SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Mesmo após o Copom (Comitê de Política Monetária) não ter dado sinalizações claras sobre o início da flexibilização da política monetária do Banco Central, bancos e casas de análise que apostavam em um primeiro corte da taxa básica de juros (Selic) em agosto mantiveram suas projeções.
Na última quarta-feira (21), os membros do comitê decidiram, após dois dias de reunião, manter a taxa Selic em 13,75%, argumentando que “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.
O comunicado que seguiu a decisão veio mais “hawkish” do que o esperado. O termo em inglês é muito utilizado pelo mercado para se referir a mensagens pessimistas por parte de autoridades monetárias.
Ainda assim, analistas encontraram contrapontos no comunicado, entendendo que a decisão da próxima reunião do Copom, que acontece em agosto, está em aberto, dependendo de novos dados econômicos e projeções do mercado.
“Quem vai cortar a taxa de juros não é mais o Banco Central, mas o Focus [boletim semanal do BC que coleta e resume as estatísticas calculadas por analistas do mercado]. A gente tem que observar se eles [analistas] vão ou não ancorar as expectativas de corte de juros na próxima reunião do Copom”, diz o economista André Perfeito, nome conhecido no mercado financeiro por suas apostas na economia.
Embora tenham reforçado suas projeções sobre o início do corte da Selic, os analistas também estão cautelosos em suas projeções, tanto quanto se mostrou ontem o Banco Central no comunicado do Copom.
“No geral, o Copom não sinalizou explícita ou implicitamente um corte de juros na reunião de agosto”, dizem os analistas do banco americano Goldman Sachs.
“Mas ao adotar uma postura/viés mais neutro, dependente de dados, além de outras modificações ligeiramente positivas no comunicado, o Copom indiretamente mostrou que, se o cenário atual e prospectivo de inflação e os balanços de risco continuarem a melhorar (…) agosto provavelmente será um ‘encontro ao vivo’ para um corte de taxa”, completaram.
O banco americano segue esperando que o ciclo de redução de juros comece em agosto, ainda que com cautela e esperando também a decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) sobre uma possível modificação da meta da inflação, no fim deste mês. Caso a redução inicial da Selic não aconteça em agosto, o Goldman Sachs aguarda ao menos uma sinalização de corte para setembro.
O banco Inter espera que, até agosto, uma evolução no cenário inflacionário permita a mudança de rumo na política monetária e o início dos cortes na Selic já na próxima reunião. Ainda assim, a instituição financeira aguarda um afrouxamento mais conservador da política monetária, com corte inicial de 0,25 ponto percentual da taxa de juros.
“Entre os fatores condicionantes, o principal deles é a expectativa de inflação mais longa que, apesar da recente melhora, permanece desancorada”, justifica o Inter.
De fato, no comunicado de ontem, os integrantes do Copom antecipam uma elevação da inflação acumulada ao longo do segundo semestre, apesar da melhora nos índices cheios de preços ao consumidor.
O BTG Pactual também entende que o Brasil deve acompanhar uma evolução positiva nos dados econômicos até agosto, o que deve sustentar um corte inicial de 0,25 pp. da taxa de juros na próxima reunião do Copom. Apesar do tom pessimista do comunicado, na visão do BTG, o Banco Central não descartou redução da Selic em agosto.
A Warren Investimentos entende que o comunicado mais duro do BC teve o objetivo de conter um otimismo excessivo do mercado e manteve a aposta de início de corte da Selic em agosto, começando com uma redução de 0,25 pp..
Já a XP enxerga um sinal no comunicado do Copom de que manter a Selic estável não é necessariamente o plano do comitê. Isso porque o texto diz que a estratégia de manutenção da taxa de juros nos níveis atuais por um longo período “tem sido adequada” para assegurar a convergência da inflação. No último comunicado, o BC disse que a Selic atual é “capaz de” assegurar essa convergência.
“Vemos a declaração do Copom consistente com o nosso cenário base (desde abril), que considera um corte de 0,25 pp. em agosto”, diz o economista-chefe da XP, Caio Megale.
A Nova Futura Investimentos mantém, “de forma preliminar”, a projeção de corte da Selic em 0,25 pp. em agosto. “A exclusão do trecho [do comunicado] sobre a possível retomada do ciclo de alta já era esperada, mas o texto teve um tom mais duro que o esperado por nós, sem grandes sinais sobre o começo do ciclo de cortes”, contrapõe.
Já o economista-chefe da Mirae Asset, Julio Hegedus, que previa corte de juros em agosto antes da reunião do Copom deste mês, agora diz acreditar que o início da flexibilização da política monetária deve ser entre agosto e setembro. ” No comunicado nada foi dito. Firmar projeções é pura especulação”, afirma.
“O processo deve ser gradual, com o primeiro corte entre 0,25 pp. e 0,5 pp., para a Selic fechar o ano em 12,50% ou 12,25%”, acrescenta.
O mais otimista é o Bank of America. Ao reforçar sua projeção de início do corte da Selic para agosto, o banco estimou uma redução inicial de 0,50 ponto percentual da taxa básica de juros. “Ao todo, o comunicado é mais um passo na comunicação do BC rumo a uma postura mais otimista”, diz o banco americano.
Ainda assim, a instituição manteve a cautela. “Mas [o comunicado] não é uma promessa de corte de juros na próxima reunião”.
STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress