Ricardo era moreno, cabelos encaracolados. O dente da frente trincadinho traduzia uma das características da sua personalidade: inquietude.
Desfilava pelo pátio do colégio com ares de rei do pedaço. E era!
Um galã, no alto dos seus 13 anos.
Ouso dizer que oitenta por cento das meninas da escola eram apaixonadas por ele, eu inclusive. É! Ricardo foi o meu segundo amor(*).
Tímida, alimentava o sentimento platonicamente e como nunca fui exatamente um modelo de beleza, ficava bem quietinha observando meu objeto de desejo andando de mãos dadas com as beldades da escola. Cada dia uma.
Oh disputa era acirrada, aquela!!!
Uma das diversões da época eram os “bailinhos”. Febre entre meus colegas bastava marcar a data e o assunto tomava conta do “recreio”.
Meninas, sempre meninas, falando sobre roupas, sapatos e acessórios. Meninos indiferentes, ouvindo enfastiados o blá blá blá das “chatinhas” e eu de fora disso tudo com uma inveja danada.
Quase na metade do ano – estava na quinta-série e era nova no colégio – me convidaram finalmente para um. Fiquei tão feliz que nem dormi direito.
Dia de festa, roupa de acordo, segui com minha mãe para o prédio da vez. Duas mil, quinhentas e quarenta e duas recomendações depois, desci do carro e toquei o interfone. Voz tímida:
– Vim pro bailinho da Karina.
– Sobe a escada à esquerda e contorna a piscina. Você já vai ver o salão.
O ritmo do meu coração aumentava na mesma proporção que a distância diminuía.
Já dentro do salão procurei pelos cabelos pretos encaracolados, que emolduravam aquele rosto lindo. Ah, ele tinha olhos pretos, grandes, curiosos. E um sorriso… oh meldels! Como podia ser tão sensual aos 13?
Achei. Ele sorrindo – como sempre – no meio de uma rodinha. De novo o centro das atenções.
Num misto de alegria por vê-lo e tristeza, por não fazer parte daquilo, fiquei parada admirando toda a energia que ele emanava. Era incrível !
De repente ele me viu. O sorriso se desfez, o olhar mudou – ficou penetrante, intenso – ele saiu do meio da roda e veio caminhando na minha direção com passos firmes. Parecia bem certo do que estava fazendo.
Cheguei a olhar pra trás na busca do possível alvo e me dei conta que não tinha mais ninguém. A coisa era comigo mesmo. Minha garganta secou, minha mão transpirou, meu coração quase saiu pela boca.
Ricardo parou diante de mim e abriu um sorriso delicioso:
– Você quer dançar comigo?
Nem respondi e ele, sempre tão seguro de si, já colocou a mão na minha cintura e colou o rosto no meu.
A “vitrola” tocou “Mandy “ e tive os 3 minutos mais intensos na vida de uma menina de 11 anos de idade.
*Estou escrevendo a história do meu primeiro amor. Como foi o primeiro e cheio de significados, exige mais cuidado. Fica de olho. Logo, logo publico.