Morte de MC Daleste segue sem conclusão dez anos após crime

CAMPINAS, SP (FOLHAPRESS) – Dez anos depois do assassinato de Daniel Pedreira Sena Pellegrini, o MC Daleste, então com 20 anos, o crime que tirou a vida do funkeiro em Campinas, no interior de São Paulo, continua sem respostas.

Daleste foi atingido por dois tiros enquanto se apresentava em um show na periferia da cidade, na noite de 7 de julho de 2013.

Paulistano da zona oeste, o artista morreu num momento de ascensão da sua carreira musical, levantando suspeitas na época de crime passional -motivado por questões emocionais, como inveja.

Entre as hipóteses, a polícia trabalhava ainda com a possibilidade de conflito com outros funkeiros e até envolvimento com o crime organizado. Por fim, nenhuma delas foi comprovada e a investigação foi arquivada.

Mesmo após uma década do crime, membros da cena do funk paulista têm o cantor como lenda do gênero e serve de inspiração para jovens que almejam um espaço na cena.

Na ocasião do assassinato, a informação de que se tratava de Daniel veio no dia seguinte à morte, impondo uma força tarefa à Polícia Civil. Segundo o estado, mesmo após três anos de apuração, faltam provas.

“O inquérito foi relatado e remetido ao Poder Judiciário em 2015. Em julho de 2020 a família da vítima pediu reabertura da investigação, no entanto, o processo foi indeferido pela Justiça por falta de provas”, afirma nota da Secretaria de Estado da Segurança Pública.

O promotor Ricardo Silvares, do Ministério Público de São Paulo, responsável pelo inquérito, diz à reportagem que a defesa da família obteve êxito em retomar as investigações, mas as provas apresentadas não tiveram “solidez para nortear o Ministério Público em relação a novos detalhes sobre o crime”.

“A reabertura do inquérito, solicitada pela advogada da família, foi feita com áudios de WhatsApp que poderiam conter algum novo detalhe. A polícia averiguou os áudios e constatou que o teor das mensagens não ia ao encontro das linhas investigativas, sendo o caso arquivado novamente”, diz Silvares.

O promotor informa ainda que ninguém foi preso durante as investigações.

Três dias após o crime, a reconstituição do crime feita pela polícia concluiu que os tiros partiram de uma casa a pelo menos 40 metros do palco. Segundo o Instituto de Criminalística, o primeiro atingiu a região da axila de raspão. O cantor teria percebido, mas prosseguiu com o show. O segundo acertou o estômago.

A suspeita da polícia é de que o atirador era experiente e não estava entre os fãs. O crime teria sido planejado. Com os dez anos completos, já correu metade do tempo para que o crime prescreva -isto é, seja arquivado em definitivo.

Moradores do bairro San Martin, na região sudoeste de Campinas, onde o crime aconteceu, evitam falar sobre o caso. O vendedor Fábio Cristino, 32, mora no local há 14 anos. Ele conta que os moradores tiveram medo. “Por isso evitam falar sobre o assunto, o crime afetou profundamente a vida de todos aqui”, diz.

O funkeiro Rodolfo Martins Costa, 29, o MC Rodolfinho, relembra os encontros que teve com Daleste. Costa ascendeu no funk na mesma época em que o cantor da zona leste já acumulava hits e faturava média de R$ 200 mil mensais.

“A minha primeira música foi inspirada em uma do Daleste, “TAQ” [sigla para Todas as Quebradas]. Fiz um som parecido em 2010, falando sobre os bairros da Zona Norte, e foi a primeira música minha que estourou”, lembra Rodolfinho.

“Ele era independente, fez carreira sozinho. Ele mostrou para vários MCs em atividade que era possível crescer sem empresário, sem produtora. Foi a partir dele que o funk se profissionalizou, na época não tínhamos inspiração. Daleste está mais vivo do que nunca, é uma lenda”, afirma.

Presidente de uma das maiores produtoras de música do país, Rodrigo Oliveira, também conhecido como Rodrigo GR6, tinha estreita amizade com o MC assassinado. Ele recorda que foi Daleste, aliado a outro MC, que o convenceu a abrir a produtora, que hoje que cuida da carreira de cantores como MC Hariel, MC Livinho e MC Ryan SP.

“Conheci o Daleste porque organizava bailes, e o contratava para cantar. Na época, eu não tinha a produtora. Ele me incentivou a abrir, a profissionalizar e graças a isso chegamos ao que somos hoje”, conta o empresário.

Oliveira conversou com Daleste por telefone enquanto o MC era levado para um hospital em Campinas. “Ele estava rindo, confiante, dizendo que isso seria motivo de piada. Mas quando chegou ao hospital não resistiu”, lamenta.

Influenciadas pelo caso de Daleste, as produtoras mudaram suas estratégias de segurança, implementando reconhecimento de local antes dos shows e reforçando o staff de segurança. O modelo foi adotado também pela GR6.

“Daleste foi uma grande inspiração para todos e, através das músicas da nova geração, será para sempre lembrado. É usado de exemplo para meninos novos, tanto no sentido de como agir, em relação à música e talento, e de como não agir, em relação a escolher bem o ciclo de amizades”, disse o empresário.

O dia 7 de julho marca o Dia do Funk no estado. A data foi instituída em 2016, em homenagem a Daleste, após projeto da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), que foi sancionado pelo então governador Geraldo Alckmin.

LUIS EDUARDO DE SOUSA / Folhapress

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