Para Steven Soderbergh, mercado de streaming não é sustentável a longo prazo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O diretor Steven Soderbergh, celebrado no cinema independente americano, fez cinco filmes para serviços de streaming nos últimos cinco anos. Mas ele questiona agora a sustentabilidade do cenário atual do mercado, e diz que o meio vai passar por novas mudanças nos próximos três anos.

“Eu tenho questões sérias sobre este modelo econômico, e muitas delas só podem ser respondidas se eles [os serviços de streaming] mostrarem os dados, o que não vão fazer”, diz Soderbergh à Folha. “Eu não acho que o atual modelo seja sustentável.”

Ele ainda elogia a Sony Pictures por não investir na criação de uma plataforma própria. “Eles fizeram uma escolha clara de não entrar no mercado de streaming e tem feito bons negócios ao só produzir filmes e séries, vendendo a terceiros. Se estivesse no comando de uma dessas empresas, eu adotaria esse modelo de negócio.”

Steven Soderbergh foi um dos diretores que mudou os parâmetros da indústria do cinema americano nos anos 1990. O sucesso comercial de “Sexo Mentiras e Videotape”, dirigido por ele e lançado pela Miramax em 1989, ajudou a formar um novo modelo de distribuição para filmes independentes, longe da interferência dos grandes estúdios do país.

Agora, o diretor lança essa semana na HBO Max a minissérie “Círculo Fechado”, em que dirigiu todos os episódios. O programa é o seu primeiro projeto depois da conclusão de um acordo de três anos de produção e distribuição com a plataforma, no fim de 2022.

Durante esse período, ele fez três filmes para o serviço: “Let Them All Talk”, de 2020 e com Meryl Streep; “Nem Um Passo em Falso”, de 2021 e com Benicio del Toro; e “Kimi: Alguém Está Escutando”, lançado ano passado e com Zoë Kravitz.

Antes disso, Soderbergh também produziu em 2019 os longas-metragens “High Flying Bird” e “A Lavanderia” para a Netflix.

Sobre o contrato com a HBO, o cineasta afirma que o acordo funcionou muito bem para ele, pois permitiu a ele ter como trabalho o ato de ser prolífico. Mas o cineasta afirma que ninguém o procurou para discutir o desempenho dos projetos.

“Eu nunca recebi um retorno [sobre os filmes]. Eles nunca me procuraram para renovar o contrato, mas eu não fiquei surpreso com isso. Eles apenas não fazem esse tipo de acordo mais.”

Soderbergh também elogiou a Warner Bros. Discovery, empresa responsável pela plataforma, pelo lançamento de “Magic Mike – A Última Dança” no começo do ano. A continuação saiu nos cinemas dos Estados Unidos antes de estrear no streaming, contrariando o plano inicial de produção para a HBO Max. No Brasil, o longa foi disponibilizado apenas para locação digital e para o serviço de streaming.

Segundo o diretor, a decisão foi tomada após o estúdio ver o filme. “Eles tinham dados que comprovavam que filmes com distribuição nos cinemas eram mais vistos no streaming e que eles conseguiam de volta o dinheiro investido no lançamento”, afirma Soderberg.

O cineasta conta que a negociação com o terceiro “Magic Mike” é o tipo de atitude que procura para os próximos trabalhos. Ele diz ter dois filmes em desenvolvimento, mas não sabe se será possível lançar ambos nas telonas.

De acordo com o realizador, as salas de cinema hoje não exibem filmes de médio orçamento. O diretor diz ter feito a carreira com esse tipo de produção, citando longas como “Irresistível Paixão”, de 1998, “Traffic” e “Erin Brockovich, uma Mulher de Talento”, ambos de 2000.

“O que parece estar funcionando para o mercado é algum tipo de espetáculo ou grande fantasia. Aí temos a A24, com produções de baixo orçamento, e depois não há nada no meio”, diz o diretor. “Os filmes feitos para adultos não existem mais nos cinemas.”

PEDRO STRAZZA / Folhapress

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