Milhares de pessoas homenageiam Berlusconi em funeral na catedral de Milão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com as cores da bandeira da Itália, o caixão de Silvio Berlusconi chegou à Catedral de Milão nesta quarta (14) diante de milhares de pessoas que o aplaudiram —e tantas outras que protestaram. O ex-premiê, morto na segunda, aos 86, vítima de leucemia, também foi celebrado por cânticos de torcedores do Milan, clube de futebol que comandou por 31 anos.

Milhares compareceram ao funeral do empresário, um dos políticos mais conhecidos e controversos da história do país, entre os quais a atual primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, e os vice-premiês Matteo Salvini e Antonio Tajani —número dois do partido de Berlusconi, o Força Itália—, além do presidente Sergio Mattarella, do ex-primeiro-ministro Mario Draghi e de representantes da oposição.

Entre os poucos líderes estrangeiros presentes estavam o emir do Qatar, o xeque Tamim bin Hamad Al-Thani, o presidente iraquiano, Abdel Latif Rachid, e o premiê húngaro, Viktor Orbán. A Rússia, em guerra com a vizinha Ucrânia e em tensão com o Ocidente, não foi convidada, segundo um porta-voz do Kremlin.

Berlusconi era próximo do presidente da Rússia, Vladimir Putin —que, ao saber da morte, lamentou a perda de “uma pessoa querida e um verdadeiro amigo”. No ano passado, o italiano disse ter recebido do colega russo 20 garrafas de vodca de presente de aniversário e chegou a defender a invasão da Ucrânia, dizendo que Putin só queria colocar “pessoas decentes” no comando de Kiev.

“Silvio Berlusconi era um homem e agora encontra Deus”, disse o arcebispo de Milão, Mario Delpini, que conduziu a despedida, da qual participaram cerca de 2.300 pessoas. “Quando um homem é político, busca vencer. Tem simpatizantes e adversários. Alguns o levam ao mais alto, outros não o suportam.”

Do lado de fora da catedral, cerca de 15 mil admiradores de Berlusconi acompanharam a cerimônia em dois telões, segundo a polícia. Sob um sol escaldante, muitos entoavam “Silvio” ou “presidente Berlusconi”. Parte deles trouxe a atmosfera de um estádio de futebol ao se juntar para gritar: “quem não pula é comunista”, termo que Berlusconi costumava usar para desacreditar seus oponentes políticos.

Marta Fascina, 33, parceira de Berlusconi em seus últimos anos, chorou ao lado de Marina, a filha mais velha do empresário. A primogênita de 57 anos é presidente do grupo Fininvest, que controla os negócios da família, o que inclui canais de TV, editora de livros e periódicos, além do clube de futebol Monza.

No final do funeral, os cinco filhos do ex-premiê, de dois casamentos diferentes, acenaram à multidão. “Berlusconi é meu primeiro e último amor político. É um dia muito triste para a Itália”, afirmou Luigi Vecchione, 48, funcionário de uma empresa têxtil de Borgosesia, na região do Piemonte.

Já Gianfranco Diletta, 65, gerente aposentado e fotógrafo apaixonado pelo Milan, apresentou-se como um opositor. “Nunca votei no Berlusconi, que encarnou o populismo moderno na Itália durante os anos 1990 e foi seguidor de uma política econômica ultraliberal com privatizações a qualquer custo. E, até o final, foi amigo de Putin. Foi um erro estratégico que pôs a segurança da Itália em perigo”, disse.

Em toda a Itália, bandeiras foram hasteadas a meio-mastro em edifícios públicos. O funeral com honras de Estado ocorre em um dia de luto nacional, o primeiro devido à morte de um ex-premiê —decisão que estendeu ao velório de Berlusconi o ambiente controverso que o acompanhou durante a vida.

“O funeral de Estado está planejado e é justo, mas o luto nacional por uma pessoa polêmica como Berlusconi me parece inoportuno”, disse Rosy Bindi, do Partido Democrático. A senadora Andrea Crisanti, da mesma sigla de centro-esquerda, também se opôs dia de luto decretado por Meloni. “Ele não teve respeito pelo Estado quando defraudou o fisco”, disse Crisanti, em referência ao caso de fraude fiscal relacionado ao seu império midiático, o Mediaset, maior emissora comercial do país.

Críticos da medida também se manifestaram na praça. “Não estou de luto”, lia-se na camiseta de uma mulher que protestava no meio da tarde, antes de ser retirada por policiais por causa de uma briga com simpatizantes do ex-premiê. Tomaso Montanari, reitor da Universidade para Estrangeiros de Siena, recusou-se a respeitar a ordem, dizendo que, ao hastear bandeiras a meio-mastro para Berlusconi, a instituição “perderia toda a sua credibilidade educacional e moral”.

A ministra da Família, da Natalidade e da Igualdade de Oportunidades, Eugenia Roccella, justificou o luto nacional por se tratar de um político que teve “impacto profundo na história da nação”. “Berlusconi teria sido o primeiro a desejar luto nacional por um adversário de seu calibre”, afirmou.

A jornada de Berlusconi se confunde com a história da Itália dos últimos 30 anos. Ex-premiê em três períodos (1994-95, 2001-06 e 2008-11), ele obteve cinco mandatos na Câmara, dois no Senado, incluindo o atual, e outros dois no Parlamento Europeu. Também revolucionou a televisão italiana a partir da década de 1970 ao trazer agilidade à comunicação de massa, então dominada pela emissora estatal.

No futebol, como dono do Milan, viveu uma das fases mais vitoriosas do clube, que fez várias publicações na segunda-feira, dia da morte de Berlusconi, com vídeos e fotos da trajetória de seu ex-proprietário. “Para sempre parte de nossa história, eternamente no coração e na mente de cada rossonero.” Foram 29 títulos durante os 31 anos com Berlusconi na Presidência do clube.

O ex-primeiro-ministro era também um dos homens mais ricos da península. Segundo a Forbes, a família Berlusconi é a quarta mais rica do país, com patrimônio de US$ 6,9 bilhões (R$ 33,7 bilhões). Os presentes no funeral refletiram a sua notoriedade no mundo dos negócios italiano.

Fedele Confalonieri, atual presidente da Mediaset, foi um dos primeiros a chegar, seguido de nomes como Guido Barilla, o bilionário dono da empresa de macarrão que leva seu nome; Marco Tronchetti Provera, diretor da companhia de pneus Pirelli; e Luigi Ferraris, presidente-executivo da principal companhia ferroviária italiana, a Ferrovie dello Stato.

Sua morte ocorreu após uma série de problemas de saúde. Em abril, ele foi internado com uma infecção pulmonar decorrente da leucemia crônica. Em 2022, outra infecção, urinária, já havia levado Berlusconi ao hospital e, em 2020, ele foi internado por pneumonia, consequência da Covid. Em 2016, foi submetido a uma cirurgia cardíaca na válvula aórtica e, em 1997, um tumor maligno foi extraído da próstata.

Antes de ser revelado que estava com leucemia, exibia fragilidade física, com dificuldade para andar. Berlusconi será cremado, e suas cinzas, mantidas em um mausoléu que ele construiu para si e sua família na sua vila nos arredores de Milão, disse uma fonte próxima à família à agência de notícias Reuters.

Redação / Folhapress

COMPARTILHAR:

Participe do grupo e receba as principais notícias de Campinas e região na palma da sua mão.

Ao entrar você está ciente e de acordo com os termos de uso e privacidade do WhatsApp.

NOTÍCIAS RELACIONADAS