VITÓRIA, ES (FOLHAPRESS) – Quatro migrantes nigerianos foram resgatados por agentes da Polícia Federal em um navio na costa do Espírito Santo na última segunda (10). Os homens viajaram da costa da África até o Brasil na área da chamada casa do leme da embarcação, próxima à hélice.
A embarcação havia deixado a cidade de Lagos, a mais populosa e importante economicamente na Nigéria, no último dia 27 –ou seja, os imigrantes cruzaram o oceano Atlântico por 13 dias.
Os nigerianos foram encontrados na área de fundeio de Vitória por uma embarcação de manutenção. Eugênio Ricas, superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, diz que o barco navegava na região quando encontrou os migrantes. A Polícia Marítima foi então resgatá-los.
Ainda segundo Ricas, os quatro nigerianos saíram de Lagos com pouca comida e água. A situação teria ficado ainda mais difícil nos últimos três dias, quando os itens já haviam acabado. Ainda assim, os quatro foram encontrados em bom estado de saúde e sem machucados.
Por meio de nota, a Polícia Federal comunicou que a intenção original dos nigerianos era ir à Europa em busca de melhores condições de vida, mas acabaram chegando ao Brasil, já que o navio em que eles entraram de forma ilegal se dirigia para o porto de Santos.
“Ao chegar em solo capixaba, eles passaram por todo o processo de identificação com coleta biométrica e facial realizado pela Polícia Federal e, em seguida, foram levados para um hotel, em Vitória, para serem alimentados. Os custos foram bancados pela agência do navio.”
Até a tarde desta quarta-feira (12), os quatro imigrantes seguiam no hotel em Vitória. Ainda segundo o superintendente Eugênio Ricas, o armador do navio, responsável pela operação da embarcação, disse que faria o processo de repatriação dos imigrantes em até 25 dias.
Os nigerianos, no entanto, também podem pedir refúgio no Brasil. “O pedido de asilo político é livre, mas existem uma série de requisitos jurídicos que devem ser observados para a concessão”, afirmou Ricas.
A análise é feita pelo Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), órgão ligado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública. Para obter o refúgio, os imigrantes devem estar enquadrados em alguma das previsões legais, como serem perseguidos políticos ou estarem sofrendo risco de morte em razão de uma guerra. Enquanto fazem a solicitação, eles recebem documentos provisórios para ficar no país, e é comum que esperem anos por uma resposta final do Estado.
Até o litoral do Espírito Santo, o navio percorreu 7.800 quilômetros. De acordo com o chefe do Núcleo de Polícia Marítima da Polícia Federal, Rogério Lages, os imigrantes passaram por diversas situações de perigo. “Eles vieram muito apertados e até revezando quem vinha do lado de fora. É um espaço semelhante a uma caixa d’água de 2.000 litros.”
Além disso, segundo Lages, o local em que os nigerianos foram encontrados comumente fica submerso. “Pode ser que o comandante do navio diminua a linha d’água do navio e aquela parte fique totalmente submersa. Por sorte isso não aconteceu.”
Outro fator que dificultou a travessia dos imigrantes foi o frio. “Eles enfrentaram baixas temperaturas durante a noite. Os quatro foram encontrados com várias peças de roupas. Foi uma travessia muito penosa”. O navio de bandeira da Libéria já foi liberado e segue viagem rumo ao porto de Santos, em São Paulo.
Nigerianos são uma das principais nacionalidades que solicitam refúgio no Brasil. De acordo com dados oficiais de dezembro passado, ao menos 2.244 cidadãos do país entraram com pedidos de refúgio de 2013 a 2022.
A Nigéria teve eleições presidenciais neste ano que alçaram o governista Bola Tinubu ao poder. O pleito, histórico, foi marcado também por acusações de fraudes feitas pelos principais partidos oposicionistas, que questionam os resultados na Justiça. Enquanto isso, a população convive com altas taxas de desemprego, em especial entre os mais jovens, e um problema crônico de violência.
EDUARDO MAIA / Folhapress