SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de pressões internacionais no contexto da Guerra da Ucrânia, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, minimizou nesta quarta-feira (14) as perspectivas de entrada da Suécia na Otan, a aliança militar liderada pelos Estados Unidos, na próxima cúpula anual da organização, marcada para julho.
“A Suécia tem suas expectativas, mas isso não significa que vamos atendê-las”, disse Erdogan, numa declaração dúbia. “Para atendermos às expectativas, a Suécia primeiro tem de fazer a sua parte.”
Membro da Otan, Ancara bloqueia há meses a entrada de Estocolmo na aliança devido ao que descreve como “tolerância com extremistas curdos” em seu território. Nesta semana, o governo sueco prometeu ceder a um dos pedidos de Erdogan e extraditar um turco acusado de apoiar o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), grupo armado rotulado como terrorista por países ocidentais.
Segundo o governo sueco, o suposto simpatizante foi condenado a quatro anos de prisão em 2014 por levar uma sacola com maconha. Quando obteve liberdade condicional por bom comportamento, em 2018, viajou à Suécia, mas foi preso após um pedido da Procuradoria turca.
A promessa de extraditá-lo, porém, até aqui não foi suficiente para garantir a entrada de Estocolmo na Otan. Nesta quarta, representantes da Turquia e da Suécia participaram de uma nova rodada de negociações em Ancara sobre a candidatura da nação nórdica à aliança. Em comunicado após a reunião, as partes concordaram em continuar trabalhando nas “etapas concretas” para a adesão sueca.
O governo Erdogan pede dezenas de extradições de cidadãos turcos na Suécia considerados “terroristas” por Ancara devido a supostas ligações com o PKK. Já autoridades suecas dizem que as exigências são impossíveis de serem atendidas, uma vez que os tribunais do país são independentes.
O governo sueco, por outro lado, vem destacando os esforços de cooperação. O homem que será extraditado faz parte do pró-curdo HDP (Partido Democrático dos Povos), sigla acusada por Erdogan de estar ligada ao PKK, o que o HDP nega. Em contrapartida, promotores turcos negaram que o cidadão será investigado sob leis que têm dado ao presidente da Turquia capacidade de prender opositores.
O Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, tornou-se popular entre os curdos após as tratativas de um acordo para pôr fim à luta por autonomia. Em 2015, no entanto, as negociações fracassaram com a retomada do conflito entre o Estado e militantes do PKK.
As diferenças políticas entre a Turquia e a Suécia ficaram mais evidentes no mês passado, com a organização de protestos em Estocolmo a favor dos direitos dos curdos. Descendentes da Pérsia antiga, eles são a maior nação apátrida do mundo, com população entre 30 e 40 milhões de pessoas, distribuídas em partes dos territórios de Irã, Iraque, Síria, Armênia e Turquia. Na ocasião da manifestação, a imagem da bandeira do PKK foi projetada no edifício do Parlamento sueco.
Ao comentar o episódio, Erdogan disse que a manifestação deveria ter sido reprimida. “Qual é o trabalho da polícia lá? […] Eles devem exercer seus direitos. A polícia deve impedir isso [protestos]”, afirmou.
Uma eventual entrada da Suécia encerraria mais de 200 anos de neutralidade militar do país europeu. Junto com a Finlândia, a nação pediu para ingressar na aliança após a Rússia invadir a Ucrânia, em 2022.
A Finlândia se incorporou à aliança em abril segundo Erdogan, o país garantiu a bênção da Turquia após tomar medidas para reprimir grupos vistos por Ancara como terroristas, em geral opositores do presidente.
Erdogan tem relação conflituosa com a Otan, que abriga sua arquirrival histórica Grécia. Único membro do grupo no Oriente Médio, a Turquia apoia Kiev na guerra, mas é aliada próxima e ambígua de Vladimir Putin. “Não queremos repetir erros. Além disso, os países escandinavos são a casa de organizações terroristas. Não é possível sermos a favor”, afirmou o presidente turco à época do pedido dos países nórdicos.
Redação / Folhapress