Que 12 de junho é Dia dos Namorados e das Namoradas nós já sabemos! Fizemos até uma playlist para celebrar a data, afinal, nada melhor do que músicas para falar de amor. Agora, vocês sabem as histórias por trás dos clássicos que embalam as nossas histórias de amor?
Vamos contar algumas delas nesta matéria especial!
1- Como é Grande o Meu Amor Por Você – Roberto Carlos
Um dos maiores hinos brasileiros no que diz respeito a declarar amor, o clássico Como É Grande o Meu Amor Por Você foi composto pelo Rei Roberto Carlos para a sua primeira esposa, Cleonice Rossi, a Nice.
O ano era 1966 e Roberto tinha conhecido Nice na casa do pai da moça, o jornalista Edmundo Rossi, amigo do cantor. Depois de algum tempo frequentando a casa do amigo, Roberto e Nice se apaixonaram e começaram a namorar.
O curioso é que Nice não era uma grande fã de Roberto, e só gostava de uma canção do repertório do Rei: Não Quero Ver Você Triste, parceria com o Tremendão, Erasmo Carlos, lançada em 1965, e que Roberto tinha feito para uma ex-namorada, Magda Fonseca.
Uma canção para Nice
Então, Roberto Carlos resolveu fazer uma nova música, para o seu novo momento, para o seu novo amor. Foi assim que escreveu Como É Grande o Meu Amor Por Você, em um quarto de hotel de Recife. A frase forte que dá nome à canção e a letra extremamente romântica ajudaram a conquistar Nice.
Ela e Roberto se casaram em 1968, em uma cerimônia civil na cidade de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia.
Nice havia se separado do seu primeiro marido, e, na época, ainda não havia o divórcio legal no Brasil. Era muito comum, então, que noivos brasileiros que estivessem se casando pela segunda vez, fizessem isso na Bolívia, onde o divórcio já era permitido.
Nice usou um vestido assinado por Clodovil Hernandes, lançando o estilista ao estrelato, ao sair em todas as capas de revista da época. O casal teve dois filhos – Dudu Braga e Luciana – e o cantor assumiu a paternidade de Ana Paula, filha do relacionamento anterior de Nice.
A música foi lançada no álbum Roberto Carlos em Ritmo de Aventura, de 1967, um dos mais importantes álbuns na carreira do artista. Naquele momento, o Rei ainda fazia parte da Jovem Guarda e não havia explorado todo seu lado romântico, mas a canção se tornou uma das mais conhecidas declarações de amor de todos os tempos.
A primeira vez que a canção foi executada na televisão
A base da música foi gravada pela banda Renato & Seus Blue Caps e o famoso solo de flauta da música foi gravado por Jorginho da Flauta. A primeira vez que a canção foi executada na televisão foi na despedida de Roberto Carlos do programa Jovem Guarda, em janeiro de 1968, momento de muita comoção.
Você pode saber mais sobre este período da nossa história no Acervo MPB especial Jovem Guarda.
Este disco contou com vários outros hits da carreira de Roberto, que tocavam simultaneamente nas rádios de todo o Brasil. O álbum fez tanto sucesso, que inspirou um filme de mesmo nome, produzido e dirigido por Roberto Faria e lançado em 1968.
Nice e Roberto ficaram juntos até 1979 e a musa inspiradora de Como É Grande o Meu Amor Por Você faleceu precocemente, em 1990, aos 49 anos, por conta de um câncer de mama. Em sua missa de sétimo dia, todos os presentes entoaram a canção para homenageá-la.
2 – Preciso Dizer Que Te Amo – Cazuza, Dé e Bebel Gilberto
Preciso Dizer Que Te Amo é uma das mais belas canções de amor já compostas. E, como diz um dos responsáveis pela composição, Dé Palmeira, é uma música sobre um desencontro amoroso: é uma declaração de amor para alguém que está apaixonado por outra pessoa.
Mas não importa. Quem canta, precisa dizer que ama, mesmo não sendo correspondido. Mesmo esse amor não se concretizando.
O apaixonado até tem esperança: “lembrando em cada riso teu qualquer bandeira” e fica até ansioso esperando ser correspondido: “fechando e abrindo a geladeira a noite inteira”. Quem nunca, né?
