América Latina não pode silenciar sobre Guerra da Ucrânia, diz ministra alemã

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um discurso recheado de menções a Elza Soares e futebol e de elogios ao governo Lula, a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, abordou nessa terça-feira (6) o desejo europeu de que a América Latina se posicione contra a invasão russa da Ucrânia.

Durante evento na FGV (Fundação Getúlio Vargas), em São Paulo, a ministra das Relações Exteriores disse que compreende que a região percebe o conflito de maneira diferente da Europa. “Muitas vezes ouço: onde vocês [Europa] estavam quando precisamos de vocês?”

“Sei que o preço dos produtos no mercado é mais decisivo do que ocorre na Ucrânia, tão distante. Mas na Europa também vivíamos um ambiente de paz que pensávamos ser duradouro. Hoje vemos que incertezas nas cadeiras de suprimento prejudicam o fornecimento de produtos vitais —antibióticos na Alemanha, fertilizantes no Brasil.”

Baerbock, que também cumpriu agenda em Brasília, disse que o endurecimento da crise econômica ao redor do mundo favorece a desinformação e o espraiamento de movimentos populistas e radicais.

“O recente ataque ao coração da democracia brasileira”, disse ela referindo-se ao 8 de Janeiro, “foi uma expressão de vulnerabilidade, um sentimento perigoso que também vemos na Alemanha”.

Mas a guerra, por óbvio, não foi o único ponto do discurso de abertura que a ministra do governo de Olaf Scholz proferiu no evento sobre “Democracia e digitalização”. Baerbock também demonstrou o apetite europeu pelo mercado de energia no Brasil e na América Latina.

Em especial, mencionou o lítio, utilizado na bateria de carros elétricos e já disputado na região por EUA e China. “Vocês estão à frente de nós. Nossos ônibus não são movidos a eletricidade. Se conseguirmos que o lítio seja extraído e processado no Brasil, tornaremos a produção muito menos dependente de gargalos e criaremos empregos.”

Antevendo as críticas, frisou que seu país não pretende capitanear uma nova “corrida do ouro na região”. “Não queremos uma extração que gera riqueza para poucos, mas sim queremos o desenvolvimento da população local, do meio ambiente e de toda a região.”

Sobre o acordo de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul, gestado há pelo menos 20 anos e prometido para ainda este ano pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por alguns líderes europeus, negou que a Europa dê ênfase a uma política protecionista.

“Vamos apostar sempre em abertura. Queremos expandir as cadeias de valor, aprender uns com os outros. É importante que esse acordo seja sustentável, não queremos colocar as empresas sob pressão, mas estabelecer incentivos”, afirmou. “Quando trabalham juntas, democracias podem resolver problemas globais.”

Para arrematar sua fala, a ministra arriscou em português trechos de uma canção de Elza Soares, morta em janeiro de 2022 —”E hoje sou meu próprio patrão, e ninguém me manda”—, numa metáfora para se referir a incentivos ao desenvolvimento latino-americano.

Neste sentido, a diplomata defendeu brevemente que América Latina e África tenham uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, sem detalhar como seria a representação das regiões.

Por mais de uma vez, ela, e também o ministro do Trabalho alemão, Hubertus Heil, que discursou na sequência, disseram que Brasil e Alemanha têm valores não compartilhados por outras nações, numa referência não explícita a países como China e Rússia. “Em especial, a economia de livre mercado e a democracia”, afirmou Heil.

MAYARA PAIXÃO / Folhapress

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