Mulher que imitou macaco falta a depoimento, mas é indiciada, diz delegada

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A Polícia Civil de São Paulo indiciou na tarde desta segunda-feira (17) Thaís Pinheiro Andrade Nakamura, 40, sob a suspeita de injúria racial ocorrida e filmada no sábado (8) em um restaurante do shopping Open Mall The Square, na Granja Viana, bairro de classe alta em Cotia, na Grande São Paulo.

Thais faltou ao depoimento nesta segunda. Mesmo notificada por seu advogado para depor às 14h no 2º DP de Cotia, Nakamura não compareceu à delegacia por estar “sem condições emocionais de comparecer”, segudo afirmou seu defensor à delegada do caso, Mônica Gamboa.

Apesar da ausência, a delegada indiciou a mulher por injúria racial. “Ela tem a prerrogativa de não aparecer”, afirmou a delegada à reportagem.

“Ele [advogado] juntou uma petição sobre essa ausência dela e eu fiz um indiciamento indireto. Ela está indiciada no artigo 2º da Lei 7.716 de 1989”, afirmou a delegada.

A delegada indiciou Nakamura com base nos vídeos capturados no momento das ofensas. “Também [me baseei] no depoimento das testemunhas, depoimento das vítimas, no consumo excessivo de álcool e pelo trabalho investigativo”, afirma Gamboa.

ALCOOLISMO E DEPRESSÃO

“O advogado alega que ela tem problemas de alcoolismo e depressão”, diz a delegada. Ela aguarda o envio de um laudo psiquiátrico para juntar à investigação.

Inquérito deverá ser concluído em cerca de um mês. “A gente vai ouvir esses médicos para saber a veracidade desse documento, e depois o inquerito será relatado e encaminhado ao Ministério Público”, diz a delegada. “Aí entregamos ao MP [Ministério Público], e o promotor tem de 5 a 15 dias para oferecer denúncia.”

Pena pode chegar a cinco anos de prisão. A delegada diz que avalia a necessidade de prisão preventiva. Se a indicada for condenada pela Justiça ao final do processo, “a pena será de 2 a 5 anos por crime de injúria racial”, afirma Gamboa.

Nakamura não tem antecedente criminal. Ela também está com as redes sociais desativadas, o que impediu a delegada de saber até sua qualificação profissional. “O advogado apenas entregou o documento dizendo que ela não viria”, afirma.

RELEMBRE O CASO

Nakamura, que é branca, foi flagrada por câmeras de seguranças de um restaurante. Ela apontava para duas irmãs e uma amiga negras e imitava um macaco.

A mulher se aproximou do grupo em tom de deboche e disse que elas eram “lindas e corajosas”, segundo as vítimas. Depois, Thais Nakamura teria perguntado ao marido de uma delas, que é branco, “por que estava entre as negras”, em momento não captado pelas câmeras.

“A agressora precisa sofrer esse processo-crime e um dos maiores prejuízos que as pessoas precisam sentir, que é no bolso”, declarou José Luiz de Oliveira Júnior, advogado das mulheres negras.

MULHER FOI IDENTIFICADA APÓS PERÍCIA

A polícia chegou à identificação da mulher por meio do trabalho da perícia. “Tivemos que fazer uma edição com a aproximação de imagem e mandamos para a perícia. Ela foi identificada com o reconhecimento facial. A perícia nos mandou as imagens e chegamos à mulher”, disse a delegada na sexta-feira (14).

As testemunhas relataram à polícia que o marido da mulher indiciada é um homem de origem japonesa de sobrenome Nakammura, o que ajudou a polícia a identificar a mulher de mesmo sobrenome.

O QUE DIZEM AS VÍTIMAS

À policia uma das vítimas disse que convidou as irmãs e uma amiga no dia 8 de julho para assistirem a um show no shopping de Cotia porque “estavam tristes” com a recente morte do pai.

Durante o depoimento, a vítima disse que Nakamura perguntou ao namorado dela o que ele fazia no “meio de negros”. Ele pediu, então, que a mulher branca repetisse na frente da namorada o que acabara de dizer. Ela teria se negado.

A vítima disse que percebeu que Nakamura a chamou de macaco ao voltar do banheiro e passar perto dela. “Parei, olhei para atrás e perguntei se realmente ela estava incomodada, e ela gesticulou que sim e disse ‘É isso mesmo'”.

Ao voltar para a mesa e relatar aos familiares e amigos o que aconteceu, a mulher afirma que todos olharam para a mulher branca, que voltou a gesticular, imitando um macaco.

“Neste momento, peguei meu celular e fui até ela perguntando e gravando se ela estava incomodada e xingando-a de ‘ridícula’ enquanto o garçom tentava me segurar e minha amiga gritava ‘racista'”, afirmou.

“Senti uma mão no meu ombro e vi que era uma moça branca e loira me falando ‘vocês são lindas e corajosas de estarem aqui’. Até então, entendi como um elogio e agradeci. Depois disso comentei com minha amiga o que a moça branca havia falado e minha amiga me afirmou que a moça era racista e estava falando com ironia”, contou uma das vítimas.

Irritada após o ato racista, a vítima disse que se dirigiu até a mulher branca e a chamou de “linda”. A mulher teria, então, tentado agredir a vítima, que disse em depoimento que a agrediu com um tapa “para se defender”.

A amiga das vítimas que presenciou os fatos disse que tentou gravar a mulher branca imitando um macaco, mas não conseguiu. O companheiro da que imitou macaco chegou a se desculpar pelo ato racista, segundo o marido de uma das vítimas.

WANDERLEY PREITE SOBRINHO E FABÍOLA PEREZ / Folhapress

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