ISTAMBUL, TURQUIA (FOLHAPRESS) – São cerca de 4h30 na praça Taksim e a mesquita ao lado começa a emitir, pelos alto-falantes, a oração islâmica do nascer do sol. Algumas ruas abaixo, torcedores do Manchester City seguem comemorando seu primeiro título da Champions League, ao som de hits antigos, como “La Bamba”.
A festa pelo título foi, literalmente, até o dia raiar nos bares perto de uma das principais praças de Istambul. A Taksim costuma ser cenário de comemorações. Há uma semana, a torcida do Galatasaray celebrou ali a conquista do campeonato nacional. Na década passada, o local foi palco dos protestos da chamada Primavera Árabe.
No entanto, vale ressaltar que o jogo terminou por volta de meia-noite na hora local (18h em Brasília), menos de cinco horas antes de o dia clarear nesta época do ano na Turquia.
Logo após o fim do jogo, torcedores que viram a partida em uma “fan fest” montada na área central correram para pegar o metrô, mas seguiram comemorando nas estações e trens, cantando músicas do City.
Por volta da 1h, ainda havia poucos torcedores na Taksim. Ali foi colocada uma réplica gigante da taça da Champions. Naquele momento, parecia haver mais curiosos e policiais esperando os torcedores do que pessoas com a camisa azul-clara do City. Enquanto isso, alguns grupos comemoravam o título, acendendo sinalizadores e cantando, o que atraía a atenção das câmeras.
Os torcedores que estavam no estádio demoraram a chegar, porque a arena era longe: a cerca de 17 km da área central de Istambul. Na ida, houve bastante trânsito, com cenas de torcedores caminhando na estrada para tentar chegar a tempo.
“Fomos de metrô e não tivemos problemas. Mas teve gente que foi de ônibus e ficou duas horas parado, sem sair do lugar”, conta Martin Duddrige, que veio de Halifax, na Inglaterra, torcer pelo City, junto com amigos. “Gostei tanto da cidade que quero trazer minha mulher da próxima vez.”
Duddrige chegou a um dos bares perto da Taksim por volta das 2h, trazendo algumas das bandeiras que foram distribuídas no estádio. Algumas delas depois acabaram sendo usadas como capas ao longo da noite.
Nos bares, enquanto os ingleses riam, viravam shots de tequila e se abraçavam, os torcedores da Inter de Milão, que perdeu a partida, bebiam sem querer conversar muito. Alguns, com semblante sério e triste, pareciam tentar entender a derrota por 1 a 0, em um gol tomado no segundo tempo. A maioria acabou indo embora dali em pouco tempo.
Já a festa dos fãs do City seguia sem hora para acabar. Havia ali muitos torcedores de cabelos brancos, que pareciam se emocionar ao ouvir músicas de artistas britânicos, como “Wonderwall”, do Oasis, e “Hey Jude”, de Paul McCartney, que virou “Hey City” no coro da pequena multidão que comemorava na rua.
Ambulantes vendiam cachecóis, camisas e sinalizadores, na base da pechincha. Após minutos de negativa, um sinalizador que custava inicialmente oito euros poderia sair por dois euros (cerca de R$ 10).
A noite de Istambul, no entanto, tem seus riscos. Em dado momento, um rapaz começou a conversar com um desconhecido que estava ao seu lado. Parecia um flerte, mas com um gesto rápido ele tirou o celular do bolso do outro. Segundos depois, ao dar falta, a vítima foi atrás dele e recuperou o aparelho.
RAFAEL BALAGO / Folhapress