Senadores dos EUA cobram JBS por gado em área de desmatamento na Amazônia

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Multinacionais como a JBS se aproveitam da criação de gado em área de desmatamento ilegal na Amazônia para competir de forma injusta no mercado americano, o que acelera a destruição do planeta, afirmaram senadores dos Estados Unidos em audiência nesta quinta-feira (22), em que questionaram as práticas da empresa, maior produtora de carne do mundo.

Em audiência no Comitê de Finanças do Senado dos EUA, parlamentares dividiram preocupações ambientais com protecionismo a produtores americanos e questionaram o diretor global de sustentabilidade da JBS, que defendeu as práticas ambientais da empresa.

“A audiência de hoje está focada em um produtor de carne multinacional que fechou os olhos para parte de sua cadeia de fornecimento, incendiou a Amazônia, levou o mundo a uma catástrofe climática e prejudicou nossos pecuaristas americanos que seguem as regras do comércio internacional”, disse o senador democrata Ron Wyden, chefe do comitê.

“Ao longo dos anos, a JBS fez promessas de que resolveria o problema do desmatamento”, afirmou ele, citando compromisso de eliminar a produção de gado em áreas desmatadas até 2025.

“A realidade é que a JBS está muito longe de cumprir esse compromisso”, disse. Segundo Wyden, as práticas da companhia são alvo de investigação no Senado que já dura dois anos.

O republicano Mike Crapo citou na audiência a importância da floresta tropical e elogiou os esforços feitos pelo Brasil em criar um arcabouço de leis desde os anos 1980 para proteger a área.

“No entanto, o problema não está tanto no número ou qualidade de suas leis, mas na falta de recursos e pessoal para fiscalização”, disse.

“Inúmeros estudos ao longo de décadas documentam atividades ilegais de grilagem de terras por diversas empresas como os principais aceleradores do desmatamento. Esses estudos apontam o sucesso econômico dessas empresas encorajando vários atores ilícitos a se infiltrarem e se esconderem nas complexas cadeias de suprimentos e atuarem com quase impunidade em regiões onde a responsabilização é limitada”, afirmou, ressaltando que “conservação e progresso não precisam ser conflitantes”.

Os senadores ouviram ainda Rick Jacobsen, coordenador na ONG americana EIA (Agência de Investigação Ambiental), que afirmou que “as cadeias globais de suprimentos são opacas e sem responsabilização e permitem que mercadorias ligadas a alguns dos piores crimes e abusos entrem nos mercados internacionais”, disse.

“Os riscos são particularmente proeminentes no setor pecuário do Brasil, o maior impulsionador do desmatamento na Amazônia.”

Jacobsen descreveu um sistema de lavagem de licenças ambientais nas maiores produtoras de carne do Brasil em que gado criado em áreas de desmatamento ilegal é levado para ser abatido em fazendas com certificação.

“Esses problemas não impediram que o Brasil se tornasse o maior exportador mundial de produtos pecuários”, disse ele, que cobrou uma aprovação de lei que proíba a importação para os EUA de produtos de área de desmatamento, aos moldes da legislação recém-aprovada pelo Parlamento Europeu.

Já Jason Weller, diretor global de sustentabilidade da JBS, defendeu as ações da companhia na audiência. Ele afirmou que a empresa trabalha em quatro frentes para combater o desmatamento na Amazônia.

“Em primeiro lugar, uma política de tolerância zero na obtenção de matéria-prima. Em segundo lugar, monitoramento e fiscalização da cadeia de fornecimento. Em terceiro lugar, assistência técnica aos produtores. Quarto, engajamento de múltiplas partes interessadas para acelerar a mudança no setor”.

Ele disse ainda que a empresa “estabeleceu uma política de compras responsáveis que proíbe a compra de gado proveniente de fazendas envolvidas em desmatamento, trabalho forçado, invasão de terras indígenas ou embargadas pelas autoridades ambientais brasileiras” e desenvolveu um sistema de monitoramento “que utiliza dados públicos, imagens de satélite e dados georreferenciados para verificar a conformidade com os padrões socioambientais.”

Weller citou também iniciativas para dar apoio a produtores e participação em fóruns globais para encontrar soluções para o problema do desmatamento.

THIAGO AMÂNCIO / Folhapress

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