Fóssil retrata ataque de pequeno mamífero a dinossauro com o triplo do tamanho

SÃO CARLOS, SP (FOLHAPRESS) – Fósseis inusitados descobertos na China retratam uma luta até a morte entre um dinossauro e um pequeno mamífero que ocorreu 125 milhões de anos atrás. Ao contrário do que provavelmente era a regra naquela época, porém, o agressor era o mamífero de pequeno porte, que se lançou contra uma presa que tinha quase o triplo de seu tamanho.

Os atores desse drama são, de um lado, o Psittacosaurus lujiatunensis, dino herbívoro que tinha um bico semelhante ao de um papagaio e pesava cerca de 10 kg ao morrer; e, de outro, o Repenomamus robustus, parente distante dos mamíferos atuais, de apenas 3,5 kg.

Detalhes sobre o achado acabam de sair na revista especializada Scientific Reports, em estudo assinado por pesquisadores chineses e canadenses. A equipe encontrou o esqueleto quase completo dos membros das duas espécies numa posição peculiar, que sugere que eles ainda estavam engalfinhados no momento em que foram mortos por uma erupção vulcânica.

Para ser exato, o corpo do mamífero estava em cima do lado esquerdo do dinossauro, e seus dentes estavam fincados nas costelas da vítima. A pata da frente esquerda do Repenomamus está agarrando a mandíbula do Psittacosaurus, enquanto uma das patas traseiras do pequeno predador segura a canela da vítima.

“É evidente que a vítima já tinha desabado de barriga no chão —talvez por causa da perda de sangue, da exaustão ou do choque do ataque—, e o mamífero tinha começado a devorá-la, uma vez que estava mordendo suas costelas”, explica o coordenador do estudo, Jordan Mallon, ligado ao Museu Canadense da Natureza e à Universidade Carleton, em Ottawa.

Uma outra possibilidade é que o Repenomamus estivesse atuando como carniceiro, comendo o cadáver algum tempo após a morte, mas Mallon e seus colegas acham que esse cenário é bem menos provável porque não há marcas de mordida nos ossos do pequeno dino, como costuma acontecer nesses casos. O paleontólogo aponta que a outra pata traseira do mamífero está presa pela pata dobrada de sua presa. “Assim, é possível que isso explique porque ele não conseguiu escapar da avalanche de lama vulcânica” que preservou os dois, diz ele.

A região em que os fósseis foram achados, nas vizinhanças do vilarejo de Lujiatun, na província de Liaoning (nordeste da China), é famosa pela preservação excepcional de espécies da Era dos Dinossauros, justamente graças ao rápido soterramento dos corpos propiciado pelos eventos vulcânicos.

Pode-se dizer que o Repenomamus é reincidente. Em 2005, paleontólogos revelaram um fóssil de R. robustus cujo conteúdo estomacal estava preservado —e, na pança do bicho, estavam os restos de um Psittacosaurus recém-nascido. Era o primeiro indício direto de que mamíferos do período Cretáceo eram capazes de caçar dinossauros. Desta vez, porém, a situação é ainda mais dramática, já que o dino predado já era adulto, enquanto o mamífero ainda não tinha alcançado a maturidade, a julgar pelo desenvolvimento de seus ossos.

“Não acho que seja coincidência que o Repenomamus esteja presente nesses dois casos”, diz Mallon. “Ele é um dos maiores mamíferos da época dos dinossauros, e era carnívoro. Além disso, ele é específico da região de Lujiatun, onde o estado de preservação dos fósseis é impressionante. Poucas outras espécies de mamíferos fósseis e regiões do mundo reúnem todas essas condições.”

Vagamente semelhante a um gambá de grande porte, o Repenomamus pertencia a um grupo de mamíferos primitivos com estilos de vida bastante variados, incluindo até animais planadores e semiaquáticos. É possível que botasse ovos, como os ornitorrincos, ou desse à luz filhotes muito pouco desenvolvidos e minúsculos, a exemplo dos cangurus e outros marsupiais de hoje.

REINALDO JOSÉ LOPES / Folhapress

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