SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Justiça do Vaticano determinou nesta terça-feira (13) a aplicação de multa de quase EUR 30 mil (R$ 157,3 mil) para dois ativistas da causa ambiental italianos por atos de vandalismo em um museu da Santa Sé. Eles ainda terão de cumprir nove meses em liberdade condicional.
Os ativistas se colaram em agosto de 2022 ao pedestal da estátua Grupo de Laocoonte, uma das esculturas de mármore mais famosas e antigas do Vaticano -a obra foi escavada em 1506, em Roma.
Juízes de primeira instância decidiram que eles devem reembolsar o museu em EUR 28 mil ( R$ 146,8 mil) para reparar os danos causados à obra. A esse valor, foi acrescido uma multa de EUR 1,6 mil (R$ 8,4 mil) pelos distúrbios causado na ação. No total, eles terão de pagar EUR 29,6 mil (R$ 155,2 mil). Segundo os magistrados, os danos na base da escultura foram causados por adesivos resistentes e corrosivos.
Em nota, o grupo Ultima Generazione (Última Geração), do qual os ativistas fazem parte, anunciou que vai recorrer. “O Vaticano, uma das últimas monarquias absolutistas do mundo, mostra toda sua hipocrisia com esse veredicto”, disse a organização, que ainda chamou a sentença de “desproporcional e absurda”.
Segundo o grupo, os ativistas tinham o intuito de disseminar valores difundidos pelo próprio papa Francisco. O argentino, que celebrou dez anos de seu pontificado em março, defende a preservação do meio ambiente e enfatizou várias vezes a necessidade de protegê-lo para as gerações futuras.
Na ocasião do protesto, os manifestantes ainda exigiram que o governo italiano aumente os investimentos em energia solar e eólica e criticaram a exploração de gás natural e de minas de carvão na Itália. Eles afixaram uma faixa na base da estátua com as palavras “Sem gás, sem carvão”.
Os ativistas disseram que a estátua Grupo de Laocoonte foi alvo do protesto devido ao seu valor simbólico. Acredita-se que a obra tenha sido esculpida entre 40 a.C. e 30. a.C. Segundo a lenda, Laocoonte foi um personagem que alertou os companheiros troianos para o Cavalo de Troia, enviado como um presente, mas que abrigava guerreiros inimigos no interior. Já o grupo diz que a crise climática é o alerta moderno que está sendo ignorado pelos líderes políticos.
Protestos como o ocorrido em agosto no Vaticano se multiplicaram na Europa nos últimos meses. Na Itália, já foram alvos do Ultima Generazione a fachada do Senado e a fonte da praça de Espanha, em Roma, a estátua do rei Vittorio Emanuele 2º, em frente ao Duomo de Milão, e uma parede externa do Palazzo Vecchio, em Florença, além de museus do Vaticano.
No mês passado, sete ativistas mergulharam na Fontana di Trevi, famoso ponto turístico de Roma, e jogaram carvão vegetal diluído em suas águas para tingi-las de preto. De dentro da fonte, os manifestantes do Ultima Generazione ergueram cartazes nos quais se lia: “não vamos pagar por combustíveis fósseis”. “Nosso país está morrendo”, gritaram.
Em um ato em julho do ano passado, ativistas colaram as próprias mãos no vidro que protege a tela “A Primavera”, de Sandro Botticelli. A obra do artista italiano, concebida há 540 anos e símbolo da arte renascentista, fica em exibição na galeria Uffizi, em Florença.
O governo da conservadora primeira-ministra Giorgia Meloni tenta agir para reprimir esse tipo de intervenção. Em abril, foi anunciado um projeto de lei que prevê multas mais rigorosas, entre EUR 10 mil e EUR 60 mil (R$ 56 mil e R$ 336 mil), para quem destrói, mancha ou desfigura, total ou parcialmente, bens culturais e paisagísticos.
Redação / Folhapress