SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O volante Du Queiroz se despediu do Corinthians por meio de uma carta publicada no portal “The Players’ Tribune”. Na publicação, o ex-camisa 37 do time alvinegro diz que não consegue parar de chorar.
“Acho que nunca me senti assim antes, dando mó pala nos últimos dias e fazendo coisas para não pensar, ver se consigo parar de chorar. Escuto música, assisto filme, jogo no celular, colo sozinho nos rolês, ando por aí… Mas tá muito difícil, vou te falar. Se for contar o tanto que já chorei deve encher uns 37 baldes daqueles que a gente colocava embaixo das goteiras lá em casa. Tá osso!”, escreveu Du Queiroz.
DESPEDIDA FORA DE CAMPO
Du Queiroz deixa o Corinthians para ir ao Zenit, da Rússia, sem ter se ‘despedido’ dentro de campo. Isso porque, no começo de maio, o volante foi afastado pelo técnico Vanderlei Luxemburgo.
O técnico explicou que tomou a decisão pelo fato do jogador já estar vendido e para evitar qualquer tipo de lesão que prejudicasse sua ida à Europa.
Du Queiroz vestiu a camisa do Corinthians pela última vez na derrota contra o Independiente del Valle, na Neo Química Arena, pela Libertadores, no dia 2 de maio.
Ele foi envolvido na negociação que garantiu a permanência de Yuri Alberto, em definitivo, no Corinthians. Além de Du, Robert Renan também foi para o Zenit.
O QUE MAIS DU QUEIROZ DISSE?
Sentimento: “Agora eu estou aqui em casa, o passaporte na mesa, a minha mala de viagem aberta em cima da cama, e eu só consegui colocar três coisas dentro dela até agora: escova, pasta e uma camisa do Timão. O sentimento é estranho, de dever cumprido, mas incompleto. É, Fiel, eu sei que nem sempre correspondi ao que vocês esperavam. Nem sempre acertei. Mas eu lutei. E, depois de tudo o que esse clube me deu, não tenho do que reclamar.”
Gol contra o Boca: “Foi marcante demais, céloko, começando pela declaração que eu dei antes do jogo. Me perguntaram como ia ser jogar na Bombonera pela primeira vez, eu tão jovem e tal. Respondi que ia ser como outro jogo qualquer […] depois que eu mandei essa na véspera do jogo, levei umas broncas da galera mais velha lá no CT: ‘Po***, Du, não diz uma coisa dessas. Jogar na Bombonera é embaçado, difícil para caramba’. Os caras me deram mó dura, vocês tinham que ver. Mas eu disse para eles: ‘Difícil, mano? Difícil foi o que eu passei nessa vida’. E quis o São Jorge que meu primeiro gol com o nosso manto saísse naquela noite. Vou dizer, hein? Quando rola uma fita dessas, a gente flutua: os primeiros segundos são de delírio, de loucura, sei lá?”
Base no São Paulo: “Eu treinava no Butantã e, por ser perto de Cotia, onde fica a base do São Paulo, eles sempre vinham fazer amistoso contra nós. Um dia me chamaram para ir fazer um teste lá. Fiz o teste e passei. Foi um período muito daora para mim. Fiquei no São Paulo dos 9 aos 13 anos, até que um dia me chamaram e me dispensaram. Foi um baque.”
Chegada ao Corinthians: “A peneira no Parque São Jorge era assim: começava na segunda-feira e o treinador distribuía um cartãozinho amarelo para cada moleque. No fim da tarde, ele anotava nos cartões quem podia voltar no dia seguinte. Eu voltei na terça, na quarta, na quinta e na sexta ele me mandou passar na sala do diretor. Pensei: ‘Ixi, já era! Sala de diretor. Vão agradecer, tudo mais e me mandar para casa’. Mas não. Entrei na sala, o diretor pegou meu cartãozinho, rasgou e falou: ‘Pode jogar fora esse cartão. A partir de hoje você é jogador do Corinthians'”.
Torcedor desde pequeno: “Ele [pai] me pegou no colo, ficou abraçado mó cara, tempo normal, prorrogação e pênaltis. E a primeira coisa que ele me disse foi assim: ‘Qual seu time do coração, filho?’, ‘Corinthians, pai, igual você’, ‘Então vamos ver o Coringão no Pacaembu’. Na época o Corinthians estava numa fase meio ruim, na Série B e tudo. Meus amigos são-paulinos e palmeirenses me zoavam e aquilo me chateava. Criança, né? A gente só quer ver nosso time ganhando. Mas eu nunca desisti do Corinthians.”
Primeiro jogo sem lembranças: “Naquela tarde no Pacaembu com meu pai eu entendi duas coisas importantes. Se vocês me perguntarem quem era o adversário e qual foi o placar do jogo, eu não vou lembrar. Pra mim ficou o que tinha de mais forte ali: estar com o meu pai, depois de tanto tempo, só eu e ele, vendo o Corinthians jogar. Nesse dia, eu, que já era corintiano, entendi o que é ser corintiano.”
Redação / Folhapress