Aniversário de Maria Bethânia: 60 sucessos da Abelha Rainha

Hoje é dia de celebrar uma das maiores vozes que a música popular brasileira já conheceu: a nossa musa – Abelha Rainha da MPBMaria Bethânia completa 77 anos e nós preparamos uma matéria especial para comemorar este dia, junto com uma playlist de respeito, que traz os principais sucessos na voz desta, que é uma das maiores cantoras do Brasil.

Dona de uma das maiores e mais potentes vozes da nossa música, Bethânia – com sua visceralidade e poeticidade nata – também é uma das maiores intérpretes da história do país. Gravou os mais importantes compositores de nossa música, trazendo sempre a sua digital em cada interpretação.

Com mais de 26 milhões de discos vendidos ao longo de quase 60 anos de carreira (são quase 60 álbuns e mais de 15 DVDs lançados), foi eleita, em 2012 – pela revista Rolling Stone Brasil – como a quinta maior voz da música brasileira.

Maria Bethânia foi, também, a primeira mulher a vender mais de 1 milhão de discos no Brasil.

Maria Bethânia é dona de uma das maiores e mais potentes vozes da nossa música | Foto: Jorge Bispo/Perfil de Maria Bethânia no Facebook

O início de tudo

Nascida em Santo Amaro da Purificação, no interior da Bahia, Maria Bethânia é irmã mais nova de Caetano Veloso e filha de Dona Canô e Seu Zezinho.

Foi Caetano – com apenas quatro anos de idade – quem escolheu o nome da irmã, inspirado em uma música do compositor Capiba, que Nelson Gonçalves lançou no mesmo ano em que ela nasceu, 1946, chamada Maria Bethânia.

Sempre apaixonada por música e teatro, Bethânia mudou-se para Salvador em 1960, com a intenção de terminar os estudos, e fez parte da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, passando a frequentar as exposições de artes plásticas, shows musicais e o fervilhante ambiente estudantil.

Em 1963, fez o seu primeiro trabalho profissional com a música. Seu irmão, Caetano Veloso, foi chamado para compor a trilha musical da peça Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, e a convidou para interpretar as faixas que iriam compor a trilha do espetáculo, entre elas, o clássico Na Cadência do Samba, de Ataulfo Alves.

Nesta época, Bethânia e Caetano conheceram outros músicos baianos também iniciantes como Gilberto Gil e Gal Costa.

Os primeiros espetáculos dos baianos

Juntos, Bethânia, Caetano, Gil, Gal e Tom Zé fizeram – em 1964 – o show Nós, Por exemplo, para inaugurar o Teatro Vila Velha, de Salvador; com um repertório de canções da bossa nova, de Dorival Caymmi e de cada um dos compositores do elenco.

O espetáculo foi um marco e influenciou muito do que veio a ser produzido no eixo Rio-São Paulo em seguida.

No mesmo ano, fizeram juntos mais um espetáculo: Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova, que tinha a intenção de inserir o grupo baiano em um plano histórico que passava pelo passado musical da MPB, depois por alguma renovação da bossa nova, chegando em algo que seria a sua continuação, representada por eles mesmos que – já como um prenúncio – consideravam-se descendentes do movimento liderado por Tom Jobim, João Gilberto e Vinícius de Morais mas – ao mesmo tempo – precursores de um novo movimento que viria inovar a música brasileira de uma forma jamais vista: o Tropicalismo

Opinião e o estrelato

Em fevereiro de 1965, Bethânia foi convidada pela cantora e violonista Nara Leão para substituí-la no espetáculo Opinião, em cartaz no Rio de Janeiro, pois a Nara precisou se afastar por problemas vocais.

A então musa da bossa nova tinha conhecido Bethânia no ano anterior, quando visitou a Bahia e assistiu um dos espetáculos em que a baiana atuava.

O show Opinião, com Bethânia, Zé Keti e João do Vale e dirigido por Augusto Boal, tornou-se um grande sucesso na época por conta de suas canções de protesto, que retratavam a problemática social do país em tempos de regime militar, com músicas como:

  • Carcará (de João do Vale e José Cândido);
  • Opinião (de Zé Keti);
  • e Deus e o Diabo na Terra do Sol (de Sérgio Ricardo e Ruy Guerra)

A interpretação poderosa de Bethânia, principalmente na canção Carcará, foi responsável por lançá-la ao estrelato e transformá-la, a partir daí, em uma das maiores cantoras de todos os tempos, reconhecida no Brasil inteiro.

