BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Empresas que pertencem ao policial civil e empresário Murilo Sergio Juca Nogueira Junior, alvo de busca e apreensão em operação da Polícia Federal sobre desvios na compra de kits de robótica, receberam cerca de R$ 36 milhões do governo federal.
Os pagamentos foram feitos a partir de 2016 a duas empresas que fornecem serviços de administração, limpeza e segurança, em contratos assinados com instituições federais de ensino de Alagoas, além da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos).
Foi em um endereço ligado a Nogueira Junior que a PF encontrou em 1º de junho um cofre superlotado com cerca de R$ 4 milhões em dinheiro vivo.
Também pertence formalmente ao policial e empresário uma picape Toyota Hilux preta utilizada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), na campanha de 2022.
O automóvel foi monitorado e fotografado pela PF em janeiro durante uma entrega de dinheiro que investigadores suspeitam ter ligação com desvios na compra dos kits.
A prestação de contas entregue por Lira à Justiça Eleitoral no ano passado informa que Nogueira Junior lhe emprestou de graça essa mesma Hilux para que ele usasse por dez dias em sua campanha, resultando em doação estimada em R$ 4.000 do policial para o presidente da Câmara.
Questionado por meio de sua assessoria sobre as atividades de empresas do policial civil, o presidente da Câmara não quis se manifestar. A defesa de Nogueira Junior também não respondeu à reportagem. O policial recebe um salário de R$ 10,5 mil do governo estadual de Alagoas.
Das empresas do policial, a Bra Serviços Administrativos foi a que mais recebeu do governo. Desde que ele entrou no quadro societário, em outubro de 2016, a empresa ganhou R$ 33,1 milhões, sendo que a maior parte da cifra (R$ 27,2 milhões) foi paga pelo Instituto Federal de Alagoas.
O alvo da PF tem cerca de 80% de participação no capital da empresa. A Bra também recebeu cerca de R$ 6 milhões da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) e menos de R$ 100 mil do Ministério da Agricultura. A empresa já prestava serviços ao governo federal pelo menos desde 2014, ou seja, antes de Nogueira Junior participar da sociedade.
Já a CBTU pagou, a partir de 2020, mais de R$ 2,7 milhões para a Reluzir Serviços Terceirizados, como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo. O policial passou a atuar na empresa em 2019. A unidade da CBTU em Alagoas é comandada por aliados de Lira.
Ex-assessor do presidente da Câmara e outro alvo da operação da PF, Luciano Cavalcante emplacou a esposa, Glaucia, em cargo na companhia. Além dela, o irmão, Carlos Jorge Ferreira Cavalcante, ocupa o posto de superintendente da CBTU em Maceió (AL).
Em nota, a Ufal disse que a Bra Serviços Administrativos tem contrato vigente e que não há irregularidades nas atividades da empresa.
“Destaca-se que ao longo da execução dos contratos no âmbito da Ufal não foram registradas ocorrências que desabonem a conduta das empresas citadas”, afirmou a universidade.
Procurados, o Instituto Federal e a CBTU não se manifestaram.
As suspeitas sobre os kits de robótica tiveram origem em reportagem do jornal Folha de S.Paulo publicada em abril do ano passado sobre as aquisições em municípios de Alagoas, todas assinadas com uma mesma empresa pertencente a aliados de Lira.
A investigação começou ainda em 2022 após a revelação da Folha de S.Paulo. O pedido de buscas e prisões foi feito pela PF em março de 2023, e as ordens, expedidas pela Justiça Federal de Alagoas.
O monitoramento feito pela PF em janeiro deste ano mostrou que a Hilux em nome de Murilo Sergio foi usada no final de janeiro em Maceió por um casal suspeito de ser responsável por operar um esquema de lavagem de dinheiro ligado ao caso do kit robótica.
Em Maceió, a PF monitorou e filmou o casal usando a mesma Hilux utilizada por Lira na campanha durante um saque e uma entrega em um prédio de escritórios na cidade.
Os agentes federais afirmam nas investigações terem descoberto também que, embora estivesse no nome de Murilo, o veículo era usado, na verdade, pela esposa de Luciano Cavalcante. A esposa dele, Glaucia, também já assessorou Lira e é alvo da investigação.
MATEUS VARGAS / Folhapress