendeu aprofundar a “identidade sul-americana também na área monetária, mediante mecanismo de compensação mais eficiente e a criação de uma unidade de referência comum para o comércio, reduzindo a dependência de moedas extra regionais” em discurso nessa terça (30).

Depois de se posicionar contra uma moeda comum para a região, Campos Neto explicou a sua posição.

“Às vezes, é muito difícil de explicar. Lembro de explicar para um oficial do governo e não podia usar termos muito técnicos, então disse que uma moeda comum é como uma criança. Tem DNA do pai e da mãe. É muito difícil ser muito diferente deles. Isso significa que quando você tem uma moeda resultante de duas outras, a taxa de juros será uma mistura dois dois países, a inflação será uma mistura das duas”, exemplificou.

Ao mesmo tempo, ele defendeu a conversibilidade de moedas -ou seja, a capacidade de uma divisa ser aceita por outros países, sem restrições.

“Uma vez que tivermos mais moedas internacionais, podemos pensar em uma completa conversibilidade”, disse o presidente do BC, acrescentando que está nos planos da instituição fazer do real uma moeda conversível. “Mas faremos isso de forma gradual.”

Campos Neto ainda pontuou que uma moeda que é usada por outros países não é uma “causa”, mas uma “consequência” de outros fatores.

DIGITALIZAÇÃO FINANCEIRA

Durante evento do Valor Capital’s Crypto Workshop, organizado pelo Valor Capital Group, LLC, Campos Neto também afirmou que o Banco Central trabalha para ter um sistema de intermediação financeira mais digital, para elevar a concorrência.

“Estamos tentando atingir um regime de intermediação mais digital. Isso aumenta a competitividade”, disse, destacando também a possibilidade de uso mais eficiente de seguros nas operações.

Na avaliação dele, um dos desafios para se ter um sistema de intermediação mais eficiente é a proteção de dados.

O presidente do BC também tratou do atual estágio de desenvolvimento tecnológico na área financeira. Segundo ele, há um ano havia pessimismo sobre como conectar os diferentes sistemas de cada país.

Neste período, porém, houve um “grande avanço” na tecnologia para conexão, disse Campos Neto. “O que devemos pensar é em conectar os diferentes sistemas que nós temos.”

Ao responder a perguntas de participantes do evento, Campos Neto também defendeu a ideia de que, com a digitalização, não é preciso ter uma moeda comum entre países para se alcançar os efeitos positivos de uma moeda comum.

CONTRATOS

Campos Neto defendeu ainda que o avanço do setor não está ligado apenas ao uso de ferramentas como o Pix, o sistema brasileiro de transferências em tempo real. Para ele, o futuro passa pela utilização de contratos.

Ele deu como exemplo a venda de um automóvel, que hoje pressupõe um tempo maior para o recebimento do pagamento e a transferência do bem.

“E se tivermos um contrato para fazer isso automaticamente?”, questionou. “Para nós, o pagamento digital é uma pequena parte do que estamos tentando fazer.”

Ao tratar do uso da tecnologia em instituições públicas, Campos Neto defendeu que o governo tenha um ministro para a área digital, que pudesse pensar em soluções digitais para a prestação de serviços públicos.

LUCAS MARCHESINI / Folhapress

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