Forças de segurança fazem jogo de gato e rato contra garimpo em território yanomami

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Os grupos de garimpo ilegal que ainda estão presentes dentro da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, mudaram sua forma de atuar e passaram a usar a proximidade com a fronteira venezuelana para escapar das autoridades brasileiras.

A Folha de São Paulo sobrevoou o território por mais de duas horas no último dia 27, a convite das Forças Armadas, com o objetivo de passar por Homoxi —um dos maiores pontos de extração ilegal, com mais de 16 km de extensão, agora desativado— e pela aldeia Palimiú, ponto de apoio da operação.

Foram avistados no trajeto garimpos aparentemente desativados, uma pista de voo clandestina, uma aeronave e ainda uma possível embarcação irregular.

Agentes afirmam que a missão tem sido dificultada pela extensão da área, a maior terra indígena do país (96.650 km²). Isso permite que aviões ilegais escapem cruzando a fronteira, em uma espécie de jogo de gato e rato.

A operação contra a exploração ilegal do território yanomami começou no início de fevereiro deste ano, após o presidente Lula (PT) visitar a região e o Ministério da Saúde declarar estado de emergência sanitária no local.

Desde então, Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e Força Nacional, junto com a Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) e com as Forças Armadas atuam para expulsar os garimpeiros.

No início do ano, a situação de saúde era grave no local, com alta incidência de malária e de desnutrição —problemas, em grande parte, causados pelo garimpo ilegal.

Os postos de saúde indígenas foram encontrados com uma série de problemas. A lista inclui falta de alimentos, medicamentos e com problemas de limpeza, como fezes espalhadas pelo chão.

Durante sua gestão, Jair Bolsonaro (PL) incentivou o garimpo, inclusive propondo leis para regulamentar a extração dentro dos territórios indígenas, o que hoje é proibido. De 2020 para 2022, a atividade ilegal triplicou na região, segundo dados da PF.

Após cinco meses da operação de desintrusão, os garimpeiros perderam espaço dentro do território e hoje se concentram em poucas regiões. O meio ambiente também já começa a dar sinais de recuperação.

Em comparação com janeiro, em junho os rios não apresentam mais a cor marrom claro, consequência da perfuração do solo para extração do ouro, o que faz com que a terra se misture a água e a deixe barrosa, além de contaminá-la com mercúrio.

Também o entorno dos garimpos desativados já começa a apresentar vegetação rasteira.

A estimativa informal das forças de segurança é que atualmente apenas 10% dos garimpeiros seguem atuando no local.

Pessoas envolvidas nas ações afirmam, sob anonimato, que o perfil de atuação desses grupos mudou a partir da operação do governo. Entre as novas táticas estão o aumento do trabalho noturno, a criação de acampamentos dentro da mata e o enterramento de equipamentos durante o dia para dificultar a fiscalização.

Segundo essas pessoas, os garimpeiros se escondem em pontos que ficam até 5 quilômetros dentro da mata e também estão nas regiões mais próximas da fronteira com a Venezuela.

Com os principais rios da região bloqueados, o suprimento precisa ser feito por via aérea.

Segundo integrantes da FAB (Força Aérea Brasileira), os pilotos das aeronaves oficiais foram a avisar o controle da missão sempre que avistarem aviões suspeitos.

É então feita a checagem se há alguma aeronave autorizada a voar naquela rota —todos os planos de voo na região precisam ser previamente aprovados, inclusive os relacionados à saúde indígena.

Em caso de resposta negativa, existe um avião da Força Aérea de plantão 24 horas por dia na base que pode decolar em até dez minutos.

“Em caso de suspeita, são submetidas a procedimentos de interrogação por parte das aeronaves em alerta [no chão ou em voo], que podem resultar em pedido de mudança de rota e pouso obrigatório”, afirmou o coronel da FAB, Murilo Grassi Salvatti, que atua desde o início da operação.

A estratégia, no entanto, tem enfrentando dificuldades, segundo membros da operação ouvidos sob anonimato.

Além da fuga para Venezuela, outras táticas usadas pelos garimpeiros incluem passar com a aeronave dentro de nuvens, o que dificulta a visibilidade, e fazer pousos rápidos em pistas clandestinas, decolando novamente antes que a equipe da PF consiga chegar no local.

Até agora, nenhum avião ou helicóptero do garimpo foi abatido, apenas tiros de alerta foram dados.

Procurada para dar mais informações sobre as interceptações, a FAB enviou notícias publicadas em seu site sobre quatro aeronaves do garimpo destruídas em operações, duas interceptadas durante o voo e outras duas encontradas no chão.

JOÃO GABRIEL / Folhapress

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