BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou à reportagem que não viu como afronta de Mauro Cid à CPI do 8 de janeiro a decisão dele de prestar depoimento fardado e disse que outros militares da ativa poderão fazer o mesmo até o final da comissão, se quiserem.
Múcio também disse que espera um veredito da CPI sobre a participação dos militares nos ataques golpistas, mas livrou o Comando do Exército de culpa. O ministro afirmou que, como no futebol, quem comete indisciplina é colocado para fora do jogo e a partida continua.
“Não vai caber a nós julgar. Os crimes que são ditos comuns, que foram crimes praticados individualmente, são crimes de civis. O comando não participou daquilo”, disse.
Múcio disse ter “uma tese” sobre os acampamentos montados nas proximidades de quartéis após a campanha eleitoral e afirmou que nem todos concordam com suas ideias.
“Ali havia duas facções do Exército convivendo naquele acampamento. Mas às Forças Armadas não interessava golpe. Em um jogo de futebol, um jogador comete uma indisciplina, você põe para fora do jogo ele. O time continua”, disse Múcio, citando que, para ele, havia os “legalistas” e os “indignados”.
O mais conhecido acampamento foi o de Brasília, de onde partiram os bolsonaristas golpistas que tentaram invadir o prédio da Polícia Federal, em 12 de dezembro, e os que depredaram as sedes dos três Poderes, em 8 de janeiro.
Como mostrou a Folha de S.Paulo nesta terça-feira (11), relatório elaborado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) em 27 de dezembro de 2022 alertou sobre a presença de um grupo extremista composto por militares da reserva no acampamento montado em frente ao quartel-general do Exército, em Brasília.
O documento descreve a atuação dos chamados “Boinas Vermelhas” ou “paraquedistas”, grupo sem nome oficial nem estrutura centralizada cujos membros, segundo a agência, “se identificam como militares da reserva das Brigadas de Infantaria Paraquedista do Exército”.
Embora Múcio argumente no sentido de que as Forças Armadas não tinham interesse em golpe, foi a cúpula do Exército que impediu o Governo do Distrito Federal de acabar com o acampamento em frente ao quartel-general.
Em depoimento à PF e a CPI, o então Chefe do Departamento Operacional da Polícia Militar do DF no dia dos ataques golpistas, Jorge Eduardo Naime, citou o general Gustavo Henrique Dutra, ex-chefe do Comando Militar do Planalto, como um dos responsáveis por evitar o desmonte do acampamento ainda em 29 de dezembro.
Sobre o uso de farda por Mauro Cid na CPI, Múcio afirmou que ele é oficial militar e tem direito a usar a vestimenta. Principal ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel não respondeu às perguntas na comissão. A ministra do STF (Supremo Tribunal Federal) Cármen Lúcia entendeu que ele deveria ir à sessão, mas poderia ficar em silêncio para não produzir provas contra si mesmo.
“Não tem o menor problema [o uso da farda]. Ele é oficial. Ele tem o direito de usar farda. Ele está preso, inclusive, usando roupa de militar, não tem nem roupa civil. [Essa foi] a informação que eu tive”, afirmou Múcio sobre Cid.
O ministro, no entanto, disse não ter acompanhado o depoimento do ex-ajudante de ordens. “Não foi afronta, não foi nada, é um direito que ele tem.”
O Exército afirmou nesta terça que Cid “foi orientado pelo Comando do Exército a comparecer fardado” à CPI “pelo entendimento de que o militar da ativa foi convocado para tratar de temas referentes à função para a qual fora designado pela Força”.
Questionado se o Ministério da Defesa está disposto a colaborar com as investigações da CPI do 8 de janeiro, Múcio disse que o episódio “precisa que seja esclarecido”.
“Esse dia o dia não tem 24 horas?, esse não acaba. Então a gente precisa que isso chegue ao fim. É bom para todo mundo.”
THAÍSA OLIVEIRA / Folhapress