Peruano Central é eleito melhor restaurante do mundo; América Latina chega ao topo pela 1ª vez

VALÊNCIA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – Levou 20 anos, mas finalmente a América Latina alcançou o topo da gastronomia mundial. O peruano Central foi eleito o melhor restaurante do mundo na edição de 2023 dos 50 Best, um dos mais influentes do setor.

O Brasil esteve representado com apenas um restaurantes entre os 50 melhores do mundo na premiação de 2022: A Casa do Porco, em São Paulo, ficou na 12ª posição (menos 5 posições que o anos passado).

O restaurante paulistano especializado em porco e localizado no centro da cidade está entre os 50 melhores desde 2019, ano em que também foi o único brasileiro da lista. O endereço caiu cinco posições em relação ao ano passado, quando alcançou o 7º lugar, sua melhor posição.

Este é o pior desempenho do Brasil na premiação dos cem melhores restaurantes do mundo desde 2015, quando o país foi representado por dois endereços: o D.O.M., em 9º lugar, e o Maní, em 41º.

É a primeira vez que a América Latina consegue o primeiro lugar no controverso ranking, dominado por duas décadas por restaurantes da Europa -sete deles, no total.

Fora do velho continente, apenas os Estados Unidos emplacaram dois restaurantes no topo: The French Laundry (2003 e 2004) e Eleven Madison Park (2017).

Também foi um dos melhores anos da América Latina no ranking: o continente teve 12 representantes entre os 50 -dois a mais que no ano passado, apontando para uma boa onda latina na gastronomia mundial.

Em novembro, o Rio de Janeiro vai receber a versão latino-americana da premiação -é a primeira vez que uma cerimônia dos 50 Best acontece no Brasil.

“A América Latina merece o primeiro lugar pelo trabalho realizado de pesquisa, sustentabilidade e, acima de tudo, pelo um novo olhar que o continente tem proposto para a riqueza da cozinha ancestral que tem”, afirma a chef Janaína Rueda, presente na celebração.

A vitória do Central representa não apenas uma mudança de paradigma geopolítico da gastronomia -ainda eurocêntrica- mas é o primeiro restaurante co-dirigido por uma chef mulher a chegar ao topo.

Também trata-se do primeiro vencedor que tem uma cozinha com foco em ingredientes autóctones e com uma tradição culinária não-europeia.

Das algas aos lingueirões (semelhante a um marisco) que vivem no nível do mar às dezenas de batatas nativas cultivadas nos Andes a 4.200 metros, o menu do Central é uma viagem pelos biomas do país.

A altitude foi a maneira que os chefs, Pía León e Virgilio Martinez, encontraram de mostrar toda a biodiversidade de um país que se tornou um destino gastronômico internacional e uma potência no mundo com sua cozinha.

Aberto em 2013, nos últimos anos o restaurante tem se dedicado a uma pesquisa de ingredientes e técnicas ancestrais, mantidos por comunidades nativas anteriores à colonização espanhola.

Mater Iniciativa, um centro de investigação do território que é comandado por Malena Martinez, irmã de Virgílio, que fica nos Andes, onde os chefs também mantêm o restaurante MIL (em Moray).

O trabalho de pesquisa que fazem ali influenciou outros chefs na América Latina, fazendo com que mais cozinheiros buscassem valorizar o que têm em seu entorno e dar mais destaque aos ingredientes locais.

A lista revelada este ano em Valência, na Espanha, mostra como essa mudança da geopolítica da gastronomia mundial tem alterado a lista dos 50 melhores: ano passado, 30 dos restaurantes eram europeus. Neste ano, o número foi de 27.

O fim das restrições de visitas aos países asiáticos também mudou gradativamente as posições da lista, dando a restaurantes de Bangcoc e Hong Kong mais destaque.

Dubai se firma como um destino gastronômico com dois restaurantes na lista -os únicos do Oriente Médio. A África continua subrepresentada, sem representantes na lista, assim como a Oceania.

Em mais de duas décadas, entretanto, o 50 Best se firma como um elemento de grande influência no setor, capaz de reunir em uma mesma cidade chefs do México, de Hong Kong e da Eslovênia, além de jornalistas e influenciadores de todo o mundo.

Também foram anunciados prêmios especiais na cerimônia de 2023. Entre eles, o sul-africano Fyn, reconhecido como Restaurante Sustentável do ano, o espanhol Miguel Angel Millán, como melhor Sommelier, e a chef equatoriana Pía Salazar, como melhor chef confeiteira. O premio Art of Hospitality (restaurante com melhor hospitalidade) foi o Alchemist, na Dinamarca.

Entre as outras premiações individuais concedidas pelo 50 Best, o restaurante Tatiana (Nova York), do chef Kwame Onwuachi, foi eleito na categoria One to Watch e o chef Andoni Luis Aduriz, do Mugaritz, foi reconhecido como Ícone, ovacionado pelo público no palco espanhol.