A parceria de Dé, Bebel e Cazuza
O clássico foi composto por Dé, na época baixista da banda Barão Vermelho, em parceria com Cazuza e Bebel Gilberto. Cazuza tinha acabado de sair do Barão Vermelho, no auge da banda, após uma apresentação histórica no Rock in Rio de 1985, primeira edição do festival.
Ele e Bebel eram muito amigos desde a adolescência, tinham crescido na mesma rua e eram ambos filhos únicos. Ela, filha de dois dos maiores nomes da música popular brasileira: João Gilberto e Miúcha. Ele, filho de Lucinha Araújo e de João Araújo, dono da gravadora Som Livre. Por incrível que pareça, quando Cazuza deixou o Barão Vermelho, ele e Dé se aproximaram ainda mais.
Então, a composição dessa música nasceu de forma muito espontânea e orgânica, com um fluxo de pensamento contínuo, em uma das várias viagens que Dé, Bebel e Cazuza faziam para a casa da família de Cazuza em Petrópolis, na serra do Rio de Janeiro.
Bebel e Dé tinham apenas 20 anos e 21 anos, respectivamente, e eram namorados. Cazuza tinha 28.
Te ganhar ou perder sem engano
Dé começou a tocar dois acordes que ele tinha pensado para uma letra que Cazuza tinha mandado para ele, mas que ele só tinha esse início mesmo.
E o Dé conta que foi uma coisa quase que paranormal: o Cazuza começou a cantar a letra já com uma melodia, de repente ele pediu para Bebel improvisar uma parte melodiosa na cabeça dela – que é aquele comecinho que ela entra cantando – e ela logo emendou mais uma parte da letra.
Dé conta que tem a sensação de que a música nem é dele, de tão fácil que saiu. E Bebel Gilberto diz que a canção é a melhor que ela já compôs, que nasceu como um parto natural de uma criança.
Ambos lembram que a frase que tinha levado Dé a sentir certa dificuldade de compor a melodia da canção anteriormente era: “É que eu preciso dizer que te amo / Desinstalar esse osso da minha garganta”, que Cazuza queria usar, influenciado por uma leitura da Bíblia.
Quando Dé e Bebel disseram que essa frase não encaixava, ele falou: “Por que vocês não me disseram isso antes?”. Subiu ao seu quarto e voltou em poucos minutos com a solução:
“É que eu preciso dizer que te amo / Te ganhar ou perder sem engano”.
Logo, Cazuza pegou um gravadorzinho e gravou aquela versão icônica em que ele anuncia que vão começar a gravar uma composição de autoria de Dé, Bebel e Cazuza: “por favor, não façam barulho no ambiente!”, ele diz.
A gravação de Marina Lima
Bebel manteve essa fita guardada por muitos anos e essa versão entrou para uma coletânea chamada Red Hot and Rio, de 1996, que arrecadava fundos para combate do vírus da AIDS em todo o mundo. E o filme Cazuza, o Tempo Não Pára, de 2004, reproduziu a cena do trio gravando a música pela primeira vez, lá em Petrópolis.
Mas a música foi lançada mesmo em uma gravação da Bebel Gilberto, para o seu primeiro álbum, de 1986. No ano seguinte, Marina Lima – cantora já consagrada, de quem Cazuza era muito fã – gravou a canção em seu disco Virgem, fazendo com que a música estourasse nas rádios de todo o Brasil e rendendo à Marina o Prêmio Sharp de Melhor Intérprete e a Dé, Bebel e Cazuza o prêmio de Melhores Compositores.
Marina conta que a ideia dela era que Cazuza dissesse apenas a palavra “tanto” no fim do refrão “É que eu preciso dizer que te amo, tanto!”, mas que – quando levou ele para o estúdio para gravar com ela – Cazuza não conseguia se limitar a cantar só a palavra e queria cantar tudo junto com Marina Lima, fazendo a cantora desistir da participação do amigo na gravação.
Cazuza incluiu a canção em seu show O Tempo Não Para, de 1988, mas ela não entrou para o disco ao vivo, lançado no mesmo ano. Em 2001, 12 anos depois de sua morte, essa versão ao vivo entrou para a coletânea póstuma Preciso Dizer Que Te Amo – Toda a Paixão do Poeta.
