SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou o segundo trimestre com alta de 15,9%, a 118.087 pontos, em seu melhor desempenho trimestral desde dezembro 2020, apoiada pela perspectiva de queda de juros e pela melhora dos indicadores econômicos do Brasil, em especial a partir abril. No ano, o Ibovespa acumula alta de 7,6%.
Já o dólar registrou seu pior desempenho semestral desde 2016, caindo 9,3% desde o início do ano. A moeda americana perdeu força ante o real também por causa das projeções otimistas para a economia brasileira neste ano, o que atrai capital estrangeiro e impulsiona a divisa brasileira.
No trimestre, a moeda americana acumula queda de 5,54%, maior desvalorização da divisa desde março de 2022, e terminou o mês de junho cotada a R$ 4,788.
O bom desempenho da Bolsa brasileira no semestre foi garantido pelos últimos três meses, quando as primeiras projeções otimistas para a economia começaram a aparecer. No fim de março, o Ibovespa acumulava queda de 7,1% no ano e registrava seu pior trimestre desde 2020, no início da pandemia, com 101.882,20 pontos.
Em abril, os primeiros sinais de melhora começaram a aparecer. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou no dia 11 que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de março veio abaixo do esperado, o que fez a Bolsa ter sua maior alta diária em seis meses.
Já em maio, as projeções foram consolidadas, quando o IPCA-15 registrou o menor resultado para o mês desde 2021, o que surpreendeu o mercado. Além disso, no fim do mês, o novo arcabouço fiscal foi aprovado na Câmara, o que contribuiu para diminuir a percepção de risco fiscal no país.
“A aprovação do arcabouço fiscal foi um alívio para o mercado como um todo. Apesar de não ter sido da maneira prevista, ele mostrou um norte e possibilitou a vinda de bastante fluxo estrangeiro para o Brasil, principalmente entre maio e junho, que tem se mantido”, diz Apolo Duarte, chefe de renda variável e sócio da AVG Capital.
O otimismo foi reforçado após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, que surpreendeu positivamente ao crescer 1,9%. O dado desencadeou uma série de revisões para cima das estimativas de crescimento do Brasil.
Como impulso adicional, a agência de classificação de risco S&P elevou sua perspectiva de longo prazo para o Brasil de “estável” para “positiva”, citando sinais de maior certeza de estabilidade na condução da política fiscal e monetária. A notícia derrubou o dólar e deu fôlego à Bolsa brasileira.
Isso porque a melhora no ambiente fiscal e nas projeções de alta de preços criou condições para um corte na Selic, que foi sinalizado pelo Copom (Comitê de Política Monetária) na ata de sua última reunião. A expectativa do mercado, reforçada pelo documento, é de uma redução de juros em agosto, o que deve beneficiar as empresas brasileiras ao facilitar a tomada de crédito para investimento.
Os juros futuros, aliás, vêm registrando quedas sucessivas e operam em seus menores níveis do ano neste mês. Os contratos com vencimento em janeiro de 2024 saíram de 13,52%, no início de 2023, para 12,85%, refletindo as expectativas de cortes na Selic, atualmente em 13,75%. A expectativa do mercado é que a taxa básica de juros brasileira termine o ano em 12,25%.
As curvas longas tiveram quedas ainda maiores. Desde o início do ano, os juros para 2025 caíram de 12,91% para 10,74%, enquanto os para 2026 saíram de 12,87% para 10,09%. Para 2027, os contratos foram de 12,91% para 10,11%.
Nesta semana, o CMN (Conselho Monetário Nacional) fixou a meta de inflação do Brasil para 2026 em 3% e manteve os objetivos já definidos anteriormente de 3,25% para 2023 e 3% para 2024 e 2025, em linha com as expectativas do mercado, o que aliviou a tensão e contribuiu para a queda dos juros.