Veja abaixo a lista dos 50 melhores restaurantes do mundo e também da lista estendida da premiação, que vai das posições 51 a 100, divulgada no início de junho.

50 MELHORES RESTAURANTES DO MUNDO

1 – Central (Lima)

2 – Disfrutar (Barcelona)

3 – Diverxo (Madri)

4 – Asador Etxebarri (San Sebastián)

5 – Alchemist (Copenhague)

6 – Maido (Lima)

7 – Lido 84 (Gardone Riviera, Itália)

8 – Atomix (Nova York)

9 – Quintonil (Cidade do México)

10 – Table by Bruno Verjus (Paris)

11 – Trèsind Studio (Dubai)

**12 – A Casa do Porco (São Paulo)**

13 – Pujol (Cidade do México)

14 – Odette (Singapura)

15 – Le Du (Bancoc)

16 – Reale (Castel di Sangro, Itália)

17 – Gaggan Anand (Bancoc)

18 – Steirereck(Viena)

19 – Don Julio (Buenos Aires)

20 – Quique Dacosta (Valência)

21 – Den (Tóquio)

22 – Elkano (Getaria, Espanha)

23 – Kol (Londres)

24 – Septime (Paris)

25 – Belcanto (Lisboa)

26 – Schloss Schauenstein (Fürstenau, Suíça)

27 – Florilège (Tóquio)

28 – Kjolle (Lima)

29 – Boragó (Santiago)

30 – Frantzén (Estocolmo)

31 – Mugaritz (San Sebastián)

32 – Hiša Franko (Kobarid, Eslovênia)

33 – El Chato (Bogotá)

34 – Uliassi (Senigallia, Itália)

35 – Ikoyi (Londres)

36 – Plénitude (Paris)

37 – Sézanne (Tóquio)

38 – The Clove Club (Londres)

39 – The Jane (Antuérpia, Bélgica)

40 – Restaurant Tim Raue (Berlim)

41 – Le Calandre (Rubano, Itália)

42 – Piazza Duomo (Alba, Itália)

43 – Leo (Bogotá)

44 – Le Bernardin (Nova York)

45 – Nobelhart & Schmutzig (Berlim)

46 – Orfali Bros Bistro (Dubai)

47 – Mayta (Lima)

48 – La Grenouillère (La Madelaine-sous-Montreuil, França)

49 – Rosetta (Cidade do México)

50 – The Chairman (Hong Kong)

LISTA ESTENDIDA, DA 51ª À 100ª POSIÇÃO

51 – Narisawa (Tóquio)

52 – Hof Van Cleve (Kruishoutem, Bélgica)

53 – Brat (Londres)

54 – Alcalde (Guadalajara)

55 – Ernst (Berlim)

56 – Sorn (Bancoc)

57 – Jordnær (Copenhague)

58 – Lasai (Rio de Janeiro)

59 – Mérito (Lima)

60 – La Cime (Osaka)

61 – Chef’s Table at Brooklyn Fare (Nova York)

62 – Arpège (Paris)

63 – Neolokal (Istambul)

64 – Aponiente (El Puerto de Santa María, Espanha)

65 – Burnt Ends (Singapura)

66 – Turk Fatih Tutak (Istambul)

67 – Le Clarence (Paris)

68 – SingleThread (Healdsburg, Estados Unidos)

69 – Zén (Singapura)

70 – Sud 777 (Cidade do México)

71 – Core by Clare Smyth (Londres)

72 – Sühring (Bancoc)

73 – Cosme (Nova York)

74 – Nusara (Bancoc)

75 – Fyn (Cidade do Cabo)

76 – Oteque (Rio de Janeiro)

77 – Tantris (Munique)

78 – Alléno Paris au Pavillon Ledoyen (Paris)

79 – Nuema (Quito)

80 – Flocons de Sel (Megève, França)

81 – Azurmendi (Larrabetzu, Espanha)

82 – Enigma (Barcelona)

83 – Sazenka (Tóquio)

84 – Meta (Singapura)

85 – Enrico Bartolini (Milão)

86 – Lyle’s (Londres)

87 – Ossiano (Dubai)

88 – Potong (Bancoc)

89 – Mingles (Seul)

90 – Wing (Hong Kong)

91 – Kadeau (Copenhague)

92 – Neighborhood (Hong Kong)

93 – Kei (Paris)

94 – La Colombe (Cidade do Cabo)

95 – Ceto (Roquebrune-Cap-Martin, França)

96 – Ricard Camarena Restaurant (Valência)

97 – Labyrinth (Singapura)

98 – Saison (San Francisco)

99 – Fu He Hui (Xangai)

100 – Maito (Cidade do Panamá)

RAFAEL TONON / Folhapress

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