3 – Pra Você Guardei o Amor – Nando Reis
Nando Reis gravou a canção Pra Você Guardei o Amor no disco Drês, de 2009, mas a compôs em 2007, quando estava em uma viagem à Roma (por isso a palavra Tevere no meio da canção, que é um importante rio que cruza a cidade, e também a citação dos sinos badalando nas inúmeras igrejas de Roma).
A música foi lançada em dueto com a cantora Ana Cañas, mas – em um primeiro momento – Nando queria gravá-la em três vozes, inspirado pela canção Helplessly Hoping, de Crosby Stills Nash and Young, um supergrupo de folk rock estadunidense, surgido em 1968.
Nando queria que a sua canção tivesse a mesma força emocional, tristeza e beleza que essa música, tanto que as duas canções começam com o mesmo acorde e têm estruturas bem similares.
Na verdade, uma “música muito triste”
A letra teve variações até chegar em sua forma final. Mas o interessante é que Nando Reis diz que não existe nunca uma interpretação correta para uma canção. E que, depois que a canção vai para o mundo, pouco importa o que ele quis dizer, porque música é isso: a força da canção está na transformação, na maneira como cada um a entende e a acolhe.
Isso porque, Pra Você Guardei o Amor é muito tocada em casamentos ou também é usada para trilhas sonoras de partos, mas – na verdade – em essência, ela é uma música muito triste, que Nando Reis compôs para tratar da sua grande dificuldade de se entregar plenamente a um amor. De dar e receber amor. Ele, que escrevia tanto sobre o amor, antes dessa música não sabia muito bem como lidar com ele.
O primeiro verso dela fala sobre isso. Sobre uma solidão que Nando vivia, apesar de estar apaixonado. Sobre uma dificuldade de expressar, de comunicar amor, de mostrar o que sente, como se estivesse em uma prisão:
“Pra você guardei o amor que nunca soube dar / O amor que tive e vi sem me deixar / Sentir sem conseguir provar / Sem entregar / E repartir”.
Ele conta que a música é mais um desejo do que uma realidade. E que quando ele leu a música toda pronta, pensou ser a coisa mais triste que já escreveu. Mas que ele tinha uma esperança de que a pessoa por quem ele estava apaixonado finalmente permitiria a ele usufruir deste amor.
4 – Exagerado – Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni
Exagerado é um dos maiores sucessos da carreira de Cazuza. A canção deu título ao seu primeiro álbum solo, assim que ele decidiu sair do Barão Vermelho, no auge da carreira da banda, em 1985, depois de uma apresentação histórica na primeira edição do Rock in Rio.
Cazuza era coisa demais para dividir o palco. Ele mesmo dizia isso. Ele queria cantar suas canções, queria cantar tudo o que tivesse vontade, sem influências de outros membros da banda. O que pegou todo mundo de surpresa.
Isso gerou – por um tempo – um desentendimento com o seu maior parceiro de composição e seu grande amigo e companheiro de banda, Frejat, mas pouco tempo depois os dois fizeram as pazes.
Outro amigo inseparável de Cazuza é que é o parceiro dele na composição deste – que foi o seu primeiro sucesso em carreira solo: Ezequiel Neves, jornalista, produtor musical e compositor, que ajudou a lançar o Barão Vermelho e esteve com a banda como empresário desde o início da carreira, como a gente conta aqui, no Acervo MPB especial Barão Vermelho.
A intensidade de Cazuza e Ezequiel
Cazuza e Ezequiel compuseram a canção juntos, antes mesmo de Cazuza deixar o Barão. Apesar de a música ser bastante autobiográfica e descrever a intensidade de quem era Cazuza com perfeição (ele passou a ser chamado pelo apelido de Exagerado depois disso), o cantor contava que muitos dos versos tinham sido roubados de Ezequiel, e que muitos tinham sido escritos especialmente para ele. Isso porque os dois eram muito parecidos na intensidade com que levavam a vida, como bem narra o trecho:
“Pra mim é tudo ou nunca mais”.
Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, conta que a influência de Ezequiel Neves foi – ao mesmo tempo – muito boa e muito ruim para o filho: boa intelectualmente, mas ruim no sentido de estar muito em contato com drogas, bebidas e loucuras. Ela também diz que os dois eram tão parecidos, que seus destinos podiam ter sido: “traçados na maternidade”. Mas que ela gosta de pensar que esse trecho da música foi escrito para ela!