Os primeiros álbuns de Bethânia

Em junho de 1965, a cantora foi contratada pela gravadora RCA, onde gravou o seu primeiro álbum, Maria Bethânia. O disco continha – além de Carcará – canções como:

  • Mora na Filosofia (de Monsueto e Arnaldo Passos);
  • Andaluzia (de João de Barro);
  • Feitio de Oração (de Noel Rosa);
  • e Sol Negro (de Caetano Veloso, que Bethânia cantava em dueto com Gal Costa). 

No mesmo ano, a artista participou dos espetáculos Arena canta Bahia e Tempo de Guerra, ambos dirigidos por Augusto Boal, competiu em festivais de música popular brasileira e apresentou-se em casas de espetáculo de São Paulo e do Rio de Janeiro. 

Em 1967, Bethânia teve sua carreira ainda mais impulsionada, ao lançar seu segundo álbum Edu e Bethânia, em parceria com Edu Lobo, que conta com sucessos que colocaram a baiana definitivamente no rol das grandes cantoras do Brasil, como:

  • Cirandeiro (Edu Lobo e Capinan);
  • Sinherê (Edu Lobo e Gianfrancesco Guarnieri);
  • e Prá Dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto).

A não Tropicalista e o Candomblé

Em 1968, com o intuito de não ficar com o rótulo somente de ”cantora de protesto”, muito lhe conferido por conta da interpretação de Carcará, no show Opinião – três anos antes – Bethânia não aderiu ao movimento  de contracultura Tropicalista ao lado de seus colegas Caetano, Gil, Gal e Tom Zé.

Lançou-se em uma temporada bem-sucedida de pequenos shows e recitais, realizados em boates cariocas e paulistanas, com um repertório mais romântico e resgatando antigos sucessos do cancioneiro brasileiro. 

Dessa fase, lançou o seu primeiro álbum ao vivo Recital na Boite Barroco, com canções como:

  • Carinhoso (de Pixinguinha e João de Barro);
  • Se Todos Fossem Iguais A Você (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes);
  • Marina (de Dorival Caymmi);
  • e Baby (do irmão Caetano Veloso).

No ano seguinte, lançou o álbum Maria Bethânia, que continha canções de diversos compositores da MPB e que marcava pela primeira vez, a sua aproximação com a religião do Candomblé, com canções como:

  • Preconceito (de Antônio Maria e Fernando Lobo);
  • Dois de Fevereiro (de Caymmi);
  • e Onde Andarás (de Caetano e Ferreira Gullar).

Caetano vai e volta do exílio

Em 1970, a cantora lançou Maria Bethânia Ao Vivo, marcando também o fim de sua fase boêmia, com regravações de:

  • Meiga Presença (de Paulo Valdez e Otávio de Moraes);
  • e Nada Além (de Custódio Mesquita e Mário Lago);
  • além de Irene, composta por Caetano para outra irmã dos dois, enquanto o cantor estava no exílio, em Londres, por conta da ditadura militar.

De Londres, Caetano Veloso também mandou a música A Tua Presença Morena, para Bethânia gravar. A música está no disco A Tua Presença, lançado em 1971 pela cantora, junto com outros sucessos como:

  • Jesus Cristo (de Roberto e Erasmo Carlos);
  • Mano Caetano (que Jorge Ben Jor fez para o amigo exilado);
  • e Rosa dos Ventos (de Chico Buarque).

Quando Caetano voltou ao Brasil, em 1972, produziu um disco de sucesso da irmã: Drama – Anjo Exterminado, que funciona como dois atos de uma peça de teatro.

O álbum traz, além das faixas título Anjo Exterminado (Jards Macalé e Waly Salomão) e Drama (Caetano), sucessos como:

  • Esse Cara (Caetano Veloso);
  • Volta Por Cima (Paulo Vanzolini);
  • e Estácio Holly Estácio (Luiz Melodia).

