Livro de partituras de Antonio Madureira traz riqueza do Armorial

FOLHAPRESS – Lançado em 1974, “Do Romance ao Galope Nordestino”, álbum de estreia do Quinteto Armorial, foi o ponto de intersecção do ideário de um movimento que, nascido na universidade, era liderado por Ariano Suassuna.

O álbum revelou um grupo de músicos jovens, talentosos e com formação diversificada: Antonio Nóbrega (violino e rabeca), Edilson Cabral (violão), Egildo Vieira (flauta e pífano), Fernando Torres (marimbau) e Antonio Madureira (viola nordestina), o principal compositor do quinteto.

Precedidas por textos bastante completos de Braulio Tavares e Francisco Andrade, com introdução de Ivan Vilela e um epílogo lúdico de Adelsin, as partituras de Madureira enfim começam a ser disponibilizadas. Acaba de sair “Antonio Madureira Armorial: Histórias e Partituras”, o primeiro dos três volumes previstos pelo projeto do Instituto Çarê.

As partituras são apresentadas em formato de grade orquestral (e não em partes individuais de cada instrumento), para a formação do quinteto e suas variações. A edição é bastante clara e cuidadosa, contendo todos os detalhes de afinação, dinâmica, articulação e andamento necessários para ganharem vida em novas performances.

Sete composições de Madureira, todas gravadas no álbum de estreia do Quinteto Armorial, constam da edição: “Excelência”, “Repente”, “Revoada”, “Romance da Bela Infanta”, “Romance de Minervina”, “Toada e Dobrado de Cavalhada” e “Toré”.

“Toada” é uma verdadeira apresentação do marimbau armorial como instrumento solista. Derivado do berimbau de lata, na versão tocada por Fernando Torres ele ganhou caixa de ressonância de madeira e uma corda extra.

Não é simples aceitar os severos limites autoimpostos pela estética armorial. Fruto do meio intelectual nordestino, especialmente do ambiente das Universidades Federais de Pernambuco e Campina Grande , na Paraíba, ela nasce “para unir as pontas extremas desse Brasil onde nada é completo sem o seu oposto”, nas palavras de Braulio Tavares.

A tensão do posicionamento do movimento armorial entre música de concerto (eles preferem usar o termo “erudita”, familiar no Brasil graças a Mário de Andrade) e popular é repleta de argumentos, nuances e desvios.

Não sendo manifestação espontânea da cultura popular, e por ser composta e grafada em partitura por músicos que frequentaram conservatórios e universidade (alguns integrantes do movimento foram alunos diretos de Suassuna em seus cursos de Estética na UFPE), essa música tem o formato típico do erudito.

Separa-se, porém, dos experimentos das vanguardas contemporâneas (a tentativa de aproximação com o minimalismo norte-americano parece bastante forçada), e também não se alinha com os nacionalismos musicais de Villa-Lobos e Guarnieri.

Ainda mais: uma componente ideológica no pensamento de Suassuna recusa, igualmente, qualquer vínculo com a música popular urbana. Mais próximos de José Ramos Tinhorão (que saudou o primeiro álbum do Quinteto) do que de Gilberto Gil, os armoriais buscaram um purismo capaz de se opor diametralmente mesmo a legados, como os de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro.

Como a literatura de Suassuna, a música armorial tem fortes raízes ibéricas. Recria -ou inventa- um medievalismo nordestino, propõe uma matriz simbólica de sabor arcaico. Para esse projeto, a utilização de modos (escalas musicais) como lídio, mixolídio e dórico, e instrumentos como a viola caipira, o pífano e o marimbau cumprem função decisiva.

Musicalmente, as composições de Madureira buscam a simplicidade construída de uma autenticidade inventada, um medievalismo simultaneamente mítico e sertanejo. Em suas palavras, “o nacionalismo usava elementos da cultura tradicional para a linguagem erudita, e o armorial trazia elementos da linguagem erudita para a cultura popular”.

São belas em si, independente das teorias que as precedem e sucedem. E, mais importante, agora estão à mão para que estudantes e professores de música as adicionem às suas práticas de grupo voltadas ao repertório brasileiro.

ANTONIO MADUREIRA ARMORIAL – HISTÓRIAS E PARTITURAS VOL. 1

Avaliação Ótimo

Preço R$ 80 (152 págs.)

Autoria Francisco Andrade

Editora Çarê Editora

SIDNEY MOLINA / Folhapress

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