CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – Moradores da ocupação Mandela Vive, em Campinas (a 93 km de São Paulo), relataram à Folha de S.Paulo sentimento de frustração com o tamanho das casas de 15 metros quadrados construídas para reassentar cerca de cem famílias. Cada uma pagará a partir de R$ 132 mensais pelo imóvel, erguido por meio de fundo municipal.
Alguns devem morar com sete ou oito familiares no espaço. Na última quarta (21), a reportagem visitou o residencial. No local, moradores disseram que se sentem preocupados com a acomodação na casa e que farão puxadinhos com madeirite ou outros materiais para ampliar o espaço.
Em nota, a prefeitura disse que “a metragem foi informada em assembleia com os moradores e todos que assinaram o contrato foram informados do tamanho do embrião”.
A administração acrescentou que tem uma planta pronta para apresentar aos moradores, com sugestão de desenho para aumentar as casas. Por fim, informou que busca recursos para auxiliá-los nas obras. “Os moradores terão a planta para a ampliação do imóvel e assessoria técnica.”
O tamanho das casas do projeto, anunciado no fim de maio pela prefeitura, foi alvo de crítica de especialistas em arquitetura e desaprovada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Durante uma transmissão em rede social, ela disse que, “se essa moda pega, daqui a pouco estaremos construindo poleiros para que o povo possa morar”.
No interior da casa, há uma janela que dá para os fundos do terreno. Foi instalada uma pia de cozinha, que ocupa metade de uma das paredes do desenho da planta, em formato de quadrado.
Só o banheiro mede 1,75 m por 1,19 m e conta com uma pia, um vaso e um espaço para banho.
Entre o banheiro e o cômodo não há divisas no teto. Sobre o banheiro há uma caixa dágua.
Segundo moradores, os imóveis entregues não são maiores do que os barracos em que vivem, em uma área particular, como chegou a dizer a prefeitura. Por meio de nota, a Cohab (Companhia de Habitação Popular) havia afirmado que os barracos de madeira teriam de quatro a cinco metros quadrados.
O ajudante de pedreiro Jackson Rodrigues, 31, que vive na ocupação há cinco anos, disse que terá de “se virar” para viver com a esposa e dois filhos no espaço compacto.
“Lá [na ocupação] só um quarto que a gente tem já é maior que a casa. A gente aceita, já que teremos que sair de lá, mas, se tivéssemos a oportunidade de ter algo com um cômodo a mais, seria melhor.”
Sem emprego formal, ele trabalha uma média de dez dias por mês, em razão da baixa demanda, e ganha R$ 90 por cada um deles. “A ideia é fazer um puxadinho de madeira assim que possível”.
A ideia é similar à do também ajudante de pedreiro Erivanio Alves, 34, que vai morar com a esposa no embrião, como são chamados os imóveis. “Lá em cima [na ocupação] é complicado por causa de ratos, baratas e escorpiões. Mas o sonho mesmo, quando descermos, é aumentar a casa.”
Atendente no Aeroporto Internacional de Viracopos, Flávia Andrade, 31, é mãe solo e vive com dois filhos na ocupação. Ela afirma que está contente por finalmente ter conseguido um lote, mas se preocupa com a organização na nova casa.
“Nosso medo era exatamente de não saber onde guardar nossos móveis, nossos pertences mais valiosos. A maioria das pessoas optou pelo embrião porque não tinha condições de construir nada”, diz a atendente.
Heloisia Muniz, 52, vai morar com o filho, de 22 anos. Ambos estão desempregados e, segundo ela, não será possível aumentar o embrião.
“Se eu tivesse condições, construiria, mas não tenho. Antes de pensar em aumentar, tenho que pensar em pagar, já que o terreno e o embrião não foram doados, iremos pagar por eles.”
O acordo com a Cohab é o de que as propriedades (terreno e embrião) sejam pagas em cerca de 300 parcelas, com valores a partir de R$ 132 10% do salário mínimo.
LUIS EDUARDO DE SOUSA / Folhapress