BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A equipe econômica reagiu mal à decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de manter a taxa de juros em 13,75% e interpretou o comunicado como um “boicote” ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem cobrado o corte na Selic para estimular a atividade econômica.
Havia uma expectativa de que o Banco Central adotasse uma mensagem mais suave no documento, abrindo a porta para uma possível flexibilização da política monetária já no mês de agosto –o que foi frustrado pelo texto divulgado pela autoridade monetária.
De acordo com relatos ouvidos pela Folha, membros do governo subiram o tom contra o Banco Central e seu presidente, Roberto Campos Neto –alvo preferencial das críticas do governo petista. Agora, já se fala em “declaração de guerra” por parte da autarquia.
Um dos pontos que causou indignação é o trecho do comunicado que cita “alguma incerteza residual sobre o desenho final do arcabouço fiscal”, apesar de a proposta ter sido aprovada nesta quarta-feira (21) pelo Senado Federal com poucas mudanças. Embora a decisão do BC tenha sido divulgada antes da votação, o texto do parecer já era conhecido desde a terça-feira (20).
Outra ala do governo ainda mantém esperanças de que a ata do Copom, a ser divulgada na próxima terça-feira (27) com maior detalhamento da decisão, traga um tom mais ameno, abrindo espaço para sinalizar um corte na Selic.
As críticas nos bastidores ecoam o tom adotado por Lula, que vem sistematicamente criticando Campos Neto pelo patamar dos juros no país. O petista já afirmou que Campos Neto não tem compromisso com o Brasil e sim com o governo de Jair Bolsonaro (PL), que indicou o atual chefe da autoridade monetária.
Além da pressão de Lula e de seus ministros, um grupo de 51 integrantes do Conselhão (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Presidência da República), dentre eles a empresária Luiza Heleno Trajano, escreveu uma carta aberta pedindo corte de juros. Houve ainda um protesto em frente ao prédio do BC em São Paulo, na terça-feira (20), promovido por centrais sindicais.
Após a decisão desta quarta, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu a saída dos atuais integrantes do BC.
“Está na hora do Senado agir, com os poderes que a lei confere, para cobrar Campos Neto e a diretoria bolsonarista do Banco Central. Sabotam a economia e atuam propositalmente contra o país. Não há mais como tolerar esta situação. O certo é a saída desse pessoal”, afirmou Gleisi em rede social.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), disse à reportagem que discorda da decisão do BC e reclamou que “nem aceno teve” para um corte de juros. “Não falei com ninguém [do governo] sobre isso, mas não deve ter gostado. Aliás, não o governo, acho que o Brasil não gostou”, afirmou.
“Mas é o papel deles, eles estão fazendo a missão deles. Só quero ter o direito de discordar. Eu e o Brasil”, acrescentou.
Mais cedo, durante a sessão, Wagner disse no plenário aos senadores que “não há nenhuma pretensão do governo de retirar o presidente do Banco Central”.
“O presidente da República do nosso governo respeita a legislação vigente. Já existe a legislação da autonomia, tanto faz se concordo ou não, a lei esta aí e será respeitada”, disse.
“Por outro lado, quero dizer que não é o governo, não é o presidente da República, são vários setores da economia que têm o direto [de criticar]. Quem senta na cadeira de presidente do Banco Central não é superior a nenhum de nós”, afirmou Wagner.
IDIANA TOMAZELLI / Folhapress