Bispo volta à prisão 2 dias após ser solto pela ditadura da Nicarágua, diz jornal

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Libertado da prisão na última segunda (3) como parte de uma longa negociação entre a ditadura da Nicarágua e o Vaticano, o bispo Rolando Álvarez voltou para a cadeia nesta quarta-feira (5), após a continuidade das tratativas fracassar. O religioso foi detido no ano passado, em ação que aumentou as tensões entre o regime comandado por Daniel Ortega e Rosario Murillo e a Igreja Católica.

A informação foi confirmada pelo jornal local Confidencial. Nos dois dias em que esteve em liberdade, Álvarez ficou nas dependências episcopais da capital Manágua. Mesmo antes de ele voltar à prisão, fontes diplomáticas já haviam alertado que seu futuro era incerto.

Álvarez foi preso em agosto de 2022 na diocese de Matagalpa, uma das mais perseguidas pela ditadura —além dele, também foram detidos na ocasião quatro sacerdotes, dois seminaristas e um funcionário do lugar, acusados de fomentar ódio e realizar atividades desestabilizadoras.

O bispo foi sentenciado a 26 anos e quatro meses de cadeia e privado da cidadania. Um dia antes da condenação, recusou-se a embarcar em um avião com destino aos EUA, junto de 221 exilados políticos.

O caso provocou indignação e protestos em vários países. Segundo o jornal Confidencial, o Vaticano enviou um representante a Manágua para negociar a libertação de Álvarez, mas ele teria mais uma vez se recusado a deixar a Nicarágua. O bispo voltou a dizer que não cometeu crimes e ainda exigiu a liberdade de todos os religiosos presos no país.

Álvarez admitiu que pode reconsiderar a decisão se receber uma ordem do papa Francisco para deixar a Nicarágua. Autoridades do Vaticano afirmam que o pontífice acompanha de perto a situação do bispo.

O religioso voltou para a cela de segurança máxima da qual foi enviado em fevereiro. A prisão de Álvarez no ano passado marcou uma escalada na perseguição à Igreja Católica no país. Desde então, a ditadura suspendeu rádios católicas, congelou contas bancárias da instituição, fechou igrejas —obrigando padres a oferecer a eucaristia por trás das grades ou por janelas— e expulsou do país ao menos 84 religiosos.

Os laços formais entre o regime da Nicarágua e o Vaticano foram rompidos neste ano, após o papa Francisco descrever Ortega como uma pessoa “desequilibrada” e comparar o regime nicaraguense à União Soviética.

Em reunião com o pontífice em junho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu interceder em favor da libertação do bispo. Na mesma época, a Corte Interamericana de Direitos Humanos exigiu a soltura de Álvarez, estabelecendo como prazo máximo de início do trâmite a data de 7 de julho.

As tensões entre a ditadura e a igreja começaram bem antes, porém, nos protestos de 2018, quando milhares de pessoas saíram às ruas para se manifestar contra Ortega. À época, eclesiásticos deram refúgio a jovens que participaram dos protestos.

Na repressão, mais de 300 pessoas foram assassinadas.

O racha atual marca um novo capítulo de uma relação de colaborações e fricções que começou com a Revolução Sandinista, em 1979. Num primeiro momento, lideranças católicas apoiaram o sandinismo, em oposição à ditadura dos Somoza, no poder desde 1937.

Entre eles, destacavam-se padres vinculados à Teologia da Libertação. Tal era a proximidade que, na primeira junta de governo após o fim do regime, havia quatro sacerdotes, entre os quais o poeta Ernesto Cardenal. Ortega integrava o grupo, assim como Violeta Chamorro e outros que passariam à oposição ao ditador.

Com a dissolução da junta, o apoio dos religiosos ao hoje ditador se dividiu, com críticos muito contundentes ao regime, como Miguel Obando y Bravo, que foi arcebispo de Manágua e morreu em 2018.

Redação / Folhapress

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