Lula fala em criar ‘prateleira’ de terras improdutivas para evitar invasões

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Lula (PT) afirmou nesta terça-feira (27) que seu governo vai criar uma “prateleira” de terras improdutivas para que haja uma política de assentamentos antes de movimentos sociais invadirem as propriedades rurais.

“Eu falei com o ministro Paulo Teixeira [Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar] esses dias: ‘Ô, Paulo, por que a gente tem que esperar o movimento invadir uma terra para a gente mandar o Incra avaliar se ela é produtiva ou improdutiva?'”, disse Lula, durante live nas redes sociais.

Lula na sequência afirmou que vai então montar uma lista de terras que serão avaliadas pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e ficarão disponíveis para iniciar uma política de assentamento.

“Ao invés de as pessoas invadirem, a gente oferece [as terras], organiza. Essa é uma novidade que eu não pensei no primeiro e no segundo mandato. Pensei agora e vamos fazer. Vamos fazer uma prateleira das chamadas terras improdutivas desse país e terras devolutas que a gente pode fazer assentamento agrário, para quem quiser trabalhar no campo sem precisar brigar com ninguém”, completou.

A questão da invasão de terras provocou um grande desgaste ao governo no início do mandato, com o MST chegando a ocupar uma área da Embrapa. As ações levaram a Câmara dos Deputados a abrir uma CPI para investigar o tema.

Além dos riscos da investigação de um movimento aliado, as invasões também criaram dificuldades para o governo Lula atrair o agronegócio, setor que se tornou próximo de Bolsonaro.

Em uma das tentativas de reaproximação, o governo Lula lança ainda nesta terça-feira o Plano Safra 2023/2024, que terá o valor recorde de R$ 364 bilhões.

Lula realizou nesta terça-feira (27) a sua terceira transmissão ao vivo nas redes sociais, a Conversa com o Presidente. Assim como nas anteriores, ele foi entrevistado pelo jornalista Marcos Uchôa.

As lives são tentativas da Secretaria de Comunicação da Presidência de impulsionar o desempenho do mandatário nas redes sociais, campo que foi bastante explorado pelo bolsonarismo.

O governo buscou deixar claro que as transmissões seriam diferentes das lives de Jair Bolsonaro (PL), que usava o espaço muitas vezes para disparar fake news e ataques contra os adversários. Lula, no entanto, descumpriu a sua promessa na segunda transmissão e usou o meio para atacar adversários.

Voltou a chamar Jair Bolsonaro de fascista e disse que o então presidente, após perder as eleições, ficou “trancado dentro de casa para ficar preparando o golpe.”

A live desta terça-feira dedicou bastante tempo para questões mais amenas, como a vida pessoal do presidente e alguns bastidores de suas viagens oficiais ao exterior.

Lula disse que não gosta de viver no Palácio da Alvorada, porque é tudo muito grande, precisa caminhar “200 metros” para ir buscar um café, outros 40 metros para ir ao banheiro.

O presidente então relatou que está com “saudades” de sua casa, em São Paulo.

“Ontem estava me queixando com a [primeira-dama] Janja que estava com saudade de casa, faz tempo que eu não vou em casa. Estou precisando ir para ver meus filhos, inclusive. Mas aí chegou a viagem para a Bahia, eu tenho que viajar”, afirmou.

Lula ainda comentou que não costuma de alimentar bem durante as viagens ao exterior e que não gosta da comida de palácios, de uma forma geral. Em um momento bastante explorado pelo entrevistador, para mostrar o lado pessoal do presidente, ele respondeu que prefere “feijão com arroz” e refeições de maior substância.

O presidente também abordou em diversos momentos a questão da desigualdade, acrescentando que esse é um dos pontos que o une ao Papa Francisco, com quem encontrou no Vaticano na semana passada. Relatou que o papa e ele trabalham para transformar a questão da desigualdade em algo capaz de “indignar a sociedade”.

“O Papa Francisco é o grande líder que temos hoje na face da terra. Embora não seja um político militante, as falas dele são palavras de conteúdo muito forte, como a questão da paz, da desigualdade”, afirmou.

RENATO MACHADO / Folhapress

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