A continuação, Drama – 3º Ato, é gravada a partir de um espetáculo ao vivo da cantora, em que mescla canções e poesias declamadas de forma magistral (uma das maiores qualidades da cantora-atriz-performática, que declama – por exemplo – Fernando Pessoa e Clarice Lispector como ninguém).

Caetano Veloso e Maria Bethânia | Foto: Reprodução/Perfil de Caetano Veloso no Twitter

Discos ao vivo e os Doces Bárbaros

A Cena Muda, de 1974, é outro espetáculo musical e teatral da musa – gravado ao vivo – e que virou disco. Em 1975, Bethânia lançou um álbum ao vivo, ao lado de Chico Buarque e, em 1977, um ao vivo com Caetano.

Em 1976, lançou Pássaro Proibido, que além da canção homônima, composta por ela em parceria com Caetano – uma das raras composições da super intérprete Bethânia – conta com o sucesso Olhos nos Olhos, de Chico.

Também em 1976, Bethânia juntou-se a Caetano, Gil e Gal para o espetáculo idealizado por ela, Doces Bárbaros, com quinze canções novas, compostas exclusivamente para a turnê, e que virou documentário e um álbum considerado uma obra-prima da MPB.

Entre as canções, estão as clássicas:

  • Os Mais Doces Bárbaros e Um Índio (ambas de Caetano);
  • e Esotérico e O Seu Amor (ambas de Gilberto Gil).
Imagem do registro documental sobre os Doces Bárbaros feito por Tom Job Azulay, em 1976. Da esquerda para direita, Gilberto Gil, Maria Bathânia, Caetano veloso e Gal Costa – ícones da MPB | Foto: Reprodução

Mais discos antológicos, mais clássicos eternizados

Ao longo dos próximos anos, Bethânia gravou mais discos de sucesso como Pássaro da Manhã, de 1977, que conta com as clássicas:

  • Tigresa e Gente (ambas de Caetano);
  • Álibi, de 1978, com o sucesso homônimo de Djavan;
  • O Meu Amor (de Chico Buarque);
  • e Sonho Meu (de Dona Ivone Lara).

Esse último, ocupa a posição 79, entre os 100 maiores discos de MPB da história, listados pela revista Rolling Stone Brasil e foi um marco para a história da música brasileira.

Em Mel, de 1979, além da canção homônima (de seu irmão Caetano com Waly Salomão) – que deu à Bethânia o apelido de Abelha Rainha da MPB – tem a clássica Cheiro de Amor (de Duda Mendonça, Jota Moraes, Paulo Sérgio Valle e Ribeiro).

Já no álbum Talismã, de 1980, tem as clássicas:

  • Alguém Me Avisou (de Dona Ivone Lara);
  • e O Lado Quente do Ser (de Marina Lima e Antônio Cícero).

O disco A Beira do Mar, de 1984,  originado do espetáculo A Hora da Estrela – cujo título remete ao famoso livro homônimo de Clarice Lispector – conta com a versão de Sonho Impossível, de Chico Buarque e Ruy Guerra, para The Impossible Dream, do espetáculo Homem de La Mancha, icônica na voz de Bethânia.

Em 1985, o disco Dezembros conta com canções também clássicas na voz de Bethânia como:

  • Gostoso Demais (de Dominguinhos);
  • e Anos Dourados (de Tom Jobim e Vinicius de Moraes).

 Em Maria, de 1988, Bethânia nos traz Tá Combinado (do irmão Caetano Veloso). No ano seguinte, no álbum Memória da Pele, outro imenso sucesso na voz da cantora, também de Caetano: Reconvexo.

25 anos de carreira

Em 1990, Bethânia comemorou 25 anos de carreira com o LP 25 anos, com repertório que evoca a diversidade da cultura brasileira, mescla canções consagradas e pouco conhecidas, entre regravações e inéditas e conta com a participação especial de vários artistas e da bateria da escola de samba Estação Primeira de Mangueira.

Em 1992, lançou um álbum que é uma incursão pela religiosidade, sempre presente na obra da cantora: Olho D’água.

