Canastra (MG), dos queijos premiados, agora quer ser marca de café

Redação

Produtores de café de duas importantes regiões de Minas Gerais se uniram e criaram marcas próprias em busca de dar identidade para as suas lavouras com o objetivo de ganhar mercado.

Localizados no sudoeste do estado e na Canastra famosa pelos queijos artesanais, cafeicultores de 31 cidades querem, com os projetos, se posicionar no mercado, especialmente no de cafés especiais, mais caros e lucrativos.

No sudoeste mineiro, um recorte do sul do estado, 86 produtores de 21 municípios apostam no terroir próprio para se destacar em meio às inúmeras opções de mercado, ao oferecer um café marcado por notas de chocolate, caramelo, avelã e frutas (amarelas, vermelhas e secas).

Já na Canastra, 35 produtores de dez municípios têm em suas terras cafés com características como aroma de chocolate ao leite, mel, frutas (tropicais, cítricas e amarelas) e toques de castanha e limão-cravo.

“Temos dois biomas, de transição de cerrado, com declividade e montanhosa, e planalto. A elevação, que chamamos de cordilheira, tem altura privilegiada, que propicia uma maturação mais tardia, com teor de açúcar mais acelerado no fruto”, disse Fernando Barbosa, presidente da Associação dos Cafeicultores do Sudoeste de Minas, sediada na região de Guaxupé.

A “cordilheira” tem em média 1.200 m de altitude em relação ao nível do mar e não está presente em toda a região, composta por cidades como Passos, São Sebastião do Paraíso, Arceburgo, Guaxupé, Carmo do Rio Claro, Fortaleza de Minas, Monte Santo de Minas e Muzambinho.

No total, a região que abriga a Cooxupé –maior cooperativa de café do país– e uma série de empresas ligadas ao setor tem produção média anual de 2,6 milhões de sacas de 60 kg cada e 11.818 produtores rurais.

Só em Guaxupé há 600 propriedades rurais, com lavouras cultivadas em 8.500 hectares, 72% deles com café. Ou seja, há muito espaço para crescimento da marca, concluem os envolvidos no projeto.

É o que espera a produtora Suzana Santos Passos, de Muzambinho, que cultiva com os pais e irmãos uma área de 86 hectares (o equivalente a 120 campos de futebol) com café, na fazenda São Domingos, a 1.100 m de altitude.

“Café bom, especial, tem em todo lugar do mundo, mas o daqui é diferente de outros. Todos são especiais, mas cada um à sua maneira. É o que queremos que as pessoas conheçam”, disse. São produzidas na fazenda, em média, 3.000 sacas de 60 quilos por safra.

Após os lançamentos das duas marcas territoriais, elas passarão a ser incluídas de forma gradativa em embalagens de produtos já comercializados por cafeicultores e as associações seguirão na elaboração de planos de ação.

Os dois projetos são desenvolvidos em parceria com o Sebrae, que auxilia as associações no processo de criação da marca e no aperfeiçoamento de boas práticas agrícolas nas propriedades.

“Outros estudos serão feitos para ver quais outros municípios podem ter o mesmo terroir e agora os produtores se organizarão para buscar a indicação geográfica, também com outros parceiros além do Sebrae”, disse Lucilene Pessoni, analista técnica do Sebrae que atua no projeto do sudoeste mineiro.

O caminho para tornar o café mais conhecido inclui a ação conjunta de produtores em marcas coletivas e a busca de obter no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) a indicação de procedência ou denominação de origem de seus produtos.

A indicação de procedência se refere à região que se tornou conhecida como centro de fabricação do produto, enquanto a denominação de origem designa um produto cuja qualidade se deve ao meio em que está inserido.

Outras regiões de Minas Gerais já iniciaram essa busca nos últimos anos, como os produtores de café da região vulcânica (entorno de Poços de Caldas), do cerrado mineiro e do Vale do Jequitinhonha.

A Acanastra (Associação dos Cafeicultores da Canastra), formada por produtores de cidades como Capitólio, Delfinópolis, São Roque de Minas e São João Batista do Glória, deu entrada no pedido de registro de identidade geográfica em 2022, na modalidade denominação de origem.

Consultora do órgão, Claudia Leite disse que o grande foco no projeto do sudoeste não foi criar algo novo, e sim permitir o florescimento de características já existentes na região, como o microclima e o relevo.

“Isso tudo já existia. Muitos produtores tinham cafés excelentes e não sabiam disso”, afirmou.

Barbosa disse que o planejamento em desenvolvimento é focado em atividades num prazo de dez anos e busca, além da identidade, ter boa governança, alta qualidade e origem controlada.

O jornalista viajou a convite do Sebrae

MARCELO TOLEDO

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