Meninas são mais realistas que meninos em relação à forma física, aponta estudo

Imagem ilustrativa Foto: Pixabay / AndrzejRembowski

Redação

A percepção correta do próprio peso aumentou entre adolescentes nos últimos anos. Esse é o resultado de uma pesquisa realizada por meio de questionários com mais de 700 mil jovens com idades entre 14 e 19 anos.

Anouk Geraets, pesquisadora responsável pelo trabalho publicado na revista Child and Adolescent Obesity, diz que a percepção pessoal é importante na tomada de decisões saudáveis e, por isso, devemos acompanhá-la, sobretudo nos mais jovens.

Embora adolescentes de forma geral estejam mais realistas em relação próprio corpo nas últimas décadas, entre os meninos esta compreensão piorou. Enquanto as meninas tiveram melhora na percepção correta do peso, com queda na sobre avaliação, entre os rapazes começa a preponderar a crença de serem mais magros do que a realidade.

A especialista pontua que essa diferença é culpa dos diferentes padrões de imagem difundidos pelos veículos de mídia e propaganda. Enquanto se valoriza um corpo feminino magro, espera-se que os homens sejam mais musculosos. Adolescentes, que ainda estão em processo de autoconhecimento, são especialmente susceptíveis a essas influências, desenvolvendo ideias incorretas sobre o próprio físico.

Mais do que uma mera insatisfação, entretanto, o desconhecimento da própria massa corporal pode trazer prejuízos para a saúde mental e física. Quem subavalia o próprio peso pode deixar de buscar tratamento para o sobrepeso ou obesidade, acreditando que não possui o problema. Segundo o estudo feito em Luxemburgo, esse problema é três vezes mais prevalente em homens do que em mulheres.

Para chegar aos resultados, a pesquisadora analisou informações coletadas em intervalos de quatro anos entre 2002 e 2018. Adolescentes de mais de 40 países relataram o peso e a altura, além de responder a perguntas como “Você acha que seu corpo é?” por meio de respostas que variavam de “muito magro” à “muito gordo”.

Os pesquisadores analisaram os retornos à luz do IMC (índice de massa corporal) calculado para cada indivíduo, classicando-os entre aqueles que estimam corretamente sua massa corporal e os que sub-avaliam ou sobreavaliam esse indicador.

Geraets atribui as variações observadas no tempo a fatores como movimentos sociais que buscam a aceitação do próprio corpo, o afluxo de migrantes em busca de programas de intervenção no peso e, principalmente, mudanças nos padrões de beleza. Segundo a pesquisadora, nos últimos anos a figura feminina com um físico mais forte passou a ser mais valorizada.

Apesar do grande número de países incluídos no estudo, entretanto, falta abrangência mundial para os dados coletados. A maioria dos participantes eram adolescentes europeus e a pesquisa não inclui dados latinoamericanos.

No Brasil, uma pesquisa similar foi realizada por pesquisadores de Santa Catarina. Publicada este ano na revista científica Plos One, os pesquisadores revelam que a insatisfação com os próprios corpos aumentou na população de 14 a 18 anos.

Segundo os dados apurados entre mais de mil alunos da rede municipal de Florianópolis, o percentual de insatisfeitos passou de 65% a 71%. Os autores do estudo apontam que a tendência brasileira vai na contramão do que acontece em países na Europa.

Outro trabalho, realizado a partir de uma meta-análise de 150 estudos científicos, mostra que a obesidade entre jovens de 10 a 19 anos tem crescido no Brasil. Entre as décadas de 2000 e 2010, a porcentagem de adolescentes acima do peso ideal passou de 4% para 26%. O problema afeta as regiões do país de forma diferente, sendo prevalente, sobretudo, no sudeste e sul.

Maria Rita Marques de Oliveira, nutricionista e professora da Unesp (Universidade Estadual Paulista), afirma que a obesidade nessa faixa etária pode ser ainda mais prejudicial.

“Estamos vendo um incidência cada vez mais precoce de diabetes e hipertensão em adolescentes associadas à obesidade”, diz. Além disso, a probabilidade desse jovem se tornar um adulto com excesso de peso também aumenta. Por outro lado, acreditar que possui mais gordura do que a realidade pode provocar transtornos alimentares, como anorexia e bulimia.

Para os pais, fica a tarefa de ter uma conversa honesta com os filhos o mais rápido possível, segundo Mariana Bollini e Silva, pesquisadora e doutoranda da Unesp. A recomendação é buscar um profissional de saúde capacitado para orientar o tratamento, se necessário. Além disso, a especialista ressalta a necessidade de acolher esses jovens, sem deixar de lado o contexto psíquico e social.

“A adolescência, período de intensas transformações físicas e psicológicas, é um período oportuno para o tratamento e prevenção da obesidade”, diz.

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