Fazenda onde estiveram vítimas da febre maculosa recebeu show de Seu Jorge com 10 mil pessoas

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Prefeitura de Campinas afirmou nesta quarta-feira (14) que a Fazenda Santa Margarida, na área rural do município, recebeu um show do cantor Seu Jorge com público de 8.000 a 10 mil pessoas no dia 3 de junho, sete dias após a realização de um evento com feijoada no qual estiveram três pessoas que morreram por febre maculosa e outra vítima que ainda não teve o diagnóstico confirmado.

A gestão municipal avalia fazer uma busca ativa das pessoas que estiveram no show por meio da lista de venda de ingressos, mas há dificuldade por causa da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados).

A informação foi confirmada em entrevista coletiva, concedida após reunião emergencial realizada na manhã desta quarta para definir medidas de enfrentamento ao surto de febre maculosa no município.

Segundo a Andrea von Zuben, diretora do Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) de Campinas, é raro uma pessoa ser infectada e ter febre maculosa.

“Somente 1% dos carrapatos tem a bactéria [Rickettsia rickettsii, que causa a doença]. Ter febre maculosa é ganhar na loteria ao contrário”, disse a von Zuben.

Ela destacou que há um trabalho em conjunto com o governo de São Paulo para sensibilizar as vigilâncias sanitárias, principalmente do entorno de Campinas. O objetivo é orientar profissionais de saúde para que saibam como agir quando um paciente procurar atendimento com sintomas que possam ser de febre maculosa, mas que podem ser facilmente confundidos com outras doenças, como dengue, leptospirose ou meningite.

Segundo a prefeitura, haverá capacitação nos dias 22 e 27 de junho para profissionais da área, além de videoaulas que serão gravadas por médico especialista e distribuídas para as redes pública e privada da cidade.

MORTES

As medidas da prefeitura são tomadas após as mortes de pessoas que estiveram na Feijoada do Rosa, realizada pelo restaurante Seo Rosa, na Fazenda Santa Margarida, no dia 27 de maio.

Nesta terça (13), morreu uma adolescente de 16 anos que estava internada em Campinas com suspeita de febre maculosa e que esteve na fazenda. Ainda na terça, a Secretaria de Estado da Saúde confirmou que a doença provocou a morte do piloto e empresário Douglas Pereira Costa, 42, e de uma mulher de 28 anos.

A primeira morte confirmada foi a da dentista Mariana Gioardano, 36, namorada de Douglas —o casal esteve junto na feijoada da fazenda, que fica em Joaquim Egídio, distrito de Campinas.

A fazenda é considerada o local provável de infecção, de acordo com a prefeitura. O restaurante Seo Rosa, responsável pelo evento na fazenda, afirmou que soube da “fatalidade”, mas que “não está confirmado que pegaram o carrapato no local”.

Na noite desta terça, a organização da feijoada declarou, em nota publicada em uma rede social, “seu profundo pesar, solidarizando-se com as famílias e amigos enlutados”.

De acordo com o comunicado, a Feijoada do Rosa do último mês foi a 22ª edição, sendo que nos últimos dez anos ocorreu na Fazenda Santa Margarida. A festa mais recente reuniu cerca de 3.500 pessoas, estima a organização.

“Até o momento, não se pode descartar que as contaminações tenham eventualmente ocorrido durante essa frequência na Fazenda Santa Margarida, mesmo porque a Vigilância Sanitária local veio à público reforçar que a cidade de Campinas ganha especial expressão como foco da referida doença.”

A Prefeitura de Campinas disse, em nota, que o Devisa (Departamento de Vigilância em Saúde) desencadeou ações de prevenção, informação e mobilização contra a febre maculosa na Fazenda Santa Margarida.

“A fazenda só poderá fazer novos eventos quando apresentar um plano de contingência ambiental e de comunicação”, afirmou a gestão municipal.

Os responsáveis pela fazenda foram notificados ainda acerca da importância da sinalização quanto aos riscos da enfermidade.

Essa informação, acrescentou a prefeitura, é imprescindível para que as pessoas adotem comportamentos seguros ao frequentar esses espaços e também para que, depois de visitá-los, possam facilitar o diagnóstico.

Nos próximos dias, técnicos do Devisa devem efetuar uma pesquisa para verificar como está a infestação de carrapatos no local.

A prefeitura disse ainda que, na semana passada, reforçou as ações de comunicação, informação e mobilização contra a febre maculosa nos parques da cidade.

Outra medida adotada foi alertar as redes de vigilância de saúde nacional e estadual, uma vez que muitas pessoas de outras cidades compareceram ao evento na fazenda.

SINTOMAS E TRATAMENTO

A febre maculosa é uma doença infecciosa causada por carrapatos infectados pela bactéria Rickettsia rickettsii, presente principalmente no carrapato-estrela.

Para que haja a transmissão, o carrapato precisa ficar fixado à pele por pelo menos quatro horas. Não há transmissão de pessoa para pessoa.

Os principais sintomas são febre, dor de cabeça intensa, náuseas e vômitos, diarreia, dor abdominal e muscular, inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés, gangrena nos dedos e orelhas e paralisia dos membros.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, quem mora ou se desloca para áreas de transmissão deve estar atento ao menor sinal desses sintomas e procurar um serviço médico informando que esteve nessas regiões.

Andrea von Zuben, diretora do Devida, ressaltou que febre alta é o principal sintoma da doença. “Por isso é importante que o médico sempre pergunte ou que o paciente relate que esteve em área de vegetação com presença de carrapato ou capivara. Com esse histórico, o tratamento deve ser iniciado imediatamente.”

A enfermidade tem cura, porém o tratamento precisa ser iniciado precocemente com antibiótico adequado.

No interior do estado, ainda segundo a pasta, a doença passou a ser detectada a partir da década de 1980, nas regiões de Campinas, Piracicaba e Assis (a 160 km e a 434 km, respectivamente, da capital paulista), e nas áreas mais periféricas da região metropolitana de São Paulo e no litoral, mas em uma versão mais branda.

Historicamente, há poucos registros da doença na capital e na região metropolitana, por causa da urbanização dessas áreas.

No ano passado inteiro, houve 53 casos, dos quais 37 levaram à morte dos pacientes. Em 2021, foram confirmados 42 óbitos em 76 casos.

FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress

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