PRAGA, REPÚBLICA TCHECA (FOLHAPRESS) – Filmada em Praga, para reproduzir uma Holanda dos anos 1940, a série “A Small Light” conta uma história pouco conhecida a respeito de Anne Frank, a adolescente de origem judaica que escreveu um diário ao passar dois anos escondida dos nazistas em um anexo secreto de uma fábrica em Amsterdã.
Ao ser descoberta, foi mandada para um campo de concentração e morreu aos 15 anos, poucos meses antes da libertação da Europa pelos aliados. Em 1947, seu “Diário de Anne Frank” foi publicado por seu pai, Otto Frank. Segundo o Anne Frank Center, desde então o livro vendeu mais de 30 milhões de cópias em 70 línguas, tornando Anne uma figura fundamental da história do século 20.
“A Small Light”, no entanto, não conta exatamente essa história. É baseada na vida de Miep Gies, a secretária da fábrica que ocultou Anne e outros judeus durante os anos da perseguição do nazismo. A fábrica, de compotas e ingredientes para geleias, era de Otto Frank, interpretado por Liev Schreiber.
Produzidos pela National Geographic e em exibição nos canais de streaming Disney+ e Star+, os oito episódios já estão no ar, recebendo excelentes notas nos sites especializados. No IMDb, alcançou 8,5 pontos, e no Rotten Tomatoes conseguiu 100% de críticas positivas e 94% de aprovação da audiência.
Miep, uma austríaca que havia emigrado para a Holanda, é vivida pela inglesa Bel Powley, conhecida nas telas por papéis leves em comédias e dramas românticos.
“Foi um pouco assustador fazer esse papel”, contou ela aos jornalistas que visitaram as filmagens da série no Castelo de Praga, na República Tcheca, no ano passado. “É o assunto mais sério que já fiz. Não conhecia sua história. Eu já havia lido ‘O Diário de Anne Frank’ na escola, como todo mundo, mas não sabia nada sobre Miep.”
Ela assistiu, então, ao documentário “Anne Frank Remembered”, no qual Miep conta suas artimanhas para esconder as pessoas. O filme, de John Blair, venceu o Oscar em 1996.
“A Small Light” é uma obra principalmente do casal de produtores Tony Phelan e Joan Rater, conhecidos pela premiada “Grey’s Anatomy”, de 2005. “Há seis anos, fomos de férias para Amsterdã, com nosso filho de 20 anos, e ouvimos falar nessa moça totalmente comum que tinha escondido a família Frank”, diz Rater.
“Foi ela que achou e guardou o diário de Anne quando os nazistas a levaram. Após a libertação da Europa, Otto Frank é solto de um campo de concentração e Miep entrega os papeis a ele. Ela é muito importante para a história”, diz Phelan.
“Obviamente fizemos licenças dramáticas. Jan Gies nunca admitiu ser da resistência holandesa, mas nós o colocamos nesse papel em ‘A Small Light’, porque há muitas pistas de que ele participou, sim.”
Os produtores elogiaram a cidade tcheca, que se tornou, a partir dos anos 2000, um polo da indústria cinematográfica no leste europeu, com grandes produtoras, enormes estúdios, escolas de cinema e custos baixíssimos. O salário de um profissional de cinema em Praga pode ser menos que a metade do que ganha um equivalente na Europa ocidental.
“Praga foi uma vantagem tremenda”, afirmou Phelan. “As pessoas são ótimas, e as locações, incríveis. Filmamos em Amsterdã por duas semanas e depois nos mudamos para cá.”
A direção de arte foi feita por Marc Holmes, que já havia desenhado e construído sets de filmes como “Perdido em Marte”, “007 – Operação Skyfall” e “Prometheus”, da franquia “Alien”. Holmes levou o grupo de jornalistas para passear no set e exibiu os quartos dos personagens levantados em estúdios fechados, assim com partes da cidade Amsterdã ao ar livre.
“Depois que estava tudo pronto, [os produtores] se deram conta que não tinham previsto as ruas destruídas após bombardeios. Me perguntaram se ainda dava para fazer. Para ontem”, brincou Holmes, exibindo, com orgulho, uma área como casas arrebentadas por onde se veem azulejos caindo, canos à mostra e banheiras penduradas.
Quem também leu o diário na escola foi a jovem Billie Boullet, que tinha 17 anos quando a série foi filmada, no ano passado. Ela, que afirmou ter nascido e sido criada na cultura judaica, interpreta Anne Frank.
“Como Anne tem 14 anos, imaginam que ela é uma pessoa inocente. Mas não é. Ela tem opiniões e vai dizê-las. O Holocausto aconteceu e 6 milhões de judeus morreram. E muitos outros que não são judeus também. Mas as guerras seguem acontecendo de novo, de novo e de novo”, lamentou a moça.
No papel do marido de Miep está o “peak blinder” mais novo das primeiras temporadas, Joe Cole. No caso dele, não havia tanto material para se inspirar ao compor seu personagem. Dessa forma, ele se baseou bastante na pesquisa feita pelos produtores. “Jan Gies foi parte da resistência de Amsterdã contra os nazistas. Mas ele nunca quis falar sobre o assunto.”
Sabe-se lá por que, mas a Disney+ resolveu não traduzir o nome “A Small Light” para o português -a tradução direta seria ‘uma pequena luz’. Mas sabemos por que a série é chamada assim.
É que, ao final de sua vida, Miep Gies, que morreu em 2010, aos 100 anos, disse o seguinte: “Não gosto de ser chamada de heroína porque ninguém deveria pensar que você precisa ser especial para ajudar os outros. Mesmo uma secretária comum, uma dona de casa ou uma adolescente podem acender uma pequena luz em um quarto escuro.”
O jornalista viajou a convite da Disney
A SMALL LIGHT
Onde Disponível no Disney+ e no Star+
Classificação 14 anos
Elenco Bel Powley, Joe Cole e Liev Schreiber
Produção Estados Unidos, 2023
Criação Joan Rater e Tony Phelan
IVAN FINOTTI / Folhapress