RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O ministro da Justiça, Flávio Dino, determinou a abertura de um procedimento na Polícia Federal para investigar um delegado federal suspeito de ter agredido um professor de história do Colégio Franciscano Nossa Senhora do Carmo, em Guaíra (a cerca de 640 km de Curitiba), no Paraná. O filho do delegado estuda na instituição. O caso aconteceu na última sexta-feira (30).
A reportagem procurou o delegado por mensagem, mas não houve resposta. A polícia não confirmou sua identidade, e a reportagem optou por não divulgar seu nome para preservar o adolescente.
O professor de história Gabriel Barbosa Rossi, 30, também foi procurado por telefone e mensagem, mas não respondeu aos contatos.
A Polícia Civil abriu inquérito para investigar e o caso e colheu os depoimentos do delegado e do professor. A Procuradoria da República do Paraná disse que uma representação foi protocolada pedindo apuração. O caso ainda será distribuído a um procurador.
Segundo o portal G1, o delegado contou à polícia que o caso aconteceu depois que o estudante foi advertido por declarações supostamente discriminatórias, durante a aula de história do professor. O filho teria contado sobre a advertência ao pai, que resolveu ir ao colégio.
No depoimento, o delegado disse que a briga aconteceu após o professor ter dito que “soltaria fogos de artifício” se o estudante saísse do colégio. O delegado disse que seu filho foi chamado de nazista.
Gabriela Rossi, 25, irmã do professor, confirmou à reportagem que o docente afirmou que ficaria aliviado quando o aluno saísse do colégio.
“Ele dava aulas para esse aluno há três anos e sempre ouvia comentários machistas, homofóbicos, comentários desnecessários sobre outros professores e até brincadeiras de cunho nazistas. Mas Gabriel nunca disse que o menino era nazista”, diz Gabriela.
Quando o professor deixou a escola, por volta do meio-dia, o delegado o esperava na porta, conta a irmã.
“O pai do aluno se apresentou e Gabriel estendeu a mão para cumprimentá-lo e o convidou para entrar na escola para conversar. Nesse momento, ele gritou com Gabriel, colocou a mão na arma e disse: ‘Sou delegado e você está preso'”, relata.
“O delegado enforcou meu irmão, o arrastou por uns dois metros e o pressionou contra o porta-malas de um carro. Colocou a arma a centímetros dos olhos do meu irmão”, completa.
O colégio disse que o professor de história foi afastado temporariamente por motivos médicos. Ele é acompanhado por psicólogos.
Em nota, a instituição disse lamentar profundamente o episódio e que a “agressão é inadmissível, acima de tudo, em uma instituição de ensino, a quem cabe o mais importante dever social, que é o de educar as crianças e o jovens, preparando-os para o exercício da cidadania”.
“Reiteramos nosso apoio ao professor agredido e vale ressaltar que nada justifica uma agressão, seja física, moral ou verbal, e será sempre um ato repudiável, independentemente das razões que possam levar alguém a cometer tal atitude”, completou a instituição.
Ainda não há definição sobre a permanência do adolescente -os alunos entraram de férias na sexta. O corpo jurídico do colégio se reúne na quinta-feira (6) para definir se irá expulsá-lo e se irá entrar na Justiça contra o delegado.
Familiares e amigos do professor realizam nesta quarta uma manifestação contra as supostas agressões. O ato acontece em frente à Câmara Municipal de Guaíra.
O ministro Flávio Dino (Justiça) publicou no Twitter que a Polícia Federal vai apurar o caso.
“Sobre a denúncia veiculada pelo Professor Gabriel Barbosa Rossi, no Paraná, informo que já houve o registro formal e as apurações administrativas serão procedidas na Polícia Federal, visando ao esclarecimento dos fatos e cumprimento da lei”, escreveu Dino, na noite de segunda (3).
YURI EIRAS / Folhapress