Corinthians: Diretor celebra receita recorde e explica dívida cair ‘pouco’

SANTOS, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O Corinthians aumentou consideravelmente a arrecadação nos últimos anos e deve terminar 2023 com valores entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão. Mesmo assim, a diminuição da dívida do clube ainda é discreta. Wesley Melo, diretor financeiro do time alvinegro, deu as respostas para essa equação em entrevista ao UOL.

O principal desafio do Corinthians é lidar com os juros. A gestão de Duilio Monteiro Alves assumiu o clube com uma dívida de cerca de R$ 950 milhões em 2020 e reduziu para R$ 910 mi em 2022.

“Nossa dívida está em cerca de R$ 900 milhões. E o custo da Selic [taxa básica de juros da economia) está em 13,75% (ao ano). O banco cobra 13,75% + um spread [diferença entre o preço da compra e o preço da venda]. Então o banco cobra por volta de 16,17% de juros ao ano. A nossa dívida hoje está estabilizada, não cresce mais. Mas se você pegar o custo do dinheiro nesse período, ele foi muito alto. A inflação passou de 20%. Isso significa que a gente conseguiu realmente pagar boa parte da dívida e não deixou que esses juros Brasil, que corroem tanto o nosso fluxo de caixa, continuassem alavancando a nossa dívida”, diz o diretor financeiro.

Wesley entende que a redução da dívida em cerca de R$ 40 milhões é relevante diante do contexto. O diretor aponta que a dívida assumida em 2020 seria de R$ 1,1 bilhão hoje. “Pode não parecer uma queda nominal, mas se levar em conta projeção de inflação de juros, existiu, sim, uma queda”.

MUDANÇA DE CULTURA

O diretor financeiro do Corinthians comemora o que ele chama de “nova visão” em todos os departamentos do clube. Wesley Melo conta que as gerências se conversam periodicamente e têm sempre o objetivo de gastar menos do que é arrecadado.

O clube alvinegro destaca o EBITDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) positivo e afirma que pagou mais de R$ 200 milhões de dívidas de gestões anteriores a Duilio.

“Se somar o quanto esse EBITDA, o fluxo de caixa positivo, gerou em 2021 e 2022, dá mais de R$ 300 milhões. É um número público, registrado nas demonstrações financeiras do Corinthians. Esse fluxo de caixa positivo é que permite a gente pagar despesas correntes e fazer algum tipo de amortização da nossa dívida”.

O resultado nesses dois anos e meio de gestão de Duilio é comemorado pelo Corinthians “até a página 2”.

“Ainda é pouco frente à nossa necessidade, a gente tem de fato R$ 900 milhões de dívida, então é pouco, mas temos que continuar com esse trabalho. A gente de certa forma comemora, mas comemora até um minuto, porque depois a gente cai para a realidade e sabe que a situação é bem difícil, apesar da mudança de mentalidade dentro do clube”.

REFORÇO

O diretor financeiro do Corinthians entende que a parceria com a Falconi Consultoria foi determinante para equilibrar as contas.

A empresa de consultoria financeira faz acompanhamento mensal. Nessas reuniões, todos os diretores do time conversam com presidente, vice-presidente e Falconi para demonstrar o resultado real versus o orçado. Qualquer variação precisa ser justificada.

“A Falconi nos ajuda a entender o lucro final, quanto de fato sobra lá no fim das contas. Na última linha, sobraram R$ 20 milhões nesses dois anos. E como eu tenho lucro operacional tão alto se me sobra R$ 20 milhões? A diferença está no que não é operacional: os juros. Se eu não tivesse nenhum tipo de dívida que gerasse juros, o lucro final seria de R$ 300 milhões. A vida seria muito diferente”.

COMO A ARRECADAÇÃO AUMENTOU?

Wesley Melo vê três principais fatores para a receita do Corinthians aumentar e beirar R$ 1 bilhão por ano.

A Falconi: “Facilitou o caminho. Sozinhos, talvez não conseguíssemos fazer. Não consigo mais imaginar o Corinthians sem a consultoria”.

Marketing: “É um crescimento de mais de 100% nas receitas de captação, licenciamento, transmissão. Um trabalho incrível”.

Departamentos autossuficientes: “Tentamos que cada departamento do clube ande por si só e arrecade mais do que gasta. O futebol feminino, por exemplo, está praticamente autossustentável. E o Corinthians possivelmente é o que mais investe no futebol feminino, trazendo receitas importantes, vencendo títulos e, o mais importante, com o carinho do torcedor. Temos muito orgulho”.

DÍVIDAS DE CURTO PRAZO

Dos R$ 900 milhões de débitos no total, o Corinthians tem R$ 400 milhões a pagar em curto prazo. A arrecadação aumentou, mas o dinheiro não é suficiente para pagar tudo e escolhas são feitas diariamente.

O Timão prioriza salários e relata nunca ter atrasado nesses dois anos e meio de Duilio.

“Se entra um dinheiro significativo de jogador ou patrocínio, a gente já usa na nossa lista de prioridades e paga. Mas nem sempre conseguimos pagar tudo e não escondemos”.

Foi assim que o Corinthians recebeu o transfer ban, punição da Fifa que impede o registro de novos jogadores. O clube precisou vender Mantuan e Pedro ao Zenit (RUS) para quitar esses débitos urgentes e regularizar a situação.

“A gente conseguiu, pagou e estamos livres dessa penalidade. Foi tudo pago antes da reabertura da janela, no dia 3, e temos nada pendente. Agora é uma questão burocrática, de documentação, mas financeiramente conseguimos resolver”.

E COMO CONTRATAR?

O Corinthians precisa equilibrar a necessidade de reduzir a dívida e os custos do dia a dia com a importância de trazer novos jogadores. Neste momento, o clube alvinegro briga contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

A estratégia do Corinthians tem sido priorizar jogadores livres no mercado, como foi o caso de Rojas, ex-Racing (Argentina). O time entende que o investimento em luvas e comissão para empresários normalmente será menor do que adquirir direitos econômicos.

Há exceções, como foi Fausto Vera e o investimento de cerca de R$ 33 milhões junto ao Argentinos Juniors (Argentina). Quando enxerga que precisa gastar com algum atleta, Duilio aciona o financeiro e conversa com Wesley Melo e outros profissionais.

“O Duilio é um gestor, né? Quando assumiu, ficou de janeiro a agosto sem contratar. A preocupação do Duilio passa pelo futebol, claro, ninguém quer brigar para não cair. Mas ele não prometeu títulos. Sempre falou que o nosso grande objetivo era pagar contas. Precisamos corrigir a parte financeira e administrativa, até para voltar a ganhar, né? Se a gente conseguir título dentro desse processo, ótimo. E quase conseguimos ano passado”.

“Investimos no Fausto Vera, conseguimos uma composição pelo Yuri Alberto e hoje eles valem muito mais, foram investimentos certeiros. E a janela está aberta, podemos fazer outros movimentos. Somos o Corinthians, um clube gigante, com arrecadação gigante. É fácil contratar jogadores, mas nós temos que fazer o caminho mais difícil, que é melhorar a situação financeira do Corinthians. E é isso que temos tentado fazer todos os dias”, concluiu Wesley Melo.

LUCAS MUSETTI PERAZOLLI E GABRIELA BRINO / Folhapress

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