SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vereador Adilson Amadeu (União Brasil) enviou mensagem de WhatsApp à diretoria do Secovi-SP (sindicato das construtoras em São Paulo) em que cobra uma “contrapartida” para ajudar na reeleição do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pela proposta de revisão do Plano Diretor da cidade.
No texto, Amadeu aponta que o substitutivo, elaborado pelo vereador Rodrigo Goulart (PSD), “recepcionou quase a totalidade dos pleitos dessa reconhecida entidade [Secovi]”, o que resultou em “ônus político pesado ao amigo prefeito Ricardo Nunes”. Ele faz parte da base aliada de Nunes e foi membro titular do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental) de março de 2020 a maio de 2023.
O vereador afirma que agiu por iniciativa própria, sem consultar Nunes. Em nota, o prefeito afirma que “o que prevaleceu no projeto enviado pelo Executivo foram os estudos técnicos e as sugestões recebidas nas audiências públicas em que todos os setores foram ouvidos, sem qualquer condicionante.”
O projeto tem sido criticado por urbanistas por abrir brechas para intensificar a verticalização da cidade, permitir a construção de mais vagas de garagem próximas a eixos de transporte coletivo e dar opções para que empreiteiras não paguem em dinheiro a taxa para construir acima do limite estabelecido.
A mensagem de Amadeu foi enviada na quarta-feira (31), dia em que ocorreu a primeira votação da revisão do Plano Diretor. Para ser aprovada, a lei ainda precisará passar por uma segunda apreciação da Câmara.
“Como vereador por cinco mandatos consecutivos, sempre acompanhei os trabalhos do Secovi, e daí cultivei grandes amigos como o Jaime [Flechtman, ex-Cyrela e ex-diretor do Secovi], [Emílio] Kallas [vice-presidente de Incorporação e Terrenos Urbanos do Secovi e sócio-fundador do Grupo Kallas], [Antonio] Setin [membro do conselho consultivo do Secovi e presidente da Setin Incorporadora], entre muitos outros associados, e, desta forma, não posso deixar de me preocupar com as repercussões negativas desta aprovação”, escreveu Amadeu na mensagem enviada a diretores do Secovi, obtida pelo Painel, da Folha de S.Paulo.
“Digo isso pois politicamente se estabeleceu nesta oportunidade um ônus político pesado ao amigo prefeito Ricardo Nunes, e desta forma questiono o que o Secovi fará para ajudar o nosso prefeito em sua reeleição? Desculpe o desabafo, mas uma política sensível desta merece uma contrapartida à altura, e espero sinceramente que o ajude a mostrar à cidade que o prefeito, ao escutar vossa entidade, tomou a melhor escolha para o município bem como para o seu progresso político”, concluiu.
Amadeu diz ao Painel que a contrapartida que ele cobra das construtoras é a de que façam obras de habitação social. Também afirma que a mensagem não é secreta, que a enviou também por e-mail e a publicou no grupo de WhatsApp dos vereadores.
“Na segunda votação, com as alterações, eles deveriam colaborar com o município de alguma forma, não só tirar vantagem. Eleição está muito longe. Agora a população começa a falar ‘para uns tudo, para outros nada’, para quem tem condição monetária, política, tudo anda, para moradia popular, nada. Não vi nada ainda de moradia popular. Quero que seja distribuída moradia popular com recursos de quem não pagou Cepacs”, diz o vereador.
Cepacs são Certificados de Potencial Adicional de Construção, que funcionam como uma espécie de crédito para as construtoras erguerem empreendimentos acima de um limite previsto em lei em determinadas regiões da cidade.
Conforme mostrou o Painel, as incorporadoras fizeram 26 propostas para mudar o Plano Diretor, das quais 15 foram aceitas totalmente e 3, parcialmente.
“Sou vereador há 20 anos, o Secovi sempre funcionou assim. O Secovi se divide [politicamente]: um é Corinthians, o outro é Palmeiras, o outro é São Paulo. Agora, se o prefeito está dando a liberdade de eles participarem, e eles mandam para a Câmara 18 propostas, as 18 foram atendidas, ele realmente está ajudando eles”, completa o vereador.
A previsão é que a votação definitiva da revisão do Plano Diretor, em segundo turno, ocorra na tarde do dia 21 de junho.
GUILHERME SETO / Folhapress