Proibição de garrafas de vidro vira jogo de empurra após morte de palmeirense

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Comerciantes de ruas próximas ao Allianz Parque confirmaram à reportagem que a venda de bebidas em garrafas de vidro —como a que causou a morte da torcedora Gabriella Anelli— é proibida há muito tempo no entorno do estádio.

Segundo eles, mesmo assim, a quantidade de ambulantes vendendo bebidas nestas embalagens é sempre muito grande em dias de jogo.

A reportagem tentou confirmar quem deveria fiscalizar essa situação, mas a indicação dos responsáveis virou um jogo de empurra.

O QUE DIZ O ALLIANZ PARQUE?

A reportagem entrou em contato com os responsáveis pela arena para saber se as pessoas contratadas por eles podem ou não liberar o acesso de vendedores ambulantes no setor visitante. A resposta foi que isso é responsabilidade da Polícia Militar e que os funcionários do Palmeiras apenas estão lá para orientar torcedores.

O QUE DIZ A PM?

Procurada pela reportagem, a Polícia Militar afirma que a responsabilidade é da Prefeitura Municipal, e não deles, e que não permite a entrada de vendedores ambulantes e torcedores com garrafas de vidros na área citada.

“A Polícia Militar não libera a entrada de vendedores ambulantes no perímetro delimitado como área de segurança no entorno da Arena e não permite a entrada de torcedores com garrafas na referida área. Existe legislação a respeito do tema, podendo citar a Resolução SSP 122/85 e a Lei Estadual 9470/96, as quais restringem a venda de bebidas alcoólicas em locais de evento, inclusive “a um raio de 200 metros de distância das entradas dos estádios e ginásios de esporte”. Os comerciantes da região, após confecção de Termo de Ajuste de Conduta (TAC), junto ao Ministério Público e sem a participação da Polícia Militar do Estado de São Paulo, foram autorizados a comercializar as bebidas em copos plásticos. No entanto, nas imediações dos estádios, existe a presença de vendedores ambulantes. A fiscalização desse tipo de comércio é de competência das Prefeitura Municipal”, diz a nota.

E A PREFEITURA?

A prefeitura afirma ter realizado uma reunião com os envolvidos em eventos esportivos para definir novas estratégias de segurança. Confira:

“A Prefeitura de São Paulo informa que hoje pela manhã houve uma reunião entre clubes, torcidas organizadas, Polícia Militar, CET, GCM, Secretaria de Subprefeituras (SMSUB) e Secretaria de Limpeza Urbana (SELIMP) com o objetivo de definir novas estratégias e ações para reforçar as medidas de segurança no entorno dos estádios.

Também ficou estabelecido reforço das equipes de fiscalização e limpeza, com apoio da GCM, nos próximos eventos, conforme determinação do prefeito Ricardo Nunes.”

O QUE ACONTECEU?

A reportagem caminhou pelas ruas próximas ao Allianz Parque, na última segunda-feira (10), para saber mais informações sobre a morte de Anelli.

O dono de um bar da Rua Padre Antônio Tomás, onde Gabriela foi atingida, mostrou à reportagem um e-mail que recebe em todos os dias de jogo que deixa claro a proibição da venda de cervejas em garrafas de vidro, justamente para preservar a integridade física dos torcedores (visitantes e locais).

Falta de policiamento no dia do episódio. O mesmo proprietário —que pediu para não ter o nome publicado— afirmou que no dia do incidente sentiu falta do policiamento que fica tradicionalmente na região em dias de jogo. Normalmente, os policiais chegam por volta das 17h, mas naquele dia isso não aconteceu.

Segundo depoimentos, muitos flamenguistas estavam na rua da entrada dos visitantes desde cedo à procura de ingressos ou bebendo —mesmo antes de os tapumes que dividem as torcidas serem colocados, e existia muita provocação entre eles por causa da rivalidade recente entre as equipes.

Os relatos são de que por volta das 18h, três horas antes do jogo, não havia policiamento adequado apesar do grande movimento de torcedores. A segurança da Rua Padre Antônio Thomás é responsabilidade do Policiamento de Choque e da Guarda Civil Metropolitana.

Comerciantes da região reclamam que vendedores ambulantes conseguem acessar o setor da torcida visitante ou fazem vendas na entrada destinada a eles antes da colocação do tapume.

ENTENDA O EPISÓDIO

Gabriella Anelli morreu após ter sido atingida por uma garrafa de vidro antes do jogo entre Palmeiras e Flamengo, pelo Campeonato Brasileiro. A PM informou que a jovem foi encaminhada ao Pronto Socorro da Santa Casa e passou por cirurgia, mas teve duas paradas cardíacas e morreu na manhã de segunda-feira.

A confusão entre torcedores que vitimou Gabriela aconteceu na rua Padre Antônio Tomás, na divisão da torcida visitante do Allianz Parque. A partida teve início às 21h (de Brasília), mas o confronto entre os torcedores ocorreu cerca de três horas e meia antes.

Leonardo Felipe Xavier Santiago foi preso em flagrante, apontado como responsável por arremessar a garrafa. Ele foi denunciado por homicídio doloso consumado, quando há a intenção de matar, após a confirmação da morte de Gabriela.

Segundo o B.O. do caso, Gabriela sofreu um corte profundo no pescoço, e um segundo torcedor teve um corte no antebraço direito. O documento ainda descreveu as lesões sofridas pela palmeirense: ela teve uma lesão lacerante na veia jugular com perda de massa hemálica. A garrafada também atingiu a glândula tireoide da jovem de 23 anos.

Gabriela foi velada nesta terça-feira (11), no Memorial Parque Paulista, em Embu das Artes, e seu corpo foi cremado. As informações foram divulgadas nas redes sociais pelo irmão da jovem, Felipe Anelli.

O Flamengo e outros clubes se posicionaram sobre a morte de Gabriela.

FLAVIO LATIF / Folhapress

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