Talibã proíbe atividades suecas no Afeganistão após queima do Alcorão

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O regime do Talibã anunciou nesta terça-feira (11) a proibição de qualquer atividade de organizações públicas ou privadas da Suécia no território do Afeganistão. A medida é uma retaliação à queima do Alcorão, o livro sagrado do islã, em um protesto próximo a uma mesquita de Estocolmo no mês passado.

“Após o insulto ao sagrado Alcorão e a permissão para ofender crenças muçulmanas, o Emirado Islâmico do Afeganistão ordena a interrupção de todas as atividades da Suécia”, disse em nota Zabiullah Mujahid, porta-voz do Talibã.

O governo sueco ordenou o fechamento da embaixada no Afeganistão em 2021, quando o Talibã retomou o poder. Entre as organizações que podem ser impactadas pela medida está o Comitê Sueco para o Afeganistão, que emprega 7.400 funcionários no país e desenvolve atividades nas áreas da saúde e da educação.

O Comitê Sueco para o Afeganistão não respondeu aos pedidos de comentários feitos pela agência Reuters. O regime do Talibã tampouco forneceu detalhes sobre quais organizações serão de fato atingidas pela medida.

O setor de ajuda humanitária no Afeganistão tem sido prejudicado sob o regime do Talibã, que implementou uma série de restrições. Em dezembro passado, um decreto do grupo extremista proibiu que mulheres trabalhem em ONGs no país -o grupo alega que elas estavam descumprindo regras de vestimenta islâmica. Antes disso, o regime já havia proibido mulheres de frequentarem universidades.

Ao mesmo tempo, reduções do valor de financiamento para o plano humanitário anual administrado pelas Nações Unidas sugerem que os países doadores estão recuando no apoio financeiro.

A queima do Alcorão ocorreu no fim de junho, na Grande Mesquita de Estocolmo, no primeiro dos três dias do Eid al-Adha, celebração conhecida como a “festa do sacrifício”. O refugiado iraquiano Salwan Momika, 37, arrancou folhas de uma cópia do livro sagrado, limpou a sola dos sapatos com elas e queimou o livro.

No dia seguinte, ele afirmou que não se arrependia do ato e que poderia repeti-lo. Ao jornal Expressen, disse que tinha noção das consequências do gesto e que havia recebido “milhares de ameaças de morte”.

Os governos e líderes de países muçulmanos, incluindo Turquia, Iraque, Emirados Árabes Unidos, Jordânia e Marrocos, criticaram o ato. Os EUA e o papa Francisco também condenaram a queima do Alcorão.

Em protesto, milhares de apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr saíram às ruas em Bagdá, capital do Iraque. Os manifestantes realizaram um ato em frente à embaixada da Suécia na cidade e exigiram o fim das relações diplomáticas entre os países.

O Talibã reassumiu o governo do Afeganistão em agosto de 2021. No mês passado, o grupo anunciou a segunda execução pública de uma pessoa condenada desde que retomou o poder. As penas evidenciam que os líderes do Talibã buscam repetir os aspectos mais sombrios de sua forma de ver o mundo, apesar de terem se adaptado aos novos tempos. Logo após a volta ao poder, o grupo prometeu moderação e amplos direitos às mulheres, principal alvo de sua repressão.

Relatório divulgado pela ONU, porém, indica que o tratamento destinado às afegãs pelo Talibã pode equivaler a um “apartheid de gênero”, já que seus direitos continuam sendo infringidos.

Redação / Folhapress

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