Em 1994, o disco As Canções Que Você Fez Pra Mim – com versão também em espanhol – é um tributo à parceria de Roberto e Erasmo Carlos, com 11 canções da dupla, entre elas:

  • a canção que dá título ao disco;
  • Olha;
  • Costumes;
  • Detalhes;
  • Emoções;
  • e Você Não Sabe.

Também em 1994, a escola de samba Mangueira fez uma homenagem aos Doces Bárbaros – Caetano, Gil, Gal e Bethânia – com o enredo “Atrás Da Verde E Rosa Só Não Vai Quem Já Morreu”, com uma paráfrase do verso de “Atrás Do Trio Elétrico”, de Caetano. Todos desfilaram na avenida.

Uma intérprete de peso

Ao longo dos próximos anos, Bethânia lançou mais inúmeros discos de sucessos, com canções que se consagraram na sua voz, como:

  • Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração) (de Gonzaguinha);
  • Romaria (de Renato Teixeira);
  • Ronda, (de Paulo Vanzolini);
  • É O Amor (de Zezé DiCamargo);
  • Onde Estará o Meu Amor (de Chico César);
  • Luar do Sertão (de João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense);
  • Eu Que Não Sei Quase Nada do Mar (de Ana Carolina e Jorge Vercillo);
  • Canto de Oxum (de Toquinho e Vinicius);
  • Negue (de Adelino Moreira e Enzo Passos);
  • e Tua (de Adriana Calcanhoto, que ganhou o Grammy Latino de Melhor Canção em Língua Portuguesa, em 2010).

Sempre mesclando texto e música, em seus discos e espetáculos, Bethânia faz isso com maestria e uma interpretação potente e envolvente.

A artista também esteve na trilha de diversos filmes e novelas brasileiras e recebeu vários prêmios notáveis da música popular brasileira. Da Universidade da Bahia, recebeu o título de Doutora Honoris Causa, por sua contribuição à música brasileira.

Em 2001, lançou o álbum Maricotinha e, depois, Maricotinha ao Vivo. O primeiro, com inéditas como Depois de Ter Você (de Adriana Calcanhotto) e também clássicas, como Maricotinha (de Dorival Caymmi). O segundo, comemorativo dos trinta e cinco anos de carreira de Bethânia, trouxe regravações dos antigos sucessos e também as inéditas do disco anterior.

Em 2005, foi a vez do álbum Que Falta Você Me Faz, somente com canções de Vinicius de Moraes e parceiros, como:

  • Eu Não Existo Sem Você (Tom Jobim);
  • Tarde em Itapoã (Toquinho);
  • e Samba da Benção (Baden Powell).

Em 2008, a cantora lançou um disco em parceria com a artista cubana Omara Portuondo e as duas fizeram uma turnê juntas pelo Brasil e América Latina. São destaque deste álbum as canções:

  • Só Vendo Que Beleza (de Henricão e Rubens Campos);
  • e Para Cantarle a Mi Amor (de Orlando de la Rosa).

Em 2013, os discos Carta de Amor – Ato I e Ato II, contam com a canção título, que é marca registrada da carreira de Bethânia: Carta de Amor (de Paulo César Pinheiro) e com vários outros sucessos da carreira da cantora.

Em 2018, Bethânia e Zeca Pagodinho se juntaram no disco De Santo Amaro a Xerém e, em 2019, a cantora lançou Mangueira, A Menina dos Meus Olhos, em que saúda a  escola de samba Mangueira, agremiação carioca que reverenciou a artista baiana no Carnaval de 2016 com o enredo campeão Maria Bethânia – A menina dos olhos de Oyá.

O último álbum de inéditas lançado por Bethânia foi Noturno, em 2022.

60 sucessos de Maria Bethânia

Fizemos uma lista com 60 das mais importantes canções eternizadas na voz de Maria Bethânia ao longo dos seus quase 60 anos de carreira.

Elas estão listadas por ordem da data de gravação feita por Maria Bethânia, então, se você seguir a playlist na sequência, fará uma viagem pela vida e pela obra da cantora (aliás, você já escutou o Acervo MPB Maria Bethânia, com a áudio-biografia dessa grande diva da nossa música?).

 

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