SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O acúmulo de crises globais desde 2020 uma lista que inclui a pandemia de Covid, a Guerra da Ucrânia e a subsequente alta da inflação levou mais 165 milhões de pessoas à pobreza, todas elas habitantes de países de renda baixa a média, mostra um relatório do Pnud, o Programa da ONU pelo Desenvolvimento, divulgado nesta sexta-feira (14).
Os dados da agência indicam que mais de um quinto da população mundial ou cerca de 1,65 bilhão de pessoas hoje vive com menos de US$ 3,65 por dia (R$ 17,50). Destas, 75 milhões vivem em situação de extrema pobreza, isto é, com menos de US$ 2,15 por dia (R$ 10,30).
Outro relatório indicou que 25 países de baixa renda gastaram mais do que 20% de suas receitas para sanar dívidas externas no ano passado, uma porcentagem que pode aumentar caso as taxas de juros globais continuem a subir. Quase 30% da dívida pública global, ou cerca de US$ 92 trilhões (R$ 443 trilhões), pertence a países em desenvolvimento.
Para o chefe do Pnud, Achim Steiner, que caracterizou o aumento da pobreza global como “alarmante”, o peso das dívidas externas sobre a economia dessas nações se tornou “insustentável”. “O que isso significa é que um governo não consegue mais manter seus professores, contratar médicos e enfermeiros nos hospitais, oferecer remédios para centros de saúde na periferia”, afirmou ele.
Steiner sugeriu uma “pausa” para que esses países possam usar o dinheiro a princípio destinado a pagar suas dívidas externas para gastos sociais. Para a ONU, a iniciativa não está fora do alcance do sistema multilateral ela seria semelhante à Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI, na sigla em inglês), criada pelo G20 para auxiliar países mais pobres durante a crise sanitária da Covid.
Eliminar a pobreza até 2030 é uma das metas globais estabelecidas pela ONU. De acordo com os cálculos do Pnud, retirar as 165 milhões de pessoas levadas à pobreza nos últimos anos custaria US$ 14 bilhões (R$ 67 bilhões) por ano, o equivalente a 0,009% do PIB mundial em 2022. Ao considerar também a perda de renda daqueles que já viviam abaixo da linha da pobreza antes de 2020, esse custo seria de US$ 107 bilhões (R$ 514 bilhões), ou 0,065% do PIB.
Na semana passada, o secretário-geral da entidade, o português António Guterres, pediu mudanças urgentes no sistema financeiro global de modo a permitir uma distribuição de recursos mais igualitária. Ele disse que o modelo atual é “obsoleto” e “reflete as dinâmicas coloniais da época em que foi criado”.
Redação / Folhapress