SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Eleito melhor jogador da NBA nas temporadas 2020/21 e 2021/22, Nikola Jokic esteve na briga para levar novamente o prêmio de “MVP”. Houve, então, acaloradas discussões na mídia dos Estados Unidos, com insinuações de que o sérvio era favorecido por jornalistas na votação por ser branco.
O debate, hoje, parece tolo. Com seu estilo único, o pivô que joga como armador teve atuações espetaculares nos “playoffs” da liga norte-americana de basquete e liderou o Denver Nuggets na conquista de seu primeiro título, confirmado na noite de segunda-feira (12) em vitória por 94 a 89 sobre o Miami Heat.
Jokic, 28, não foi o MVP do ano. Perdeu a disputa para o camaronês Joel Embiid, pivô que, em batalha constante contra problemas físicos, não conseguiu conduzir o Philadelphia 76ers além das semifinais da Conferência Leste. Mas Nikola foi escolhido por unanimidade como o melhor da final, fechada em tranquilo 4 a 1.
“É uma sensação incrível. Há um sentimento bom quando você sabe que fez algo em que ninguém acredita”, afirmou.
O sérvio se mostrou um pesadelo para as defesas enfrentadas pelos Nuggets, que despacharam com relativa facilidade Minnesota Timberwolves (4 a 1), Phoenix Suns (4 a 2) e Los Angeles Lakers (4 a 0). Na decisão, o Miami, dirigido pelo ótimo Erik Spoelstra, também não achou respostas efetivas para seu jogo.
O Joker, como o chamam, é um craque fora dos padrões da NBA, um garoto gordinho que chegou à liga apenas como a 41ª escolha no Draft, o sistema de recrutamento de calouros, em 2014. Sua forma física melhorou bastante desde então, mas ele continua lento em relação à maioria dos adversários e tem impulsão limitada.
Boa sorte na tentativa de pará-lo.
Com marcação individual, o atleta de 2,11 m e 129 kg usa seu corpo robusto para tirar os rivais do caminho e chegar à cesta. Tem um bom tiro de longa distância. Se o marcador sai do garrafão para conter essa arma, ele usa hesitações e ameaças de arremesso para se aproximar do aro e finalizar com ganchos e “floaters” de difícil contestação.
Se a marcação é dupla, a vida dos oponentes parece ser ainda pior. O sérvio já é apontado de maneira quase unânime como o pivô de melhor passe na história do basquete. Com dois em cima dele, há algum companheiro livre, habilmente encontrado.
Na caminhada rumo ao troféu, Jokic teve no mata-mata média de 9,5 assistências por jogo. Foram 30 pontos e 13,5 rebotes por confronto. Com ótima contribuição dos colegas, especialmente Jamal Murray e Aaron Gordon, e boa direção do técnico Michael Malone, levantou um troféu que não dependia de nenhum eleitor.
“O Nikola nos liderou durante todos os playoffs, com o passe em alguns jogos, pontuando em outros”, afirmou o ala Michael Porter Junior. “Foi uma sequência histórica. Não sei como alguém pode dizer que ele não é o maior pivô da história, na verdade. É um dos melhores jogadores de basquetebol de todos os tempos, não me importa o que digam.”
Eram na defesa as maiores dificuldades do sérvio, diante de rivais mais velozes. Seu trabalho contra o jogo de corta-luzes era particularmente problemático. Ele ainda não é exatamente um marcador de elite, porém teve notória evolução nessa parte da quadra, compensando as limitações físicas com inteligência e instinto só no jogo 4 da final, teve sete desvios em passes do Heat.
“Cheguei com 20 anos. Se você quer ser um sucesso, precisa de alguns anos. Precisa ser ruim. Depois, precisa ser bom. Aí, quando é bom, você precisa fracassar. Quando fracassar, você vai entender o que é necessário. Há passos que precisam ser dados, sem atalhos. É uma jornada, e estou feliz por fazer parte dessa jornada”, disse Jokic.
Fora do padrão também no comportamento, ele foge bastante ao estilo falastrão dos superastros da NBA. Se não chega a ser um Tim Duncan que foi pentacampeão no San Antonio Spurs quase sempre calado, sem grandes variações na expressão facial, mantém distância das provocações aos adversários e dos autoelogios.
Estes são frequentes na boca de Joel Embiid, que viu a final de casa. Jokic, sorrindo, quieto, levantou o troféu que mais importava.
MARCOS GUEDES / Folhapress