SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Submersíveis como o Titan, o veículo que desapareceu no oceano Atlântico durante uma expedição privada para ver os destroços do Titanic, usualmente têm uma escotilha que abre tanto do lado de dentro quanto do lado de fora. Não está claro, porém, se o veículo operado pela OceanGate funcionava dessa maneira.
As informações sobre o submersível compartilhadas pela empresa, que se vale de seu caráter inovador, são poucas. E David Pogue, um repórter da americana CBS que viajou no Titan no ano passado, afirmou que era impossível escapar. A tripulação, disse ele numa entrevista à britânica BBC, era trancada na estrutura por parafusos colocados por fora.
As imagens e ilustrações disponíveis do Titan mostram apenas uma abertura frontal no veículo de 6,7 metros por 2,8 metros, diferente de modelos mais convencionais de escotilhas.
Segundo o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Miguel Buelta, especialista em submarinos, não há motivos para que um submersível seja construído sem as duas possibilidades de abertura. Permitir que a escotilha seja aberta pelo lado de dentro é relevante para quando o veículo está a poucos metros da superfície ou já emergiu.
Na profundidade em que o Titan costuma ir –a quase 4.000 metros, perto dos destroços do Titanic–, claro, é inviável abrir a estrutura: a pressão exercida pela água faz com que mover a escotilha demande um esforço de toneladas. Na superfície da água, isso muda.
Normalmente a saída usada por submersíveis de pesquisa ou turísticos que têm problemas de comunicação com seu navio-base é esvaziar os tanques que ficam ao redor da estrutura do veículo, permitindo que ele ganhe flutuabilidade e retorne à superfície.
Fora da água, em busca de oxigênio, tripulantes poderiam, então, abrir a escotilha. Ou, numa profundidade menor, poderiam também abri-la e sair nadando em busca de socorro. Não permitir a abertura por dentro não é apenas incomum, como também é algo “desnecessário”, diz Buelta.
Entre as muitas questões ainda sem resposta sobre o Titan, uma é sobre as certificações que a OceanGate havia –ou não– adquirido para operar. Em 2018, um conjunto de 30 especialistas disse que as operações do Titan poderiam ser catastróficas e que era preciso ir atrás de validações. A empresa respondeu: disse que, para inovar, não era possível esperar o tempo necessário para tantas certificações.
Uma das empresas responsáveis por conferir a certificação é a DNV, consultoria reconhecida pela indústria marítima. Em documento de 2021 disponível em seu site, a companhia detalha que, para submersíveis, é preciso fornecer escotilha de entrada e de saída. E mais: que ela deve poder ser operada de ambos os lados –por dentro e por fora.
Diz ainda que “em caso de emergência, o número de escotilhas de saída deve ser adequado para uma retirada segura de todos os ocupantes” para veículos submersíveis de uso turístico.
Sinaliza, por fim, que o mecanismo da dobradiça interna da escotilha deve ser projetado para suportar grandes cargas na posição fechada. Ou seja: para não abrir em caso de toque acidental ou sob interferência do mar agitado.
Redação / Folhapress