SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O submersível que transportava turistas para explorar os destroços do Titanic e desapareceu no oceano Atlântico é dirigido por um controle semelhante ao de videogames, e seu interior é apertado e simples, com apenas três monitores, um botão, uma janela pequena e um banheiro improvisado.
A embarcação parou de fazer contato no domingo (18), na costa do Canadá, e autoridades canadenses e dos EUA intensificaram os esforços numa corrida para localizar o submersível, que na tarde desta terça-feira (20) ainda teria cerca de 40 horas de oxigênio, segundo estimativa da Guarda Costeira americana.
O submersível Titan é operado pela empresa OceanGate Expeditions, cuja proposta divulgada em seu site é aumentar o acesso do público ao oceano profundo. O CEO da empresa, Stockton Rush, disse à emissora americana CBS que o veículo não exige muita habilidade para condução. “É como se fosse um elevador.”
O interior do veículo tem três monitores um com informações de navegação, outro para o sonar e uma tela maior, em que imagens do exterior são exibidas à tripulação e aos passageiros. O submersível tem apenas um botão, que muda de vermelho para verde quando é acionado, e vice-versa. Ao canal canadense CBC Rush mostrou que uma estrutura de metal serve de banheiro ao lado da janela. “É o melhor lugar da casa. […] Colocamos uma tela de privacidade e aumentamos a música. É muito popular”, diz.
O submersível é dirigido por um aparelho que lembra um controle de videogame. Rush diz que o item é resistente e usa a tecnologia bluetooth, mas afirma que a tripulação leva peças extras para o caso de o objeto apresentar problemas no fundo do mar. “Adotamos uma abordagem completamente nova. Tudo é executado com este controle e telas sensíveis ao toque”, diz o empresário. Em alguns sites, controles de videogame semelhantes ao usado no submersível são vendidos por US$ 30 (R$ 143,7).
David Pogue, repórter da CBS que viajou no Titan em 2022, disse à emissora britânica BBC que hesitou em embarcar porque alguns dos componentes pareciam improvisados. “Você dirige este submarino com um controle de jogo do [videogame] Xbox e parte do lastro era de canos de construção abandonados.”
Antes de entrar no veículo, o jornalista leu um comunicado no qual dizia que o submersível “não havia sido aprovado ou certificado por nenhum órgão regulador”. Ele também assinou um termo para informar que estava ciente de que a viagem poderia causar danos físicos, psicológicos ou morte.
Segundo Pogue, os passageiros ficam “selados” na cápsula por parafusos colocados na parte externa. Assim, eles precisam ser removidos por uma equipe, impossibilitando que escapem sozinhos.
A OceanGate diz em seu site que o submersível é feito com fibra de carbono e titânio. O veículo pode chegar a 4.000 metros de profundidade (13.123 pés) e alcança uma velocidade de 5,5 km/h (3 nós). “Por meio do uso inovador de materiais modernos, o Titan é mais leve e mais econômico do que qualquer outro submersível de mergulho profundo”, afirma a empresa. O veículo mede 6,7 metros de comprimento e pesa cerca de 10 toneladas. A autonomia é de 96 horas quando cinco pessoas estão a bordo. A embarcação leva duas horas para descer em águas profundas até o Titanic, segundo a agência de notícias Reuters.
A OceanGate Expeditions cobra US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) por uma vaga em suas expedições de oito dias para ver os restos do Titanic. Além do piloto, o submersível comporta três passageiros (pagantes) e um “especialista em conteúdo”.
A empresa explica ainda que seus clientes recebem “uma orientação da embarcação e instruções de segurança” e diz que não exige nenhuma experiência prévia de mergulho, mas que há “alguns pré-requisitos físicos” embora não esteja claro quais são. Segundo uma reportagem de 2018 da BBC News, que noticiou a novidade, a expedição começa em Newfoundland, no Canadá, de onde um helicóptero leva os turistas até um navio perto do local dos destroços. O submersível parte dessa embarcação, que serve como base durante a missão.
Entre os turistas a bordo do veículo desaparecido estão o bilionário britânico Hamish Harding, 58, fundador e CEO da empresa Action Aviation, o empresário paquistanês Shahzada Dawood, vice-presidente do conglomerado Engro, e seu filho Suleman. O francês Paul-Henry Nargeolet, mergulhador e especialista no naufrágio do Titanic, também embarcou. A quinta pessoa não teve a identidade confirmada.
O Titan perdeu contato com um navio canadense na superfície cerca de 1h45 após partir. Aviões dos EUA e do Canadá equipados com sonar capaz de detectar submarinos foram mobilizados. Nesta terça, o Instituto Oceanográfico francês informou que enviaria um robô submarino para auxiliar nos trabalhos.
O contra-almirante John Mauger, um dos responsáveis pelas operações, disse à emissora ABC News que as equipes de resgate vasculham uma área de cerca de 13 mil quilômetros quadrados. “É um desafio realizar uma busca nessa área remota, mas estamos mobilizando todos os recursos disponíveis para garantir que possamos localizar a embarcação e resgatar as pessoas a bordo”, afirmou.
Navio de passageiros britânico, o Titanic afundou em sua viagem inaugural de Southampton a Nova York após bater num iceberg, em 1912. Dos 2.200 passageiros e tripulantes a bordo, mais de 1.500 morreram. Os destroços do naufrágio vêm sendo explorados desde que foram descobertos, em 1985.
ENTENDA AS DIFERENÇAS ENTRE SUBMARINO E SUBMERSÍVEL
Submarino
Pode ultrapassar 150 metros de comprimento;
Tem a capacidade de ficar mais tempo submerso, podendo fazer viagens de meses;
Desloca-se de forma mais rápida os que têm propulsão nuclear chegam a 35 nós (ou 65 km/h);
É um veículo autônomo;
É usado para pesquisas, inspeção ou consertos no fundo do mar e também para fins militares
Submersível
Pode ter menos de 10 metros de comprimento e comporta poucas pessoas;
Não tem autonomia para ficar muitos dias submerso o Titan tem oxigênio para até 96 horas quando cinco pessoas estão a bordo;
Desloca-se de forma mais lenta e não cobre grandes distâncias
Depende de um navio com sistemas de navegação para orientar sua viagem de forma remota
É usado para pesquisas, turismo, inspeção ou conserto no fundo do mar
Redação / Folhapress