Como fãs de Taylor Swift se apinham em barracas com 40 pessoas em fila em SP

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quem passa pela rua Francisco Matarazzo, em São Paulo, se depara com um amontoado de barracas na calçada do estádio Allianz Parque. À primeira vista, é difícil imaginar a complexidade do microcosmo que funciona ali, mas aquelas moradas obedecem a uma série de regras próprias de convivência e habitação.

Cerca de quinze tendas foram erguidas nos últimos dias em frente à bilheteria do estádio do Palmeiras, na região oeste da capital paulista, por dezenas de fãs da cantora Taylor Swift. Eles se revezam para guardar lugar na fila da venda de ingressos para os shows da cantora, que trará a turnê “The Eras Tour” à capital paulista no fim do ano.

A fila surgiu na sexta-feira passada, quando Taylor confirmou sua vinda ao país nas redes sociais. As vendas de ingressos foram divididas em etapas, com um lote comercializado nesta quarta-feira, outro nesta sexta e, por último, na segunda-feira da semana que vem. Os shows ocorrem nos dias 25 e 26 de novembro.

É uma turnê ambiciosa. Dona de três estatuetas de álbum do ano no Grammy e uma das artistas mais populares das plataformas de streaming, Taylor Swift homenageia a própria carreira neste show, apresentando faixas de todos os seus dez discos ao longo de três horas. Isso, somado ao fato de que ela nunca se apresentou no Brasil, explica a ansiedade dos fãs.

A paulistana Giulia Correia, 23, é uma das frequentadoras da quinta barraca da fila e diz ter bastante tempo livre para ficar ali, já que não trabalha e mora a cerca de dez minutos do Allianz. Mas seus turnos se limitam aos da manhã e da tarde. “Minha mãe não deixa eu dormir aqui. Ela acha que eu vou ser sequestrada. Sou filha única, então ela só tem a mim no mundo.”

Correia decidiu tentar a sorte na fila presencial porque não tem esperança de conseguir os tíquetes online. As vendas virtuais de shows como esse costumam ser mesmo muito disputadas, com pessoas reunindo computadores, celulares e tablets para comprar as entradas. Na Argentina, segundo o jornal Diário Olé, fãs da cantora também estão se revezando em barracas na frente do estádio onde vai ocorrer o show, em novembro.

É difícil mensurar o tamanho da fila no Allianz. Isso porque, ainda que cada barraca só comporte entre duas a quatro pessoas, os fãs se revezam entre dezenas deles. Na primeira tenda, por exemplo, cerca de 40 pessoas se alternam para ocupar a cabana e nunca deixá-la vazia.

Essa é a regra máxima, diz Correia. Segundo ela, caso uma cabana seja vista desocupada, os integrantes da fila se organizam para desmontá-la e levá-la para a última posição.

Ainda que todos estejam ali pelo mesmo objetivo, ela não se considera amiga dos ocupantes das outras barracas. “A gente tenta fazer amizade para ter uma convivência boa e mais segurança. Mas é mais um coleguismo”, diz.

Durante a visita da reportagem ao local, a estudante Geovanna Monteiro, 19, passou pela porta da barraca de Correia perguntando se tinha vaga disponível. Os ocupantes pediram que ela tentasse antes nas últimas tendas da fila.

Deu certo. Monteiro conseguiu uma vaga na décima terceira posição da fila e logo se ajeitou para varar a madrugada. Ela está ali com autorização e apoio da mãe, ainda que desacompanhada dela.

Bebendo uma garrafa do chope de vinho, Christian Santos, da quinta tenda, brinca ao dizer que a missão pela compra dos ingressos é tão complexa quanto a de um emprego CLT. Ele, que está de férias do trabalho fixo de atendente, e é um dos fãs com mais tempo livre para ficar na fila.

Nem todos têm a mesma sorte. A auxiliar administrativa Amanda de Oliveira, 22, cumpria seu turno na primeira barraca depois de ter trabalhado pela manhã. “É um compromisso como qualquer outro”, diz ela, que ostenta uma posição na barraca mais disputada da fila.

A tenda já havia sido erguida em janeiro, quando surgiram os primeiros boatos sobre a vinda de Taylor. Sem notícias oficiais, os fãs se cansaram e foram embora da calçada do estádio em março. Com a volta dos rumores na última quinta-feira, eles montaram de novo a barraca.

Agora, parte do grupo pretende continuar no esquema de revezamento até a data do show para garantir uma vaga nos lugares mais próximos da cantora.

Uma advogada de 22 anos, que prefere não ser identificada, aproveitou que estava de home office na segunda-feira para trabalhar direto da barraca usando a internet móvel do celular. Ela conta que usou o Twitter para procurar um grupo com fãs que estivessem dispostos a acampar para comprar ingressos.

A advogada acertava os últimos detalhes de um documento judicial, cumprindo seu turno acompanhada de uma colega do trabalho que também pede para não ser identificada. Seus chefes não sabem que as duas estão ali.

Uma delas disse que estava se sentindo envergonhada com a própria situação. É um absurdo ficar na rua por causa de ingresso de show, afirmou, dando risada.

GUILHERME LUIS / Folhapress

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