SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Vice-prefeito da capital sueca, Estocolmo, Jan Jönsson, 45, escolheu uma nova maneira de protestar em favor do respeito e contra a discriminação no país nórdico: montou-se de drag queen e foi a um encontro com crianças em uma biblioteca local.
Membro do Partido Liberal, ala hoje minoritária no governo sueco, Jönsson, que em sua foto de campanha aparece de óculos e fisionomia séria, disse que a manifestação era também contra o populismo, em recado aos Democratas Suecos, a ala ultradireitista da política local.
Os ultradireitistas têm feito uma campanha para proibir eventos de leituras em bibliotecas públicas, principalmente no sul do país, feitas por drags. Esse tipo de evento começou em 2017, mas ganhou maior protagonismo em 2022, com as críticas dos Democratas Suecos.
Em maio, durante um debate em uma TV local, por exemplo, o líder do partido, Jimmie Åkesson, disse considerar uma insanidade que o dinheiro dos contribuintes fosse destinado a esse tipo de evento.
Com vestido estampado, peruca de cabelo loiro platinado, batom vermelho e salto alto, o vice-prefeito leu para as crianças fragmentos do livro “Os Irmãos Coração de Leão”, da autora infantil sueca Astrid Lindgren. Publicada no Brasil pela Companhia das Letrinhas, a obra fala sobre seguir suas próprias ideias e as batalhas contra a opressão.
“Histórias não são perigosas para as crianças, assim como as drag queens não o são”, disse o político à agência de notícias AFP. “Mas o populismo e a intolerância, sim, são perigosos para as crianças –e também para os adultos.”
“Quando populistas de direita tentam ditar a cultura e impedir que drag queens leiam história para crianças, eles limitam a liberdade das crianças. Jamais aceitarei opressão e preconceito.”
No Twitter nesta quinta (15), um dia após seu partido divulgar fotos e vídeos de Jönsson se caracterizando, ele disse estar impressionado com as reações positivas recebidas desde que foi lançada o que chamou de uma mensagem sobre o direito à liberdade de expressão sem opressão.
“Todos os partidos democráticos devem continuar a se posicionar contra os vieses autoritários. Ao defender as drag queens, defendemos o direito de todos de se expressarem, sem correrem o risco de serem assediados, ameaçados ou proibidos”, escreveu ele.
Ele disse ainda ter feito de si próprio uma espécie de “tela para artistas drag”. “A Suécia deve ser um país livre”, seguiu o vice-prefeito, que ainda relatou como é trabalhoso o processo de “montação”: “Você precisa usar um espartilho, e apenas o processo da maquiagem levou duas horas”, relatou à Euronews.
Jönsson disse ainda estar preocupado com a possibilidade de o movimento que hoje floresce nos EUA se espraiar pela Suécia. No país, há uma proliferação de leis e projetos de lei, capitaneados por republicanos, para restringir apresentações de drags em público ou onde crianças estejam presentes.
No início deste mês, um juiz distrital disse ser inconstitucional uma lei do Tennessee nesse modelo, por exemplo. A lei havia sido sancionada pelo governador Bill Lee em fevereiro.
O Partido Liberal sueco, do vice-prefeito Jan Jönsson, foi alvo de críticas após aceitar que os Democratas Suecos compusessem o governo aprovado no país em outubro passado. Ainda assim, o partido com discurso anti-imigração de ultradireita não conta com nenhum assento no gabinete de ministros.
Esse foi o preço imposto pelos liberais aos Moderados, partido do hoje premiê Ulf Kristersson, para que aceitassem compor a maioria ao lado dos Democratas Suecos, que têm raízes neonazistas.
Redação / Folhapress