PORTO ALEGRE, RS (FOLHAPRESS) – Quando o cronômetro de contagem regressiva do imenso telão instalado no gramado do Beira-Rio se aproximou do zero, os alto-falantes do estádio começaram a tocar versos de “Deu Pra Ti”, uma espécie de hino informal de Porto Alegre. “Quando eu ando, assim, meio down/ vou pra Porto e, bá, tri legal.”
Não que a autoestima do Jota Quest andasse em baixa, mas é correto afirmar que a capital gaúcha, assim como na letra de Kleiton & Kledir, é uma parada segura para energizar a banda mineira e fazê-la se sentir gigante como o apelido do estádio escolhido para gravar o DVD de 25 anos de estrada.
O show “Jota 25 – De Volta ao Novo”, realizado a 12°C na noite de sábado (17), menos de 48 horas depois de o Rio Grande do Sul enfrentar a passagem de um ciclone extratropical, contou com pirotecnia de primeira e transmissão ao vivo de TV, no Multishow, e streaming, no Globoplay.
Antes de “As Dores do Mundo”, primeiro hit da banda, o vocalista Rogério Flausino explicou a escolha da cidade. Atribuiu à extinta rádio Ipanema, de música alternativa, o sucesso na capital gaúcha antes de estourar no restante do Brasil, o que significava, em 1997, encher o célebre Bar Opinião.
Passados 25 anos, o Jota Quest está bem distante da banda alternativa de funk rock que conquistou os gaúchos na década de 1990.
O grupo ganhou hits de pop farofa desavergonhados, como “De Volta ao Planeta” e “Do Seu Lado”, baladas açucaradas como “Fácil” e “Amor Maior”, e grandes canções de formatura como “Dias Melhores”, “Sempre Assim” e “O Sol” –cantada no sábado em parceria com o gaúcho Vitor Kley. Ele também assina a composição da única música inédita do repertório do show, “Numa Boa”.
Banda e público, todavia, amadureceram juntos. Hoje, ambos de cabelos brancos, parecem satisfeitos e confortáveis com o cardápio de discotecagem pop variada que o Jota Quest oferece.
Os integrantes do grupo têm entre 51 e 56 anos. Na pista do Beira-Rio, a idade média era parecida. Os poucos presentes na casa dos 20 anos eram filhos da primeira geração de fãs.
A maior parte do público era de casais acima de 40 anos, que, bem agasalhados, curtiam o show bebendo vinho em vez de cerveja. Cantavam quase todas as 26 músicas do início ao fim, mas dançando discretamente, sem maiores arroubos, gritos ou momentos catárticos.
O casal Daniel Silveira, de 47 anos, e Tânia, de 45, é um bom exemplo. Vieram para rememorar o show do primeiro DVD do grupo, gravado ali em 2006, anterior ao nascimento de Sofia Silveira, de 14 anos, que acompanhava os pais sem saber muito o que fazia ali.
Durante “Dentro de um Abraço” –que rendeu mais uma piscadela da banda ao Rio Grande do Sul, pois é baseada em uma crônica da escritora Martha Medeiros–, a banda acendeu as luzes do estádio para mostrar no telão os casais abraçadinhos. Em outro momento romântico, em “Amor Maior”, caíram sobre a plateia paraquedas em formato de coração com chocolates.
Com o auxílio do telão gigante de LED, o show teve seus momentos à moda Coldplay, com pirotecnia de primeira. Em “De Volta ao Planeta”, um macaco gigante vestido de astronauta dança e parece tentar sair do telão para o palco. O repertório contou ainda com dois covers –“Tempos Modernos”, de Lulu Santos, e “Mania de Você”, homenagem a Rita Lee com a participação de Beto Lee, filho da cantora, na guitarra.
A contabilidade de 25 anos da banda salta os dois anos de pandemia, embora o período de pausa nas apresentações tenha rendido uma das participações especiais do show –a do rapper Rael, em “A Voz do Coração”. Neste período, a formação nunca mudou: Rogério Flausino (vocais), Marco Túlio (guitarra), PJ (baixo), Paulinho Fonseca (bateria) e Márcio Buzelin (teclados).
Aproveitando o clima de cumplicidade com o público, o show teve um momento de terapia de grupo dos integrantes ao telão. “Nós nos amamos e nos odiamos. É como uma estrela de cinco pontas em que cada um puxa para um lado, mas vai sempre para cima”, disse Fonseca.
CAUE FONSECA / Folhapress