A contribuição de Leoni
Bom, feita a letra, Ezequiel procurou Leoni para fazer a melodia, já que quem normalmente fazia as melodias para as letras de Cazuza era o Frejat e ele estava preparando sua saída da banda sem o amigo saber.
A ideia inicial de Cazuza é que a canção fosse um bolero, mas como Leoni – que ainda integrava o Kid Abelha na época – não tinha nenhuma familiaridade com o estilo, resolveu compor um rock’n roll bem marcante. O que deu muito certo!
A música logo virou um grande hit e consolidou de uma vez a carreira de Cazuza, fazendo com que Leoni também passasse a ser mais reconhecido como um grande compositor.
Leoni conta que a música era imensa e ele deu uma reduzida, e depois os dois autores da letra voltaram com alguns trechos. Leoni também conta que ele não percebeu a genialidade de Cazuza quando ele usou o trecho:
“que por você eu largo tudo: carreira, dinheiro, canudo”.
O verso poderia ser algo sobre a sociedade, o status quo, quando a pessoa estuda, se forma e constrói uma carreira, mas o cantor também estava falando do mundo das drogas, da forma como as pessoas usam cocaína.
5 – Amor I Love You – Marisa Monte e Carlinhos Brown
Amor I Love You é aquela típica canção clichê de amor. E era exatamente isso que os autores queriam com o hit.
Lançada por Marisa Monte em 2000, no seu álbum Memórias, Crônicas e Declarações de Amor, Amor I Love You é uma composição da cantora em parceria com Carlinhos Brown e conta com a participação daquele que viria a ser o terceiro Tribalista – Arnaldo Antunes – dois anos depois, quando os três amigos resolveram se juntar para aquele encontro histórico que marcou a vida de todos nós.
Mas, em Amor I Love You os três já estavam causando grande alvoroço. A canção parece ser um clássico hit romântico, com direito a suspiros e declamações poéticas, e cumpriu bem esse papel, embalando romances até os dias atuais:
“Hoje contei pras paredes / Coisas do meu coração…”.
Mas lá no fundo, o que Marisa e Brown queriam era também fazer uma crítica a esta exacerbação do amor romântico, do amor idealizado demais.
Isso se nota em alguns pontos chave: o primeiro já começa no título e no refrão da canção, que usa a expressão em inglês, que a gente ficou tão acostumado a ouvir nas tão famosas comédias românticas que nos ensinaram um monte de clichês e idealizações sobre um amor, que muitas vezes foge da realidade da vida real.
O Primo Basílio
O segundo ponto está justamente no trecho cuidadosamente escolhido para ser recitado de forma primorosa por Arnaldo Antunes no meio da música, extraído do romance O Primo Basílio, do escritor português Eça de Queirós.
O trecho, quando fora de contexto, parece ser uma belíssima e refinada declaração de amor. Mas quando lembramos que ele é uma das cartas que o galanteador Basílio escreve para a sua prima Luísa, com palavras para impressioná-la, manipulá-la, apenas para que ela caia em suas graças e seja mais uma de suas conquistas, de seus troféus, começamos a entender um pouco do que os autores da música propõe.
Luísa era uma romântica convicta, mas mantinha um casamento bastante morno e sem graça com Jorge. Ela acaba traindo o marido para ficar com o primo, achando que este a daria o amor que os romances que ela lia juravam existir. Mas Basílio logo que consegue o que quer, dispensa Luísa.
O clipe
A intenção dos autores da canção de criticar o amor idealizado, concretiza-se com o terceiro ponto: o clipe de Amor I Love You conta a história de um casal de idosos que vive um casamento há anos, mas que – desde a juventude – são na verdade apaixonados por outras pessoas.
Os personagens de Marisa Monte e Arnaldo Antunes vivem inclusive uma paixão tórrida e proibida na juventude, quando o marido dela viaja. As cenas do clipe são bastante baseadas em O Primo Basílio.
Amor I Love You recebeu uma indicação ao Grammy Latino, na categoria Melhor Canção Brasileira, em 2001.
Em 2021, a atriz e cantora Clara Buarque, filha de Carlinhos Brown e neta de Chico Buarque, revelou em suas redes sociais que o pai escreveu Amor I Love You para homenageá-la, quando sua mãe Helena Buarque – filha de Chico e Marieta Severo – estava grávida.