SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As taxas no mercado de juros futuros, que embutem as expectativas dos agentes financeiros para o rumo da política monetária, operam em forte alta nesta terça-feira (11) após a divulgação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de junho.
O índice de preços teve queda de 0,08% em junho, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É a primeira vez que o índice oficial de inflação fica negativo em nove meses, o que é chamado de deflação.
O resultado de junho ficou próximo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam recuo de 0,10%, após o avanço de 0,23% registrado em maio.
Para analistas ouvidos pela Folha, apesar de o resultado ser positivo, a inflação de serviços, que subiu 6,2% em junho, continua pressionando os preços, o que reforça a aposta de que o Banco Central irá cortar os juros em 0,25 ponto percentual, e não em 0,50 em agosto.
Apesar de ter ficado apenas pouco acima do consenso, os juros futuros têm forte alta nas taxas -o contrato para janeiro de 2025 avançava de 10,75% na véspera para 10,85% nesta terça, enquanto o título com vencimento em 2027 subia de 10,15% para 10,24%.
Segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho para América Latina, embora o IPCA tenha vindo próximo do esperado pelo mercado, ao analisar a composição do resultado, o quadro não é tão positivo.
Ele indica que os núcleos da inflação, que buscam captar tendências para os preços, seguem pressionados na casa dos 6%, bem como a inflação de serviços, que também se mantém em patamar elevado, de 6,2%.
“A abertura dos dados mostrou uma inflação de núcleos e serviços resiliente”, afirma Rostagno. O estrategista diz que, nas últimas semanas, vinha ganhando força entre os investidores a aposta de que o BC (Banco Central) daria início ao ciclo de corte de juros em agosto com uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Para Rostagno, o IPCA de junho mostra uma persistência acima do esperado e dá respaldo à ala mais conservadora do Banco Central, o que faz corte de 0,25 ponto em agosto passar a ser o mais provável.
João Savignon, responsável pela área de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, diz que é positivo o fato de o país ter registrado uma deflação após nove meses.
“Mas vale destacar que a composição do IPCA de hoje revelou que a cara do índice ou o seu qualitativo veio pior que o antecipado pela gente. Com essa dinâmica, BC deve manter a parcimônia e pender para o corte de 0,25 ponto Selic em sua próxima reunião, conforme nosso cenário base.”
“O quadro qualitativo da inflação foi pior do que o antecipado por nós, com serviços mostrando uma dinâmica ainda longe de dar conforto adicional para o Banco Central. Desta forma, mantemos nossa projeção de um corte de 0,25 ponto em agosto”, diz Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez.
Diretor de investimentos da gestora Tag, André Leite acrescenta que a inflação de serviços acima do esperado é condizente com um corte de 0,25 ponto da Selic em agosto.
Leite afirma que também é preciso levar em consideração o cenário externo, com os preços ainda em patamares elevados nas economias desenvolvidas e os bancos centrais globais revendo para cima o ciclo total de alta dos juros.
“Os bancos centrais emergentes, onde o Brasil se inclui, engatam um ciclo de queda dos juros em um momento em que lá fora ainda não terminou a alta dos juros. Isso nos remete a um processo de queda dos juros lento e parcimonioso”, afirma o diretor da Tag.
Já o economista André Perfeito afirma que, apesar de não ser consensual, entende que há espaço para que o início do corte dos juros seja mais forte.
“Levando em conta o estilo da atual diretoria, eles tendem a ser mais incisivos nos seus movimentos”, diz Perfeito. Ele lembra que o BC cortou a Selic mais forte do que o mercado esperava na fase mais aguda da pandemia, subiu também acima das expectativas do mercado, e deixou estável por mais tempo que as apostas.
“Não vejo motivo para que não iniciem o corte de juros com 0,50 ponto, fazendo que a taxa básica chegue a 11,75% ao final do ano.”
LUCAS BOMBANA / Folhapress