Na visão do economista-chefe para América Latina do Oxford Economics, Joan Domene, a decisão do CMN sustentará a queda das expectativas de inflação. Ele decidiu antecipar a projeção para um primeiro corte de juros em agosto, citando ainda um tom menos conservador na ata da última reunião Copom.
Duarte, da AVG, também afirma que a fixação da meta dará mais fôlego à queda das curvas de juros.
“[A decisão] Melhora as expectativas como um todo, refletidas na queda dos juros futuros, principalmente. Se tivermos uma inflação que confirme essa possibilidade de queda e mostre-se mais controlada, a queda de juros do segundo semestre pode surpreender as expectativas”, diz.
A performance do dólar ante o real também foi impactada pela melhora indicadores dos indicadores. Com o otimismo das expectativas para economia brasileira, o país torna-se mais atrativo para recursos estrangeiros, o que valoriza a moeda brasileira.
Além disso, o alto nível dos juros do país auxiliou o real nos últimos meses, já que a Selic em alta aumenta a atratividade da renda fixa do Brasil. Neste mês, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) promoveu sua primeira pausa na escalada de juros iniciada em março de 2022 nos Estados Unidos, o que aumentou ainda mais o diferencial entre as taxas brasileiras e americanas.
Mesmo num cenário de corte de juros próximo no Brasil, porém, a expectativa é que a moeda americana continue a registrar queda ante o real, apoiada principalmente pela atração de recursos para a Bolsa brasileira. Esta, por sua vez, é ancorada pelas projeções de melhora no ambiente fiscal.
Além disso, as taxas de juros reais do país, que desconsideram o IPCA, também continuariam elevadas num cenário de enfraquecimento da alta de preços. Em relatório recente, o banco Goldman Sachs projetou que o dólar deve terminar o ano cotado a R$ 4,40, citando justamente a manutenção do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos ancorado pela diminuição da inflação.
Segundo o boletim Focus, do BC, analistas esperam que a inflação termine o ano em 5,06%, ante 5,12% nas projeções da semana anterior. Para o PIB, a previsão de crescimento foi de 2,14% para 2,18%.
Para o próximo semestre, as expectativas do mercado estão na tramitação da reforma tributária no Congresso, o que, na visão do mercado, também melhoraria o ambiente fiscal.
**BOLSA E DÓLAR TÊM QUEDA NO DIA APÓS CMN E INFLAÇÃO DOS EUA**
No pregão desta sexta, tanto a Bolsa quanto o dólar fecharam em queda após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos e ainda refletindo a reunião do CMN realizada na quinta.
Pela manhã, o Departamento de Comércio dos EUA divulgou que os gastos do consumidor do país desaceleraram em maio, indo de 0,6% no mês anterior para 0,1%. Já o PCE, índice de inflação acompanhado pelo Fed (Federal Reserve, o banco central americano) para a tomada de decisões sobre juros, subiu 0,1%, após alta de 0,4% em abril.
Os dados de inflação sinalizaram uma desaceleração econômica e inflacionária nos EUA e alimentaram o apetite ao risco, favorecendo os ativos de renda variável e, com isso, depreciando o dólar. O índice DXY, que mede o desempenho do dólar ante outras moedas fortes, caiu 0,41% nesta sexta.
Operadores alertavam, ainda, para maior instabilidade nos negócios antes da formação da Ptax de fim de mês e semestre nesta sexta. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.
Na Bolsa, o Ibovespa teve queda puxado especialmente pelas ações da Petrobras, que caíram 4,93% e foram as mais negociadas da sessão após a petroleira ter anunciado mais uma redução no preço da gasolina para as distribuidoras.
O índice também foi pressionado por uma queda de 1,81% da Vale, em dia de queda do minério de ferro no exterior.
Nos Estados Unidos, as Bolsas tiveram alta, apoiadas pelos dados de inflação. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq subiram 0,84%, 1,23% e 1,45%, respectivamente.
Redação / Folhapress