Palestina detém membros do Jihad Islâmico após Israel criticar inação ante ataques

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A organização armada Jihad Islâmico afirmou que cinco de seus membros foram presos pela Autoridade Palestina durante a noite deste domingo (16). As detenções elevam para dez o número total de militantes do grupo capturados pelo órgão -concebido como um governo de transição até o estabelecimento de um Estado palestino na área- desde que Israel realizou uma incursão à Cisjordânia ocupada, há duas semanas. O ataque foi o maior realizado por Tel Aviv em quase 20 anos.

As prisões acontecem no momento em que a Autoridade Palestina enfrenta críticas internas e pressão crescente por parte de Israel, que pede medidas mais duras contra grupos de militantes palestinos. O Jihad Islâmico é classificado de terrorista não só pelos israelenses, mas também pela União Europeia e por países como os Estados Unidos.

O estopim da tensão foi uma incursão do Exército israelense ao campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, no começo do mês. A operação resultou na morte de 12 palestinos e de um soldado israelense, deixou cerca de cem feridos e se desdobrou em confrontos na Faixa de Gaza e num ataque terrorista do grupo islâmico radical Hamas em Tel Aviv.

A área e os 18 mil refugiados que ela abriga estão no centro de uma escalada de violência na região, onde 221 pessoas já foram mortas desde o começo do ano –192 delas palestinas, de acordo com um levantamento da agência de notícias AFP.

Após o fim da operação israelense, a Autoridade Palestina foi alvo de manifestações por parte dos habitantes do campo. Parte deles considera o autogoverno fraco e o acusa de não fazer o bastante para deter as ofensivas de Israel.

Na ocasião, vídeos mostraram centenas de manifestantes lançando pedras contra o muro de cinco metros de altura que cerca a sede local da autoridade em Jenin. No mesmo dia, três membros da administração foram expulsos, aos gritos, pela multidão que participava do funeral de dez dos mortos. Pesquisas indicam que cerca de 80% dos palestinos são a favor da renúncia de Mahmoud Abbas, 87, que lidera o órgão atualmente.

Nesta segunda (17), o porta-voz do Jihad Islâmico, Daoud Shehab, afirmou que seu grupo está negociando a libertação dos presos com pessoas que descreveu como “racionais” do Fatah, o movimento liderado por Abbas.

Enquanto isso, a Autoridade Palestina sofre ataques constantes por parte de Israel, que acusa a organização de ser incapaz de controlar as facções armadas de seus territórios. O governo temporário argumenta dizendo que Tel Aviv mina sua autoridade a todo tempo, o que os impossibilita de agir e criar a base para um futuro Estado Palestino na Cisjordânia.

Enquanto isso, Israel lida com uma reação popular massiva a uma reforma judicial proposta pela coalizão que governa o país, a mais direita de sua história. A mudança é apontada por opositores e especialistas como um instrumento que, ao enfraquecer o Judiciário, colocaria em risco a democracia da nação.

Também nesta segunda-feira (17), véspera de mais uma grande manifestação marcada pelos opositores da medida, o presidente dos EUA, Joe Biden, enfim convidou o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, para uma visita oficial aos EUA -a primeira desde que o israelense voltou ao poder no ano passado. O aceno é simbólico porque a maioria dos primeiros-ministros israelenses já havia recebido um convite para ir à Casa Branca a essa altura de seus respectivos mandatos.

De acordo com o gabinete do premiê israelense, os dois líderes compartilharam uma “longa e calorosa” conversa, na qual abordaram as ameaças do Irã e o fortalecimento das relações entre os dois países. Segundo o comunicado, Netanyahu não deixou de lado a reforma judicial, afirmando a Biden na ligação que tentaria formar um “amplo consenso público” acerca da legislação.

Aliado de longa data dos EUA, Israel tem sofrido críticas de Washington e de outras potências ocidentais em razão de sua insistência em expandir os assentamentos na Cisjordânia num momento de tensão crescente na região. No começo do ano, as chancelarias de Alemanha, França, EUA, Itália e Reino Unido emitiram um comunicado conjunto para argumentar que a crise entre israelenses e palestinos seria exacerbada pela medida.

Redação / Folhapress

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